Desde o momento em que vi a correntinha da amizade que Alison e eu costumávamos dividir marcando a página do livro que eu havia dado a ela, soube que não iria embora sem tentar fazer com que nos acertássemos – ou a menos com que chegássemos a um meio termo. Durante todo o tempo que levou para que ela terminasse de se arrumar e finalmente viesse ao meu encontro, fiquei pensando milimetricamente no que poderia dizer que não fosse deixá-la na defensiva ou tocar sem querer em alguma ferida escondida sob a superfície.
O meu único empecilho, no entanto, era não fazer a menor ideia de que mágoas ela guardava em relação a mim; nossa relação tinha acabado de uma hora para a outra: num dia éramos melhores amigos, mais que melhores amigos, e no outro ela simplesmente havia decidido terminar tudo, usando uma desculpa esfarrapada qualquer como motivação. E eu, orgulhoso e sentido por ter sido rejeitado sem mais nem menos, simplesmente fingi não me importar.
Hoje, ao olhar para trás, me arrependo amargamente de ter agido daquela forma – se eu tivesse sido mais corajoso ao invés de infantil, teria ido atrás dela e insistido em saber o motivo por trás de todo o tratamento frio que estava recebendo; teria me preocupado mais com a possibilidade de perdê-la do que com o meu orgulho e conseguido resolver qualquer que fosse o problema com uma simples conversa franca, e não deixado que anos de ressentimento e palavras não ditas se colocassem entre nós.
Infelizmente, não foi o que fiz, e agora eu estava na merda.
Todavia, ao descobrir que Alison guardava o seu colar, pude ter a certeza concreta de que, assim como eu, ela ainda se importava com a gente, e por isso assumi o compromisso de fazer o que fosse preciso para ganhar a confiança dela de volta – a qual eu podia não saber como havia perdido, mas que estava certo de que era capaz de reconquistar. E uma mudança de atitude como essa pedia por um recomeço: uma proposta de trégua que fiz à Alison para que pudéssemos voltar do zero e aprender a falar um com o outro sem tecer nenhuma acusação sobre o que quer que tenha acontecido no passado. (Na realidade, tudo não passava de um plano para fazê-la pensar que eu estava contente em esquecer tudo o que já havia acontecido entre nós e mais do que disposto a manter nosso relacionamento agradável e impessoal, quando na verdade tinha como objetivo deixá-la mais à vontade na minha presença, sem toda a paranoia sobre estar perto demais de mim ou falando o que não devia sobre si mesma – coisas que ela cuidadosamente tentava esconder e falhava vergonhosamente no processo.)
Apesar disso, para minha completa surpresa e satisfação, minha teimosa e extremamente cabeça-dura melhor amiga tinha comprado toda a minha história de "recomeço" sem nem hesitar, – o que me fazia pensar que ela também devia ter algum propósito oculto que seria mais facilmente alcançado por meio de um acordo tácito entre nós dois de não falar sobre o passado. Em outras circunstâncias eu até ficaria curioso para saber o que ela está pretendendo, mas desta vez não estou tão preocupado: não importa o quão determinada Alison esteja; eu estou dez mil vezes mais. E não entro em jogo para perder.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Suspiros de uma garota nem um pouco interessada em você
RomansaAlison Walters é a melhor bailarina do Instituto St. Davencrown e sabe disso. O grupo de dança que lidera na escola é tudo para ela, mas com o passar dos meses do seu último ano letivo, o medo de deixar tudo o que conhece para trás se torna uma bola...