Capítulo Um

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"Eu lido com a morte. Se você não consegue matar - fale meu nome." – Xiao

As memórias de sua infância não passavam de borrões sem cores. Não havia uma única imagem nítida, nem se quer daqueles que o criaram ao nascer. Não havia cheiro, nem som, nem sentimentos. Mas havia cicatrizes por seu corpo, lhe lembrando a quem realmente pertencia, não importasse o quão fraca fosse sua memória.

Sempre que olhava alguma recordava-se do gosto amargo na boca, do nó dolorido sufocando sua garganta, a ardência como chama em sua pele. Contudo, não havia sentimentos naquilo, apenas aprendizado. Uma lição. Era disciplina.

Era assim que o clã Qingyun lidava com suas crianças.

Disciplinado a obedecer, mas também a arte da luta. Disciplinado a educação e inteligência, mas também a assassinar. E a entender que ali ele não possuía uma família, não encontraria afeto ou calor. Ele era apenas um membro da máfia, mais um peão no submundo de Teyvat, de Liyue. Seu papel era como o de um cão de caça, fiel ao dono, letal ao inimigo.

Passava dias e dias em treinamento rigoroso, aprendendo a manejar armas de fogo e armas brancas. Estudava com professores particulares sobre cada assunto importante de Liyue, matemática e gramatica, literatura e cultura. Além dessas aprendia ainda a arte da obediência, da serventia. Era o que era, apenas um obediente garotinho aos cuidados de um poderoso clã, até que atingisse uma idade útil.

- Tsc, tsc. – O mestre à sua frente soltou um muxoxo e jogou suas provas relaxadamente sobre a mesa. – Errou coisas bobas. Sabe como preservamos nossa cultura, não é? Estique suas mãos.

A régua pesada chiou e cortou o ar em direção as miúdas e pálidas mãos do garotinho, estalando alto. A pele inchava, vermelha, com pontinhos de sangue acumulando-se, a ardência surgia como brasa e seus tendões doíam até os cotovelos, deixando seus braços fracos e os dedos dormentes.

Era uma simples punição, e deveria aprender com isso.

Ignoravam seus acessos de ansiedade, seus tremores de choro e medo. Pois todos ali aprenderam, em seu próprio tempo, de que o chefe não gostava que passassem a mão sobre a cabeça do garoto, isso o faria ficar mal acostumado. Toda e qualquer punição, disciplina e lição o moldariam para que se tornasse aquilo que seu chefe esperava dali alguns anos. Lhe sendo tão útil quanto qualquer outro servente do clã.

Ao atingir seus quinze anos de idade, sem nunca ter colocado um pé para fora da mansão dos Qingyun, fora decidido pelo chefe, que Xiao deveria ser levado a julgamento perante Celestia, a máfia do país, e todos os seus clãs de todas as capitais. Porém aquilo não passaria de meras formalidades. Xiao pertencia àquele clã, e mesmo que no julgamento fosse decidido em qual clã a nova criança iria, todos já sabiam.

Xiao demonstrou suas habilidades conquistadas por longos anos de disciplina. Demonstrou ser esperto, ágil, e que seus estudos sobre o submundo de Liyue foram extremamente bem aplicados. Qingyun era um clã rígido, quase perverso, comandava a área da política com mãos de ferro, era de se esperar que seus membros fossem tão ilustres e preciosos, como cristais.

Ao final de sua apresentação, de costas eretas e olhar sério, Xiao manteve-se estagnado em frente aos chefes dos clãs. Trajava um hanfu cinza-claro, com as barras de um claro degradê azul-céu as quais cobriam até seus tornozelos, as golas bem fechadas sobre o peito bordadas com fios brancos em pequenos desenhos de nuvens, as mangas eram longas e largas, acumulando tecido sobre suas mãos juntas às costas. Amarrado em sua cintura havia uma fina e bem trançada corda, e seus pés calçavam meias e sapatilhas brancas. O cabelo escuro e longo amarrado em sua nuca projetava o elegante e impassível rosto. Um semblante calmo e ilegível.

Celestia - XiaoVenOnde histórias criam vida. Descubra agora