0.5- Café com leite

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Minha cabeça parece que vai explodir. Talvez seja pelas inúmeras matérias que eu tenho que estudar para o ENEM, e me esforçar para conciliar o trabalho com algum curso preparatório, e o pior de tudo ter que pagar algum curso preparatório. Minha família pode até ter uma estabilidade financeira, mas o quanto mais eu puder pagar pelas minhas coisas melhor, eles já fizeram muito por mim.

Até procurei alguns cursos de graça na internet, mas alguma coisa na minha cabeça me impossibilita de fazer esse tipo de coisa, talvez o medo de não conseguir aprender como em aulas presenciais.

— Você tá legal?— Vanessa parou ao meu lado e perguntou com uma expressão preocupada. Assenti que sim com a cabeça e coloquei a cobertura de chantilly no café.

Decidi ficar na preparação dos lanches hoje, quando fico no caixa acabo precisando "quebrar" a cabeça, e isso não é uma opção muito boa quando minha mente está quase explodindo.

Observei Vanessa que já havia voltado para o caixa e estava atendendo um senhor. A Aromas e Cores possui mais alguns funcionários, até porque é uma cafeteria bem grande, porém a única que eu realmente converso é a Vanessa, claro que quando ela não está dando seus monólogos sobre não conversar durante o trabalho, já que segundo ela o seu rendimento cai pela metade, e de acordo com a sua metodologia o salário também pode cair.

Rendimento.

Não imaginei que a minha cabeça iria ficar tão conturbada depois que o ensino médio acabasse, não fiz o ENEM no último ano por motivos de que, sou tão sortuda que tive uma virose terrível um dia antes da prova que se estendeu por um tempo. Nesse ano o medo de passar mal de novo e de não ir nada bem na prova está me consumindo por inteiro. Eu vou fazer dezenove anos, não quero chegar aos vinte e um com meus pais me comparando com minhas primas de terceiro grau que estão na universidade.

Definitivamente eu não quero ser comparada com ninguém.

Tentei abandonar esses pensamentos da minha cabeça, focando em outras coisas, como por exemplo esse café que eu preciso tampar para viagem. Me abaixei e peguei a tampa no balcão e encaixei na embalagem do café. Hoje um garoto está me ajudando na preparação, acho que o nome dele é Marcos e sequer disse uma palavra desde quando trabalho aqui, o que é um pouco assustador.

Esperava ser atendido por você —Uma voz sussurrou próxima ao meu ouvido fazendo com que eu desse um pulo e quase derrubasse o café.

Me virei e acabei me deparando com a imagem de Bruce escorado no balcão enquanto me observava com uma expressão divertida.

A tão famosa visão do paraíso, oh céus.

— Bruce! Você não pode chegar desse jeito, eu poderia ter tido um ataque cardíaco, acredite eu me assusto muito fácil.

Bruce soltou uma risada contagiante, segurei o riso e fingi uma cara brava, fazendo com que o mesmo tentasse parar de rir e falhando miseravelmente. Bruce esticou um papel e arqueou a sobrancelha esquerda.

Se for o número dele eu vou literalmente sofrer um ataque cardíaco.

— O que é isso?-— perguntei cruzando os braços e o encarando.

— Minha nota fiscal, não pedi um Milkshake de morango hoje. Espero que não fique chateada agente Romanoff.

Fingi estar indignada e peguei a nota de mão dele. Na verdade, eu realmente fiquei indignada, poderia jurar que ele iria me dar seu número, mas infelizmente é só uma nota fiscal de um café com leite tamanho grande com chantilly extra.

— Você acabou com o meu dia, Bruce Banner.

Forcei um sorriso e comecei a preparar o seu café, talvez eu tenha caprichado um pouco mais do que normalmente faria na tentativa de impressionar ele. Mesmo que ele não me entregue seu número de telefone, para mim ele já é o "cara do milk-shake", então quanto mais ele aparecer por aqui melhor, fora o fato dele ser extremamente simpático, acho que mesmo se ele não estivesse "flertando" comigo, o que eu sinceramente acho que está acontecendo, ainda assim seria meu crush.

Me virei novamente e coloquei seu café sobre o balcão. Bruce me observava atentamente, o que me fez ficar um pouco envergonhada. Ele deu um gole em seu café e continuou me observando.

— Esse lugar tem bebidas incríveis, vocês são melhores que o Starbucks na minha humilde opinião.

Sorri com o elogio, mas infelizmente não posso concordar se ele está certo ou não, nunca pisei em um Starbucks pra saber, mas acredito que aqui realmente tem as melhores bebidas, até porque é tudo feito com muito carinho e atenção.

— Obrigada Bruce.

— Conversas no trabalho, a sua eficiência... bem você já sabe. Você tem mais pedidos!— Vanessa me repreendeu do caixa, bufei e dei um meio sorriso para Bruce, voltando para a minha posição de antes.

Você não me falou o seu nome.

Eu poderia ficar aqui o dia inteiro escutando Bruce e seu sotaque britânico extremamente sexy, mas infelizmente isso não vai ser possível, o que é uma pena. Sempre achei o sotaque britânico extremamente bonito mas não imaginei que fosse tão atraente assim. Dizem que existem sotaques mais bonitos, o que eu sinceramente discordo, afinal, me sentir atraída por garotos britânicos não é algo incomum.

— Ana Julia, mas prefiro que me chame de Anajú, não sou muito fã de nomes compostos — expliquei.

— Tudo bem Anajú.

Agora tenho a certeza que eu realmente poderia ficar aqui o dia inteiro escutando Bruce falar, principalmente se meu nome soar tão atraente quanto soou agora, acho que isso é um problema.

Me virei mas Bruce não estava mais em seu lugar, olhei para a porta onde ele me observava sorrindo de canto. Provavelmente pela leitura labial que fiz ele disse "tenha uma boa tarde Anajú.", o que me fez sorrir igual uma boba pelo resto do dia, e por incrível que pareça até amenizou a minha dor de cabeça.

Com certeza não me importo dele continuar pedindo milkshakes de morango ou café com leite.

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