10.1- Torta de limão

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— Você sabe que está parecendo uma maluca né?— Carol alertou.

Entendo porque ela disse isso, eu estou trancada no meu quarto fazendo provavelmente a maior falta de educação com os convidados dos meus pais, mas infelizmente não posso evitar.

— Sei disso, eles não poderiam passar a Páscoa em outro lugar não?— indaguei, com a voz provavelmente um pouco abafada já que estou escondendo o rosto no meu travesseiro.

— Não entendo você, para quem tem uma queda pelo vizinho, está querendo ficar longe dele até demais.

— Isso não é verdade! Só não quero passar vergonha hoje.

— Ana Júlia sai logo dessa cama! E vai lá passar a Páscoa com a sua família, para de ser tão idiota!— Carol ordenou. Bufei e me levantei vagarosamente da cama.

Realmente estou agindo de uma maneira inadequada, acho que será melhor levantar da cama voltar para sala e agir como se alguns minutos atrás eu não dissesse que precisava subir por um instante, omitindo a parte na qual eu não pretendia voltar.

— Vai se ferrar — praguejei.

— Também te amo Anajú.

Caminhei em direção à porta e sai do meu quarto seguida de Carol. Respirei fundo e desci as escadas torcendo para não tropeçar, o que poderia muito bem acontecer, e caso aconteça eu provavelmente estarei vivendo uma comédia romântica genérica.

— Anajú está tudo bem? Você sumiu já faz um bom tempo. — meu pai constatou enquanto caminhava na minha direção.

Ótimo, agora ele alertou para todo mundo do meu sumiço repentino, provavelmente deveria ter continuado no meu quarto passando por alguma espécie de negação.

— Eu estou bem, estava ajudando Carol com um trabalho — contei a primeira desculpa que veio na minha mente, espero que ele acredite, até porque, Carol não é muito de pedir ajuda para trabalhos escolares.

— Que bom! Achei que não gostasse mais da Páscoa.

Meu pai sorriu, como se um enorme peso fosse tirado de suas costas e voltou para sala de estar.

— Boa desculpa.— Carol comentou em um tom sarcástico, e também caminhou em direção a sala de estar, revirei os olhos e fiz o mesmo caminho.

— Fico muito feliz com a presença de vocês, sabem que podem contar com a nossa família para o que precisarem, certo?— Mamãe perguntou para a família de Pedro enquanto servia à mesa.

— Muito obrigada, por tudo.— A senhora Muniz agradeceu.

Me sentei ao lado de Carol em silêncio, Pedro esta sentado em frente à mim e Laila em frente à Carol.

— Ana Júlia querida, será que você poderia buscar a torta de limão?— Indagou minha mãe e sorriu gentilmente, assenti com a cabeça, me levantando indo em direção à cozinha. Abri a geladeira e peguei a torta que inclusive está com uma cara ótima, mal posso esperar para comer até não aguentar mais.

— Achei que não estava muito no clima de comemorar a Páscoa.— A voz de Pedro Muniz me tirou dos meus pensamentos.

Me virei e o encarei escorado no canto da pia com uma expressão séria.

— Também achei que não estava — concordei e coloquei a torta em cima da pia, logo depois cruzei os braços, Pedro Muniz caminhou lentamente na minha direção.

— Eu comprei chocolates pra você — contou Pedro me entregou uma caixa de bombons.

Vale ressaltar que são os meus bombons preferidos.

— Obrigada, eu não sabia que vocês iriam vir, se não eu teria comprado alguma coisa.

— Não precisa se preocupar com isso Ana Júlia.— Pedro assegurou e esboçou um sorriso, parecia um pouco mais contido do que nunca.

Sorri um pouco envergonhada, não sabia muito bem como agradecer ou agir. Pedro Muniz deu mais alguns passos ficando bem próximo de mim.

Meu coração provavelmente vai sair pela boca em alguns segundos.

Ele esta se aproximando para me beijar? Ele não faria isso, certo? Por que ele me beijaria? Ele nem ao menos nunca deu um sinal!

Deixei todas as minhas perguntas de lado quando Pedro Muniz se inclinou para me beijar, não sei o porque mas dei um passo para trás em reflexo, esse que acabei me arrependendo instantaneamente.

Nossos pais estão esperando, acho melhor irmos pra mesa.

Pedro Muniz passou a mão pelos seus cabelos e assentiu com a cabeça. Sorri sem graça e caminhei para a saída.

O que acabou de acontecer? O garoto que eu tenho uma queda a mais de um ano tentou me beijar e eu simplesmente desviei!

— Ana Júlia.— Pedro me chamou, virei na esperança dele correr atrás de mim e me beijar assim como nos filmes, mas não aconteceu.

Obviamente, já que no momento em que os lábios deles iriam se encostar com os meus simplesmente me esquivei.

— Você esqueceu da torta, eu até levaria para você mas vim pegar o macarrão.

— A torta claro!— exclamei, peguei a torta na pia e andei o mais rápido possível para a sala de estar, acho melhor eu não prolongar ainda mais esse momento tão constrangedor.

Quase ajoelhei e agradeci a todas as entidades possíveis quando finalmente me sentei ao redor da mesa já com a torta em seu devido lugar. Pedro apareceu alguns segundos depois com o macarrão. Não sei ao certo quantos pedaços de torta eu comi, mas sei que foram muitos, levando em consideração que quando estou nervosa por algum motivo eu como até não aguentar mais, então devo ter comido no mínimo quatro pedaços de torta.

Espero não levar um sermão pela minha falta de educação, acho que hoje consegui bater o recorde por algum tempo.

O jantar está extremamente silencioso, pelo menos para mim já que meus pais e os pais de Pedro não param de falar por um segundo sequer. Eu e Carol trocamos algumas palavras às vezes, mas Pedro não falou nada desde o ocorrido na cozinha.

Talvez porque você deu um fora nele sua tapada!

Eu havia me esquivado de um provável beijo de Pedro Muniz, isso não faz o menor sentido! Ainda não acredito que eu fiz algo assim, e prefiro não acreditar, acho melhor pensar que ele não tentou me beijar,  só queria tirar alguma coisa do meu rosto.

Ele havia mesmo tentando me beijar.

Ah droga! Se eu pudesse voltar quinze minutos no tempo. Inegavelmente, teria me jogado nos braços de Pedro Muniz e deixado essa torta de limão para lá mas se bem que ela está tão gostosa.

Você está estranha.— Carol sussurrou com uma expressão preocupada, normalmente eu sempre converso muito nos jantares de família.

Preciso contar tudo para ela mais tarde.

Depois eu explico.— Sussurrei de volta.

Encarei Pedro Muniz discretamente por alguns segundos, na verdade, não fui tão discreta assim até porque ele devolveu o olhar, desviei rapidamente para ele não perceber mesmo já sendo tarde demais.

Acho que vou precisar de mais alguns pedaços de torta de limão para manter a minha sanidade até o final do dia.

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