— Quanto tempo ainda falta?— Indaguei colocando a mão no rosto, claramente incomodada.— Quinze minutos.
Bufei irritada. Essas máscaras faciais que Carol me faz usar não são nada confortáveis, espero não ter uma reação alérgica porque parece que acabei de passar pó de mico no meu rosto.
— Você foi para escola?
— Fui. Não posso faltar mais — disse deitando à cabeça para trás. — Se não, irei repetir o último ano por conta da frequência.
Assenti e cruzei os braços, contando mentalmente os minutos em que essa máscara iria estar bem longe do meu rosto.
— Você já parou de se esconder no seu quarto?— Carol ironizou. — Se ficar fugindo desse jeito vai acabar ficando sem ninguém.
— Obrigada, você é sempre tão delicada.
Mesmo que eu tentasse negar, ela estava certa. Acho que ultimamente andei me escondendo até demais, e isso pode não acabar muito bem.
— Eu sei — forçou um sorriso que nem mesmo apareceu com clareza por conta da máscara. — Isso incomoda.
— Vou falar com ele. Não sei porque estou me sentindo assim, eu já sabia que uma hora ou outra ele iria ir embora. Deveria ter me acostumado com a ideia antes.
— Você gosta dele, por isso está assim. Eu também ficaria triste, mas diferente de você preferia pelo menos conversar com ele, ao invés de estar aqui com essa máscara que comprei por dez reais.
— Vai se ferrar — revirei os olhos. — O que é isso?— Indaguei apontando para uma carta rosa largada em cima da mesa.
— Ana me irritou, então fiz essa carta super brega e vou mandar para o menino que ela gosta — explicou com um sorriso, que julgo ser um tanto maldoso no rosto.
Definitivamente tenho que me lembrar de agradecer mais tarde por não ter nascido como irmã da minha melhor amiga, ela pode ser bem vingativa quando quer e competir com ela não é muito fácil.
— Ela vai te matar — alertei.
— Eu não ligo — disse dando de ombros. — Deveria escrever uma e mandar para o seu namorado também?
— Quer ir tomar sorvete?— Sugeri entediada.
— Depende você vai pagar?
— Interesseira — respondi um tanto indignada com o quanto a minha amiga é mão de vaca. — Tudo bem, eu pago — confirmei me dando por vencida.
— Sorvete de creme sempre foi o meu preferido.— Carol disse antes de lamber a casquinha mais uma vez.— Eu também gosto, mas não sei se é o meu preferido.
Carol bufou e arqueou as sobrancelhas, lançando aquele olhar típico de quem está esperando por alguma explicação. Sei que pareço um pouco deplorável ultimamente, definitivamente não estou nos meus melhores dias, e ao mesmo tempo que eu quero conversar com alguém, também gostaria de não dizer mais nada.
— Você vai resolver isso agora — ordenou apontando o dedo indicador para o meu rosto.
— Eu?— Questionei sem entender o que ela estava querendo dizer.
— É você, enquanto isso eu vou terminar o meu sorvete.
Carol sorriu e saiu andando, me deixando sozinha na praça. Cruzei os braços e olhei para os lados para ver se ela estava pelos arredores, mas acabei dando de cara com Bruce Walker na minha frente, e diferente do usual, ele não estava com a expressão mais agradável do universo.
— Oi. Acho que precisamos conversar.
Engoli em seco e assenti. Não é necessário ter muita experiência para saber que essa frase não significa algo bom, talvez seja por isso que senti o meu coração acelerar muito rápido, e acabei ficando mais nervosa do que gostaria. Caminhamos em direção à uma parte mais afastada da praça, onde haviam alguns bancos vazios, nos sentamos em um de frente para uma árvore, e fiquei imóvel sem dizer uma palavra sequer.
— Eu fiquei esperando você me ligar a semana inteira — afirmou nitidamente decepcionado.
— Eu sei — admiti desviando o olhar envergonhada.
Bruce me encarou e assentiu em silêncio. Já posso imaginar como essa conversa vai terminar, mas não sei se estou realmente preparada para passar por isso.
— Vamos terminar, mesmo que não tenhamos de fato formalizado algo — anunciou. — Achei que poderíamos fazer isso funcionar, mas nem estamos no momento mais difícil e você simplesmente desapareceu.
Engoli em seco e assenti. Não senti vontade de chorar, na verdade, nem parecia ser real. Fiquei sem reação por alguns instantes, sei exatamente o porque ele estava fazendo isso, e sei também que ele está coberto de razão, mas mesmo assim, continuo me sentindo muito mal.
— Você realmente quer terminar?
— Não. Mas também não quero que seja assim, achei que passaríamos essas últimas semanas juntos, mas você nem ao menos respondeu a maioria das minhas mensagens. Sei que é difícil para você, porém eu realmente merecia uma explicação.
— É realmente difícil para mim, porque eu gosto de estar com você, não consigo aceitar totalmente o fato de que você vai embora.
— Eu sei.— Bruce concordou — Eu também gosto de estar com você, até mais do que imaginei — sorriu um tanto sem graça. — Por isso, acho que é melhor terminar tudo agora. Afinal, quando eu for embora, nós dois sabemos que não irá funcionar, às vezes é melhor não adiar o que vai acontecer de qualquer maneira.
— Tudo bem — concordei. — Vamos terminar — falei me levantando e respirando fundo.— Se cuida, espero que tudo melhore. Como você vai embora, acho melhor me despedir agora. Adeus, Bruce.— acenei com o sorriso mais deprimente possível.
Decidi ir embora, sem procurar por Carol ou olhar para trás. Ele estava certo, não é necessário adiar o inevitável. No entanto, acabei me machucando da mesma maneira.
Talvez seria melhor não ter insistido em algo tão complicado. Nunca fui uma pessoa que se arrisca, e sei agora que as chances de tudo dar errado são muito maiores, nem mesmo quando eu mantinha uma paixão platônica por Pedro Muniz foi tão doloroso assim. Porque agora eu gosto de alguém de verdade, e saber que isso não deu certo, é realmente doloroso.
O visor do meu telefone se iluminou, indicando uma chamada de Carol. Não acho que vou conseguir conversar com alguém agora, então apenas recusei. Sei que ela deve estar preocupada comigo, mas já ignorei tantas coisas que ignorar alguém por mais um dia não irá fazer tanta diferença assim.
Enfrentar um problema, poderia ser bem mais doloroso do que ignorá-lo.
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Aromas e Cores ✓
Novela JuvenilAna Júlia Lessa ou simplesmente Anajú (como gosta de ser chamada), trabalha em uma cafeteria na cidade de Campo Florido em Minas Gerais. Acostumada com a sua rotina monótona, após o fim do ensino médio, Anajú não espera muita coisa da vida. Mesmo co...