Celestia - XiaoVen

Capítulo Sete

"Meu maior desejo? Sempre foi vagar livre e experimentar o mundo inteiro. Agora, eu acrescentaria que, aonde quer que eu vá, simplesmente deve ser com você!"

– Venti

Ordo Favonius já foi um clã poderoso, composto por membros inteligentes, habilidosos, responsáveis e fiéis à Mondstadt. Além da segurança – Cuja qual era um tanto quanto "pesada", se comparado ao que os polícias comuns e afins lidavam – também eram responsáveis pelo mercado de vinho e outras bebidas de renomados nomes, bebidas essas que rondavam por toda Teyvat, era uma característica forte da cidade. Foi um clã fundado há mais de um século...

-... Mas um dia houve um desentendimento. – Venti soltou um suspiro melancólico. – Ou melhor, um golpe. O jovem chefe, herdeiro da terceira geração, lutou por alguns direitos de cidadão de minorias, contra o golpe, e a briga se estendeu por semanas, até que covardemente foi morto dentro do próprio território.

Xiao o ouvia com os olhos fixos nas piscinas turquesas, que tinham um brilho trêmulo, mirados para o chão. Venti piscou e o olhou, sorrindo em seguida.

- Ele foi um amigo especial... Depois disso o cargo foi passado para mim. Mas com o luto deixei que o clã se desfizesse. E agora, com Mondstadt sendo governada por um tirano, preciso voltar... senão até mesmo Liyue sairá prejudicada.

Xiao deixou que ele se encostasse em seu peito e brincou com a trança do músico.

- Mas... você está... sabe, preparado?

Venti não respondeu de imediato. Xiao se curvou para a frente, à esquerda do outro, para poder ver seu rosto. O semblante de Venti era sério.

- Preparado ou não, é um dever meu. De certa forma, não posso simplesmente deixar que as coisas continuem como estão, não depois de tanto esforço dele. – outro suspiro soltou-se dos lábios do músico – Ele me passou o cargo pessoalmente, não foi escrito nem nada do tipo. É algo que preciso encarar não apenas por mim.

Xiao anuiu com calma, aproximou o rosto dos cabelos do outro e depositou um beijo demorado acima da testa de Venti.

Quando Zhongli retornou encontrou ambos olhando curiosamente os livros. Assim que Venti o viu seus olhos o analisaram, reparando na gola desfeita. Não pôde evitar um sorriso malicioso. Morax o ignorou a favor de se sentar e mirar Xiao.

- Então? – questionou, os olhos âmbares frios. Xiao sentou-se em frente a ele. Sentia os músculos tensos, havia um descompasso estranho no coração. Venti ficou de pé ao lado dos sofás, de braços cruzados.

Xiao juntou as mãos, apoiando os cotovelos nos joelhos, e fitou os contratos estagnados sobre a mesa de centro. Ele inspirou fundo e ergueu cuidadosamente o olhar para Morax. Havia um ar misterioso ao redor dele, sua expressão era indecifrável naquele momento. Estava cansado? Irritado? Chateado? Era difícil dizer, e isso dificuldade em saber o que ele pensava.

- Qual dos contratos?

A máfia nunca foi sua casa, nunca foi um lugar acolhedor. Ela foi seu inferno, e como era tudo o que tinha em sua vida, sua vida era um inferno. Sua liberdade estava logo ali, precisava apenas assiná-la e ele poderia se tornar outra pessoa. Uma pessoa sem passado...? Iria fingir que seu passado nunca existiu? Seus traumas, suas cicatrizes, cada pequena peça que o compõem e que criaram quem ele é, tudo isso simplesmente esquecido? Então viveria uma mentira?

Talvez uma mentira fosse melhor do que um inferno. Era isso que parte de sua mente estava lhe dizendo. Esquecer de tudo era o que o libertaria. Mas ainda assim não seria verdade, e cada dia de sua vida iria se levantar da cama sem se reconhecer.