CAPÍTULO 11

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Enquanto digito o código de entrada no painel de segurança da porta da frente de casa, tento ao máximo não pensar demais em como me senti após cantar uma simples música com Zaden

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Enquanto digito o código de entrada no painel de segurança da porta da frente de casa, tento ao máximo não pensar demais em como me senti após cantar uma simples música com Zaden. Aquele tinha sido um golpe baixo da parte dele: karaokê costumava ser um lance nosso – ele era a primeira voz, e eu a segunda. O mais engraçado de tudo era que, mesmo não sendo muito afinada, eu não sentia um pingo de constrangimento em cantar ao lado dele, que ao contrário de mim, possuía um timbre grave muito bonito.

Quando éramos mais novos, eu adorava ficar simplesmente ouvindo-o cantarolar baixinho enquanto dedilhava melodias aleatórias pelas cordas de uma das suas guitarras; Zaden era o tipo de músico que sofria de picos de inspiração bem inesperados, então sempre que tocava deixava um gravador por perto. Ele não escrevia músicas com a mesma frequência que Sebastian, mas era tão talentoso quanto.

Revirei os olhos, enquanto passava pelo hall de entrada e caminhava pela sala de estar, tendo total consciência dos passos de Zaden ecoando atrás de mim. Essa era uma das coisas que o tornava tão irritante: o fato de ter absolutamente tudo o que queria a um estalar de dedos de distância.

— Onde estão os seus pais? — a pergunta dele me alcançou, enquanto eu tirava meus sapatos.

— No ateliê da grife — respondi, sem me virar. — Saíram ontem à noite e não voltaram desde então. Há uma coleção nova a caminho e você sabe como eles tendem a ficar obcecados durante o processo de... — paro de falar, me dando conta de que estou indo além do que deveria. Canto uma droga de música com ele e já começo a agir como a maior tagarela idiota. — Não é nada demais.

— Não é meio solitário ficar aqui nessa casa grande sozinha?

Finalmente olho para Zaden, que está me encarando de forma inquisidora com seus malditos olhos azuis-cristal, maçãs do rosto afiadas e queixo definido.

— Essa casa nem é tão grande assim.

— Para uma pessoa sozinha? É sim — ele olhou ao redor, examinando as janelas. — Além de ser meio perigoso.

— Esse é um dos bairros mais seguros da cidade, Zaden — esclareci, estalando a língua em irritação. — Ninguém aqui corre perigo nenhum, então não enche o saco.

— Que seja, então — ele assentiu, apesar de parecer não ter me dado ouvidos. — Você ainda não respondeu a minha pergunta.

— Que pergunta?

— Sobre estar ou não se sentindo solitária.

— O que é isso, afinal? Uma sessão de terapia? — respirei fundo, tentando ao máximo não revirar os olhos. — Não, Zaden. Eu não estou me sentindo solitária. Eu estou bem ocupada, na verdade, então nem tenho tempo pra isso — desconversei.

Ele ergueu uma sobrancelha, dando um risinho.

— Sabe, eu até acho fofo quando você tenta mentir pra mim assim, como se eu fosse um completo desconhecido e não o cara que entrou no banheiro feminino de um teatro pra te ajudar a amarrar o espartilho do seu figurino de balé. Noite interessante, aliás.

Suspiros de uma garota nem um pouco interessada em vocêOnde histórias criam vida. Descubra agora