twelve

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ANY GABRIELLY

- Alô? - ouço a voz de Josh assim que ele atende e respiro fundo.

- Oi. - digo e ele fica em silêncio. - É a Any. Any Gabrielly.

- Sei disso. - falou rouco. - Nunca vou esquecer sua voz.

Fechei os olhos e me deitei.

- Podemos nos encontrar?

- Ahn... hoje?

- De preferência, mas se não puder, tudo bem. - digo e mordo o lábio.

- Posso, claro. - respondeu. - Posso ir te pegar aí que horas?

- Ah, eu acho melhor nos encontrarmos no local mesmo... As 16:30.

- Tudo bem. - falou e ficamos em silêncio novamente.

- Como você tá? - sussurro.

Por que perguntou isso, Gabrielly? Ele vai achar que você se importa. O que é verdade...

- Eu tô bem, e você? - a voz dele sai como um sussurro também.

- Também.

Ficamos em silêncio novamente, um escutando a respiração do outro.

- Eu sinto saudades de você. - falou e meu coração errou uma batida.

Suspirei.

- Ahn, nos vemos lá. - digo e escuto ele respirar fundo.

- Sim, até!

- Até. - respondo mas não desligo o telefone, e ele também não.

- Eu t... . - sussurrou mas desliguei o telefone.

Não queria escutar aquilo. Não queria dizer que sinto o mesmo. Não queria.

[...]

Chego na lanchonete onde marquei de nos encontrarmos e o procuro com o olhar antes mesmo de entrar no estabelecimento. O encontro brincando com os dedos, em uma mesa afastada das outras.

Eu estava tão nervosa.

Não sabia se realmente queria saber o porquê de tudo aquilo. Não tinha certeza de que queria encarar ele e conversar.

Eu não queria. Mas eu precisava.

Respiro fundo e entro, indo direto para a mesa onde ele estava e me sentando em sua frente, sem olhá-lo.

- Oi. - falou e eu senti o olhar dele sobre mim. - Sobre mais cedo no telefone, eu...

Olho para ele e me deparo com aqueles par de olhos azuis me olhando com toda a atenção.

- Não vim falar disso. - digo seca. - Você mandou aquela carta... onde dizia que meu pai foi o principal motivo. - falo. - O que ele fez?

- Seu pai nunca gostou de mim, Any. - começou e deu uma risada sem humor. - Se dependesse dele nós nem teríamos começado a namorar. No dia que te pedi em casamento, ele me puxou para um canto com a desculpa de "papo de pai para genro". Ele só queria falar que eu não era o cara certo pra você. Ele me falou isso tantas vezes que eu comecei a achar que era real, que você merecia alguém melhor. - disse e eu prestei toda a atenção do mundo. - No dia do casamento ele falou a mesma coisa, disse que eu não conseguiria te fazer feliz, que dois meses depois o casamento iria desgastar e nós pediriamos divórcio. Ele chegou a me oferecer dinheiro para que eu não casasse com você.

- Espera... - sussurro. - Você me deixou por dinheiro?

- Não, tá louca?! - falou. - Só disse que ele ofereceu, não que eu aceitei. Eu não queria deixar você, Any. - completou. - Mas na hora que o padre perguntou eu só pensei que estava estragando sua vida fazendo aquilo.

- Você nem se quer pensou que me machucaria fazendo aquilo? Me deixando lá? - digo o analisando.

- Eu...

- Caralho, eu me senti tão insuficiente! - o interrompo. - Fiquei me perguntando esse tempo todo o que eu fiz pra merecer aquilo, o que eu fiz pra você...

- Any, eu...

- Agora eu descubro que nada. Não te fiz nada. Você só não pensou em mim mesmo.

- Claro que eu pensei, por isso fiz aquilo. Eu sei que foi horrível e...

- Não, Joshua, você não sabe! Você não ficou lá, chorando em frente a porra daquela igreja enquanto todos te olhavam com pena. Você não se sentiu insuficiente por isso, você...

- Me senti! Você não sabe como me senti. - disse e tentou pegar minha mão, mas as tirei. - Gaby, você não está entendendo. - suspirou. - Eu não queria fazer aquilo, porra, o meu sonho é me casar com você. Eu diria sim um milhão de vezes no altar pra você. Mas não falei, e eu sei que tenho uma parcela de culpa, mas se o seu pai não ficasse enchendo a minha cabeça, estaríamos casados agora, sendo felizes.

- Se você tivesse dito sim. Se você não tivesse escutado o meu pai. Se você tivesse pensado o quanto eu queria aquilo, o quanto eu queria casar com você e ter uma família com você. Se você realmente me amasse. - digo amarga e me levanto. - Mas não, você não fez nada disso. - completo e saio do local, soltando o ar que nem sabia que estava prendendo. Respiro fundo e tento não deixar a lágrima cair.

- Any... - escuto e sinto ele puxar meu braço. - Me perdoa, eu...

- Quem sou eu pra perdoar alguém? - pergunto me virando para ele. - Obrigado por pelo menos ter falado o que aconteceu.

- Eu só...

- Eu realmente não quero saber. - digo e respiro fundo. - Você já me falou o que eu queria. Tenho que ir embora agora. - completo e solto meu braço da mão dele, me virando novamente.

- Espera um pouco. - disse e me virou de novo, se aproximando de mim. - Fica um tempo mais, vamos conversar, ou sei lá...

- Já conversamos, Joshua. - falo. - Eu realmente tenho que ir.

- Tudo bem. - falou e soltou meu braço. - Eu te amo. - disse assim que me virei de costas.

Paralisei no lugar quando escutei.

- Era tudo o que eu queria escutar, Josh... - sussurro e viro para ele novamente. - Mas naquele dia, quando te perguntei e você ficou quieto. - completo e ele abre a boca para falar algo, mas logo fecha.

Olho para ele uma última vez e saio dali.

Eu também te amo. E me sinto uma idiota por isso.

**

𝑳𝒆𝒕𝒕𝒆𝒓𝒔 𖤓 𝑩𝒆𝒂𝒖𝒂𝒏𝒚 ✓Onde histórias criam vida. Descubra agora