0.9- Água com açucar

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— Você está brincando?— Carol perguntou enquanto me ajudava a limpar as mesas que Rafael havia limpado igual a cara dele na noite anterior.

— Não, Pedro Muniz é oficialmente meu vizinho.

Carol abriu a boca e tentou pronunciar algo mas desistiu logo em seguida. Ontem à noite Pedro e eu tomamos chocolate quente, e conversamos por um algum tempo.

— Isso é confuso, ele não morava na roça? Agora ele aparece do nada na sua casa a meia noite e diz que vai ser seu vizinho.

— Ainda tem mais uma coisa.

Carol parou o que estava fazendo e me olhou curiosa.

— Bruce me levou para casa ontem.

— O cara do milk-shake?

Assenti em concordância, Carol arregalou os olhos e caminhou rapidamente na minha direção se sentando sobre o balcão. Arquei a sobrancelha esquerda e encarei a minha amiga que parecia estar extremamente curiosa.

— E ele deu a entender que vai me buscar mais vezes— falei como se não fosse nada demais, mesmo que fosse.

— Não brinca! Isso está ficando cada vez melhor, mas você tem um problema, pode começar a gostar dos dois.

Gostar dos dois? Carol só pode estar ficando maluca. Primeiramente, porque eu não gosto de Bruce, só acho ele extremamente atraente, porém, acho que seriam nulas as chances de realmente acontecer algo entre a gente, ainda mais pelo fato que ele vai embora no fim do ano. Com Pedro seria até mais plausível, mas depois de todas as indiretas que já joguei e ele nunca percebeu uma sequer, acho difícil acontecer alguma coisa.

— Não viaja Carol. Você não deveria estar na escola?

Carol engoliu em seco e desceu do balcão com um meio sorriso.

— A festa de quinze anos da Ana está me tirando do sério, espero não ser presa por assassinar minha irmã mais nova. Ela reclama toda hora, fora o fato que ela está achando que é filha do Elon Musk, porque é cada coisa que ela anda pedindo.

Ana pode ser uma chata quando quer, além de reclamar mais do que minha melhor amiga (o que já é extremamente complicado), ela realmente parece viver em uma realidade alternativa em que a sua família é extremamente rica.

— Sua irmã pode ser bem complicada as vezes, mas você não acha que está faltando muito não?

— Talvez, prometo que vou parar.

— Não prometa Carol, apenas faça.

Carol mostrou o dedo do meio e olhou as horas no seu relógio de pulso.

— Tenho que ir, prometi para a minha mãe que iria no cento com ela e adivinha? Agora tenho que fazer, obrigada pelo conselho, Ana Júlia.

Cruzei os braços e encarei minha amiga, ficamos nos observando sem esboçar reação alguma por alguns segundos, mas não demorou muito tempo para nós duas começarmos a rir descontroladamente.

— Não esquece de conversar com o seu chefe, eu já sou quase uma funcionária desse lugar! Vir aqui te ajudar está gastando meu tempo Anajú.— Carol avisou antes de fazer um coração com as mãos e sair da loja.

Carol me ajuda tanto no café, que realmente já é quase como uma funcionária, a Aromas e Cores é consideravelmente grande, fora que do outro lado do estabelecimento ainda servem às refeições, ou seja um café e restaurante, mas por incrível que pareça nunca fui no outro lado da loja, talvez por preguiça excessiva.

Vou tentar conseguir uma vaga aqui para Carol mas será um pouco complicado já que eu quase nunca vejo meu chefe, na verdade, acho que só o vi duas vezes nesses meses que trabalho aqui.

— Cada vez mais eficiente!— Vanessa comentou enquanto adentrava o café com roupas de festa, franzi a testa ao ver a situação em que ela se encontrava.

— Você está horrível, o que aconteceu?— Perguntei um pouco assustada, Vanessa revirou os olhos e puxou uma cadeira para sentar.

— Fui seguir o conselho da Ariana Grande, obrigada próximo — fez aspas com os dedos.— E acabei virando a noite, espero que esteja bem hoje, porque definitivamente não vou poder ficar no caixa. Meu namorado me irrita.

— Desde quando você está namorando?

— Desde um ano atrás.

Abri a boca completamente chocada, achava que éramos amigas, mas Vanessa nem ao menos me contou que namorava, e às vezes eu acabava desabafando a minha vida inteira com ela, bem que  deveria ter percebido que existia alguma coisa errada.

— E o que aconteceu exatamente?— indaguei tentando não demonstrar que estou um pouco (extremamente) chateada com ela, tudo bem que ela não me deve satisfações de sua vida, mas não custava nada ter falado.

— Não tá vendo meu chifre?— Vanessa perguntou enquanto fazia um chifre com as mãos no topo da cabeça.— Ele me traiu, com o melhor amigo dele, e ainda teve a coragem de gravar, ainda bem que além de safado é burro, peguei o celular dele e vi tudo.

Meu Deus coitada! Além de ser traída, ainda precisou assistir seu ex-namorado fazendo sei lá o que, com o melhor amigo.

— Oh meu Deus! Vanessa eu sinto muito!

Caminhei apressadamente em sua direção e lhe dei um abraço solidário. Vanessa começou a rir descontroladamente me fazendo terminar o abraço confusa.

— Do que você está rindo?

— Você precisa parar de acreditar em tudo o que eu falo, se eu tivesse algum namorado você provavelmente saberia, e caso isso realmente acontecesse eu provavelmente iria estar presa.

Fiquei boquiaberta, Vanessa é uma ótima mentirosa, ou eu sou uma besta por acreditar nessa história dela. Acho que a partir de agora irei começar a desconfiar de metade das coisas que ela me falar.

— Eu odeio você! Vanessa eu acreditei!

Vanessa soltou uma gargalhada histérica, apenas cruzei os braços extremamente irritada, não consigo ver graça nessa situação. A minha vontade é de chutar a cara dela, não no sentido literal, mas ainda estou com raiva dela.

— Desculpa Anajú! Mas você tinha que ver a sua cara — apontou para o meu rosto em meio às suas gargalhadas histéricas.— Você caiu direitinho!

Bufei e caminhei o mais rápido possível para trás do balcão, Vanessa por sua vez não parava de rir, parecia até que estava com dificuldade para respirar, ou até mesmo que iria chorar e tanto rir, só falta ela se jogar no chão e começar a rolar.

— Vai se foder — praguejei.

Vanessa se levantou e caminhou vagarosamente em direção às máquinas enquanto tentava se recompor de sua crise de risos.

— Vanessa, só por causa disso hoje você vai ficar no caixa, agora sai!— Avisei enquanto caminhava o mais rápido  possível em direção às máquinas. Ela revirou os olhos e soltou uma gargalhada andando em direção ao caixa.

— Não fique estressadinha, calma amor não se exponha — cantarolou de uma maneira ridícula.

Segurei minha risada para manter a pose de brava, mas não fui bem sucedida nessa missão.

— Obrigada, próximo trabalho — falei, referenciando o que ela havia dito mais cedo.

— Quer água com açúcar?

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