Prólogo - Bem vindo a Montero

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A luz batia levemente no rosto sardento, iluminando sua face, a iluminação solar não incomodando, como se estivesse no alvorecer ou fim entardecer, mesmo que não fosse de fato aquele período do dia.

Era sempre daquela forma, o dia não queimava como no verão, era ameno e cauteloso. Como se temesse agredir a pele do jovem.

O cenário a sua volta era no mínimo poético: as folhas do outono, amareladas e algumas arroxeadas ou rosadas caídas em sua volta, como se fossem a borda natural do corpo alheio.

A grama abaixo de si fazia cócegas em sua tez, mas era tão confortável que o leve pinicar não incomodava de fato.

A árvore acima de si garantindo a sombra necessária. Era possível escutar o canto dos pássaros e o soar de alguns instrumentos líricos ao longe, uma antiga cantiga sendo proferida.

— Olá. — ouviu atrás de si, o que o fez abrir os lumes com lentidão, incerto se realmente escutara uma voz máscula lhe cumprimentar ou se seu cérebro começara a fantasiar. Ouviu uma leve risada, provavelmente devido a sua confusão e teve certeza de que não estava sozinho quando a terra ao seu lado afundou levemente.

Se levantou, sentando sobre as raizes e então foi capaz de observar o rapaz ao seu lado: não era alto, deveria ter entorno de um e setenta de altura, no máximo. Os olhos eram negros e puxados, o nariz grande, o rosto comprido e o queixo fino. Félix nunca havia visto uma pessoa como ele. Os fios negros como a noite e a parte superior de seu hanbok tão vermelha quanto sangue, a parte interna e inferior negra como suas madeixas.

O Lee engoliu em seco nervoso, nunca havia visto cores tão intensas e divergentes. É claro, conhecia elas, mas não eram as cores usadas no Éden. Olhou para suas próprias vestimentas, completamente brancas.

— Olá. — respondeu tímido ao cumprimento anterior, recebendo um sorriso em resposta.

— É um belo dia. — comentou.

— Sim, é. — afirmou curto, era de certa forma desconfortável ter o garoto ao seu lado, mesmo que ainda intrigasse tanto o loiro. O moreno era diferente, e Yongbok não sabia dizer se aquilo era bom ou ruim. — Você não é daqui, é? — indagou, decidido a conversar com o estranho, este que apenas negou.

— Estou de passagem. — contou. — E você era bonito demais para ir embora sem ao menos lhe dirigir alguma palavra. — secretou, e Félix sentiu seu coração diminuir os batimentos, uma sensação de vazio estranha em sua barriga. Suas bochechas de repente esquentando. Abaixou a fronte, sem saber como agir perante o comentário.

Não estava acostumado com elogios, em Montero as pessoas não costumavam dizer coisas como aquelas. No máximo era sua mãe quem dizia algo do tipo, mas daquela forma...soava como algo mais.

— Quem é você? — questionou, erguendo outra vez os lumes castanhos.

— Pode me chamar de Changbin. — se apresentou, dando um sorriso simpático, que constrastava com seu olhar feroz e semblante malvado.

— Sou Félix. — disse, sentindo o vento bufar sobre seus fios, levando estes que estavam um pouco comprimidos para frente. Como se estivesse hipnotizado ao menos notou quando o que aparentava ser mais velho se aproximou, colocando uma das mechas atrás de sua orelha, a mão que continuou por alguns segundos ali antes de ser retirada.

Aquilo definitivamente não era um elogio qualquer, e aquele homem muito menos, mas Lee Yongbok não sabia disso na época. Cego por sua bondade e inocência, mal notou quando o homem que passou a encontrar todos os dias e que sempre lhe dirigia aquele mesmo sorriso caloroso roubou seu coração.

Welcome to Montero.

Call Me By Your Name [CHANGLIX]Onde histórias criam vida. Descubra agora