V. O medo que espreita o sul

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       Jeon Jungkook não caminhava como os demais ômegas da nobreza sulista; seus passos eram firmes e ele sempre colocava toda a sola do pé, batendo os calcanhares contra o chão

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       Jeon Jungkook não caminhava como os demais ômegas da nobreza sulista; seus passos eram firmes e ele sempre colocava toda a sola do pé, batendo os calcanhares contra o chão. 

Gostava de calçar botas de couro pois eram quase como estar descalço e mais confortáveis que os sapatos caros dos nobres, mas ali, o vestiam com cetim e o davam sapatos de plataforma, como se quisessem que ele caminhasse um tanto menos que o habitual.

O que era uma tristeza, porque ele adorava caminhar. 

Tinha passado as últimas três horas enfurnado numa sala miúda às torres sudoeste, fazendo aulas de costura que ele, particularmente, detestava. Ponderava sobre como era fácil manusear uma espada, mas estranho e doloroso cuidar de uma agulha e linha. Tiveram de ensiná-lo desde o básico, pois não fora educado daquela forma quando mais jovem e por isso, seus dedos tinham um monte de cortes miúdos que não chegavam a sangrar, mas doíam como brasa quente contra sua pele. 

De todas as aulas que tomava para se tornar um rei, decerto, costura era a que menos apreciava. 

Via função na escrita e na leitura, sabia que usaria os números eventualmente e que era bom saber tocar e cantar; mas costurar? Jamais. Não costuraria para o rei nem mesmo se ele estivesse nu no inverno do norte.

Por isso, depois de tanto tempo fazendo algo que o desagradava, sentiu que uma caminhada seria bem-vinda. 

À porta da sala de costura, retirou os sapatos, encaixando-os no médio e indicador e tomou o caminho mais longo para seus aposentos, seguindo pelos corredores daquela ala. Deixava a palma da mão passear pelas paredes do castelo; tudo ali parecia ter sido detalhadamente feito para ser lindo. Naquela região, onde haviam os atelieres, salas de costura e música, as paredes de pedra haviam sido entalhadas com as imagens dos deuses e reis passados. Mármore, ouro e prata puros transformados em arte da forma mais digna que se era possível. 

Parou, sentindo os pés no chão gelado enquanto admirava uma das faces entalhadas, vendo pequenos pontos dourados, grãos de ouro caindo pela face, como se a mulher ali estivesse ruborizada. Tinha a estranha sensação de conhecer aquela face; o rosto arredondado e os cabelos caindo sobre os ombros, cobrindo os seios miúdos até que acabassem, na altura do quadril. 

Ela estava nua, as mãos esticadas para frente, como se oferecesse um abraço, mas seus olhos gelados pareciam prendê-lo. Como se a cada passo, ela o seguisse a se mover. 

— Bonito... — Ele sussurrou, olhando-a nos olhos: — e macabro.

Talvez aquela fosse a exata descrição de todo o palácio do sul. No norte, tudo era sempre medo, mas em Heiwa havia algo que ele não sabia explicar; talvez fosse o calor afável ou o jardim imponente, mas a primeira vista, aquele palácio era acolhedor. Uma vez dentro, tudo parecia sempre vigiado, todas as janelas tinham olhos estranhos e todas as portas pareciam ter uma fresta. Nunca havia, realmente, silêncio ou solidão completa ali dentro. 

¡abo! O príncipe da noite • taekookOnde histórias criam vida. Descubra agora