"É tarde demais. A conexão entre nós é muito forte. Mesmo se você quiser, é tarde demais para cortá-la. Você procura encontrar a minha salvação? Você ... realmente é um ser difícil de compreender." – Xiao
Quando suas raízes são construídas em solo desprovido de calor, de quaisquer sentimentos denominados amáveis, poder entender pessoas que assim se sentem é de extrema dificuldade. Como se pode olha-las e saber o que se passa com elas se não se sabe nem ao menos o nome do sentimento? Lhe é estranho, confuso, para não se dizer assustador. Mas, acima de tudo, curioso. Ele lhe tira daquele vazio, daquele nada que sempre sentiu. Não importa se teve pequenos sorrisos ao longo de sua infância, eles não passavam de motivos triviais.
Passar a distinguir certas coisas deu a Xiao uma visão diferente de si mesmo, mas ele não admitiria isso, e também não comentaria sobre isso.
A chave principal foi a observação, então a comparação, em seguida o questionamento interno. Foi assim que passou a reparar o quanto seu mestre era uma pessoa terrivelmente má. Ele não passava de um pássaro em uma gaiola, dando prazer com sua habilidade ao seu dono, ou um cão, seguindo ordens cegamente e ainda agradecendo pelas poucas migalhas que lhe era retribuído por sua obediência. Nada de sentimental havia ali.
Até que tudo se bagunçou, virando do avesso. Não apenas por que tal mestre havia sido morto e nem apenas por que agora tinha sido, subitamente, entregue a uma liberdade desenfreada e sem limites, sem caminho, mas também porque a pessoa que lhe salvou tinha grandes e brilhantes olhos turquesas, capazes de fazer seu sangue acelerar como nunca uma punição o fez, de fazer se questionar não sobre seu passado, mas sobre o que era agora. E, acima de tudo, de lhe mostrar a luz que desde seu nascimento fora-lhe privada.
Contudo, havia um problema. Um grande de um problema. E Xiao passou os primeiros quatro dias naquele apartamento remoendo esse problema, encolhido na sala onde passara a dormir – Insistira para Venti deixa-lo dormir ali, sozinho. Era fácil para ele observar a rua, no caso de aparecer mais algum motoqueiro suspeito, mas ele não dissera isso ao outro. – e muitas vezes estava tão entretido nesse problema que mal conseguia dar continuidade na conversa que Venti iniciava.
Mesmo que eles partilhassem da mesma ideia de que se achavam mutualmente interessantes, não foi fácil como o músico achou que seria. Xiao ainda era um gato arisco, que fora maltratado por todos os seus dezenove anos de vida. Jogado na rua sem para onde ir e subitamente acolhido por um estranho. Era natural que reagisse de forma tão reservada, hesitante e quase medrosa. Mas visivelmente curiosa.
Quando Venti fazia alguma pergunta pessoal, Xiao respondia o mínimo, não dava detalhes. Quando não queria responder, desviava o olhar e cruzava os braços. Uma atitude clara de alguém machucado, ainda fechado.
Venti o observava nesses momentos, não o pressionava, mas guardava para si a leve e suspeita sensação de que queria muito, em alguma parte sua, ajudar o outro a manter seus braços abertos. Abertos para o mundo, para as sensações e os sentimentos.
Sabia que iria ser um caminho árduo. Porém, conhecia a si mesmo para saber que desistir não era uma opção, não após prometer a Xiao e a si mesmo de que cuidaria dele. Não por que se sentia obrigado, mas por que fazia parte de sua genuína natureza. Era algo que surpreendia Zhongli, mas Venti só podia sorrir e aceitar.
Ele tinha uma perigosa e adorável mania de querer pegar os fardos alheios para si.
Mesmo que ele não respondesse às suas perguntas, mesmo que fosse um total mistério, Venti não poderia deixa-lo, não mais. Confiava em sua ideia de que se Zhongli não o parou, então não corria riscos graves.
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Celestia - XiaoVen
FanfictionO submundo de Teyvat é comandado por diversos clãs. A máfia, nomeada carinhosamente de Celestia, é só o que Xiao possui. E sua vida é um inferno desde seu nascimento. Disciplinado e educado no clã Qingyun, Xiao tornou-se uma máquina de matar. Para a...