9.2- Suco de laranja

289 35 15
                                    

Pedro Muniz me encarava como se esperasse por algo realmente importante, parecia prestar atenção em absolutamente cada ação minha.

— Oi! Eu... — comecei a falar mas desisti, estava um pouco perdida em meus próprios pensamentos.

— Você?

Sorri sem graça e me levantei meio desengonçada (ou seja quase cai no chão). Pedro Muniz me olhou curioso e sentou onde eu estava. Certo, às vezes acabo me perguntando quais são os motivos de terminar em situações em que obviamente, eu não faço a menor ideia de como agir.

Observei Pedro Muniz por alguns instantes, os cabelos pretos na altura dos ombros, os olhos castanhos, a barba que começava a crescer e um leve bronzeado. Ele realmente é alguém que eu poderia me apaixonar facilmente.

— Eu vim entregar alguns chocolates para a sua irmã, mas já estou de saída tenho que ir na casa da minha amiga.

Provavelmente eu não irei na casa de amiga alguma. No entanto, permanecer aqui com a minha mente processando inúmeras desculpas diferentes também não me parece uma opção melhor. Além disso, meu coração parecia bater um tanto descompassado ao ficar sozinha no mesmo cômodo que Pedro.

— Por que eu estou com uma leve impressão que você está fugindo de mim?— Pedro se levantou e parou na minha frente.

Perto demais.

Abaixei o meu olhar e engoli em seco tentando manter o pouco da sanidade que ainda tenho, por que esse garoto tem que ser tão bonito? Certamente, com apenas mais um passo na direção de Pedro, seria possível até mesmo ouvir a respiração dele. Entretanto, acho que perdi a coragem de fazê-lo me enxergar de outra maneira após inúmeras tentativas falhas.

Forcei uma risada e balancei a cabeça em movimento de negação. Pedro deu um passo para trás e me direcionou um olhar curioso.

— Eu não estou fugindo de você, por que eu fugiria?

Porque talvez eu goste um pouco de você.

— Eu não sei, mas é o que parece.

— Acho melhor eu ir.

Meu coração está batendo tão rápido, chego a cogitar que talvez ele saia pela minha boca. Tudo bem posso estar exagerando um pouco, mas Pedro Muniz me tira do sério.

— Tudo bem, vou te acompanhar até a porta.

Talvez eu tenha ficado um pouco desapontada, esperava que ele iria insistir para ficar mais um pouco, ou então demonstraria estar chateado, mas ele só disse "tudo bem ", algo que interpretei como: "pode ir embora, não me importo."

Me virei e caminhei até a porta, Pedro veio em seguida em passos lentos, abrindo a mesma.

— Até mais.

— Até.

Sai andando até a minha casa o mais devagar possível. Acho que já passou da hora de aceitar que eu infelizmente não tenho chance com Pedro Muniz, talvez eu deva apagá-lo da minha mente.

Agora entendo o porque da Rihanna matar os homens em seus clipes.

Tudo bem que eu disse que já estava indo embora duas vezes, eu deveria ao menos ter conversado um pouco com ele, fora que ele deve estar me achando uma maluca. Eu sou uma idiota! Ano passado mesmo já sabendo da minha paixão por ele, eu conseguia pelo menos conversar, agora não consigo trocar duas palavras sequer sem ficar sem graça ou inventar alguma desculpa.

É tão desconfortável!

Revirei os olhos e aumentei a velocidade dos meus passos, ficar andando igual uma tartaruga por aí não irá me ajudar em nada.

— Eu quero morrer!— reclamei sem me dar conta do quanto aquilo poderia ser perigoso.

Minha mãe sempre diz que as palavras têm poder, e agora eu estou andando sozinha em uma rua deserta e o pior de tudo é que está a noite.

Todas as possibilidades do que poderia me matar agora começaram a passar pela minha cabeça. Olhei para os lados verificando se realmente estava sozinha e percebi que do outro lado da rua existia uma pequena árvore.

Será a minha salvação.

Olhei para os lados verificando se algum carro iria passar,  atravessei correndo e segui em direção à árvore.

Isola — sussurrei e três vezes no cabo da árvore. Minha mãe diz que quando falamos algo sem querer e não queremos que aquilo realmente aconteça, temos que bater na madeira três vezes e pedir para isolar.

Espero que seja verdade.

Atravessei para o outro lado da rua, e comecei a caminhar rapidamente até a minha casa. Confesso que todos esses pensamentos que surgiram me assustaram, quando avistei a minha casa quase gritei de alegria. Peguei a chave no meu bolso e abri o portão.

Enfim em segurança.

Nossa chegou tão rápido! Deixa eu adivinhar, o seu paquera.— Minha mãe fez aspas com os dedos.— Não estava lá.

— Ele estava mas não foi como eu esperava.

Minha mãe cruzou os braços e me olhou curiosa.

— E o que você esperava dona Ana Júlia?

— Deixa pra lá.

Subi para o meu quarto e me joguei na cama, eu posso estar sendo um pouco dramática, mas digamos que estou com muita vergonha alheia de mim mesma. Eu não consigo nem ao menos conversar com Pedro Muniz, deveria me convencer que ele é apenas o melhor amigo do meu primo. Eu não deveria estar assim, mas infelizmente parece que nasci para ser desse jeito.

— Seu pai fez suco de laranja.— Minha mãe avisou enquanto entrava no meu quarto segurando uma jarra de suco e dois copos.

— Obrigada — agradeci enquanto ela terminava de encher o copo e me entregava.

— Como está Laila?

— Ela está bem, pareceu tão feliz em me ver, eu nem sabia que ela gostava tanto de mim, foi uma grande surpresa.

— Seu pai e eu estamos sendo péssimos colegas, até você já foi visitar os Muniz e nós dois ainda nem fomos dar as boas vindas. Acho que eu deveria chamá-los para um lanche algum dia desses.

— Seria ótimo.— Bebi um gole do suco de laranja, que por sinal está maravilhoso. Não imaginava que meu pai soubesse fazer alguma coisa que envolvesse cozinha.

— Você não parece estar muito feliz, aconteceu alguma coisa?

— Está tudo bem mãe — assegurei

Embora não seja realmente verdade, uma vez que, não consigo encontrar nada que me faça sentir melhor nesse cenário. Acho que talvez eu devesse assistir Simplesmente Acontece, ou qualquer outra comédia romântica, somente assim para melhorar um pouco o que estou sentindo.

Aromas e Cores ✓Onde histórias criam vida. Descubra agora