— Não foi falta de aviso.— Vanessa disse cruzando os braços.
— É sério?— Rebati revirando os olhos.
Vanessa bufou e se sentou ao meu lado, me abraçando de uma maneira desajeita. Se eu achava que alguns dias atrás estava no meu pior momento, acabei de perceber que na verdade, apenas estava terrivelmente enganada.
— É culpa minha, não é?
— Sim.
Assenti e escorei a cabeça no balcão. Normalmente trabalhar com o café vazio não me deixa muito feliz, mas agora estou sinceramente agradecendo à Deus. Precisar chorar na frente de desconhecidos iria tornar a situação ainda mais humilhante nesse momento.
— Por que você fugiu dele desse jeito? Quando estava na cara que realmente gostava dele?
— Porque eu fui burra — admiti frustrada.
— Não posso discordar — concordou. — Mas agora não adianta mais, já aconteceu de qualquer jeito. Então não fique chorando assim.
— O que você acha que eu posso fazer agora?
— Quando eu fico muito triste, geralmente gosto de beber até esquecer dos meus problemas, mas do jeito que você está é uma péssima ideia. — Vanessa aconselhou. — Você vai acabar ligando para ele e chorando, acredite em mim é bem vergonhoso.
Engoli em seco e levantei a minha cabeça, observando o teto, esperando ter alguma ideia magicamente. Vanessa está certa, já ouvi várias histórias de pessoas que passaram muita vergonha depois de ligarem para ex-namorados enquanto estavam bêbadas.
— Toma — disse colocando um pedaço de torta de chocolate sobre o balcão. — Relaxa que eu paguei, não sou mais do tipo que furta doces do trabalho — assegurou sorrindo.
— Obrigada.
Peguei a colher e mordi um pedaço da torta, não sei se estava realmente com muita fome, ou se o estado em que me encontro foi o responsável por deixá-la tão gostosa assim, mas por algum motivo me deu vontade de chorar. Então preferi segurar as lágrimas para não ficar uma cena tão ridícula.
— Eu sou um fracasso em relacionamentos — conclui antes de morder mais um pedaço de torta.
Vanessa revirou os olhos e voltou a prestar atenção no que estava fazendo antes. Suspirei e terminei de comer a minha torta, pensando em como havia chegado no fundo do poço.
Passei o dia inteiro pensativa, tanto é, que fui praticamente expulsa do caixa por Vanessa, já que segundo ela eu estava fazendo confusão, o que é verdade.
— Eu deveria ficar bêbada?— Indaguei.
— Quer se humilhar ainda mais? Esquece isso, agora que vocês terminaram, a sua única opção é seguir em frente, você não gostava daquele menino o Pedro?
Franzi a testa confusa. Olhando para o meu atual cenário, nem sei mesmo se realmente gostei dele algum dia, e não iria conseguir superar um relacionamento tão rápido assim, pelo menos não em menos de vinte quatros horas após ele terminar.
— Que cara é essa?— Carol perguntou adentrando o café com algumas sacolas. — Alguém morreu?
— O namoro da Anajú morreu, eles terminaram.
Carol arregalou os olhos e caminhou até a minha direção, achei que ela iria me abraçar ou algo parecido mas na verdade desferiu alguns tapas no meu ombro direito.
— Por que fez isso?— Indaguei em choque.
— Você não falou com ele! Eu te avisei que isso iria acontecer.
Como os meus argumentos haviam se esgotado, percebi que a melhor saída iria ser ficar em completo silêncio. Agora como castigo vou ter que aturar algumas ironias sobre o meu relacionamento fracassado, e sobre como a culpa disso é totalmente minha, como se essa informação não estivesse praticamente escrita na minha testa.
— Não entendo você. Olha pelo meu ponto de vista — sugeriu Vanessa. — O cara é lindo e provavelmente rico, não que isso importe tanto mas é uma grande vantagem. Eu acabo passando as minhas noites deprimentes com o Rafael e você fez uma burrada gigante!
— Pelo amor de Deus, eu já sei disso!— exclamei suspirando fundo e reprimindo a minha vontade de desaparecer da face da terra. — Eu nunca estive em um relacionamento sério e fui apaixonada por Pedro durante muito tempo. Não mereço um desconto?
— Não merece — afirmou Carol acabando com as minhas esperanças. — E se eu fosse você ficava esperta, imagina se Pedro Muniz é o cliente que passa pela porta nesse segundo?
Arregalei os olhos somente em imaginar essa possibilidade assustadora. Carol murmurou mais alguns xingamentos, e depois iniciou uma conversa deprimente sobre como eu deveria seguir em frente. Sei que talvez fosse melhor do que ter que ouvir sobre o como fui uma tonta, mas a conversa motivacional só me fez querer chorar.
Passei as próximas horas do meu dia com uma feição assustadoramente péssima. Provavelmente espantei vários clientes, agradeço a Deus pelo meu chefe não aparecer aqui nunca. Apesar dos conselhos de Vanessa sobre como eu não deveria me embebedar e que iria acabar ligando para ele, estava no fundo tentando tomar coragem para encher a cara e fazer uma ligação chorando tudo o que fiz de errado, mas não vou conseguir passar uma vergonha imensa tão cedo.
— Desculpa se fui um pouco mal educada — pediu Carol se sentando ao meu lado. — Acho que não pensei muito no que deveria dizer.
— Não é como se estivesse errada de qualquer maneira — sorri um pouco incomodada. — É difícil para mim. Sinto como se fosse totalmente culpada, sabe? Talvez eu seja, mas ter a consciência disso me irrita muito.
— Se culpar tanto não vai resolver o problema. Bem, você não namorava sozinha, então ele também pode ter uma parcela de culpa. Mas pelo o que eu vi, acho que tentou resolver mas você não abriu espaço para isso.
Respirei fundo e assenti. Enquanto Bruce tentou pelo menos uma vez salvar tudo, eu praticamente desapareci e fingi que a situação não me envolvia. Mas acho que agora não adianta mais perceber tudo isso, deveria ter chegado a essa conclusão antes de terminar algo que mal começou dessa maneira.
— Não fique tão chateada, tudo bem? Você vai chorar um pouco, ou muito, mas vai passar. Muitas vezes relacionamentos acabam mais cedo do que gostaríamos.
— Eu sei. Mas preferia que esse fim fosse adiado pelo menos por algumas semanas.
Carol assentiu e me abraçou. Certamente, é necessário sofrer com tudo isso mais um pouco, afinal não é como se eu pudesse resolver algo.
Pelo menos não nessas condições.
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Aromas e Cores ✓
Teen FictionAna Júlia Lessa ou simplesmente Anajú (como gosta de ser chamada), trabalha em uma cafeteria na cidade de Campo Florido em Minas Gerais. Acostumada com a sua rotina monótona, após o fim do ensino médio, Anajú não espera muita coisa da vida. Mesmo co...