Blood Sacrifice

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Os som barulhento do teclado sendo repetidamente martelado é uma das minhas memórias mais comuns.

Eu já passei dias assim, digitando enquanto pesquisava algo inútil que jamais usaria em minha vida.

Dia e noite, esse foi o sentido de minha existência. Não havia mais nada que eu quisesse alcançar, não havia um futuro que eu pretendia almejar e não havia um alguém que eu quisesse me tornar.

Foi com isso, que eu me afastei de muitas pessoas no passado, mas sempre existiram aquelas que nunca me deixaram em paz.

Gabriel sempre veio ver como eu estava, Maria sempre dava um jeito de me tirar do quarto e minha família ocasionalmente tentava me ajudar. Talvez eles achassem que eu estava doente, sei lá.

Enquanto termino de digitar aquele longo texto de reclamação do último jogo que havia terminado, suspiro recostando minhas costas na cadeira.

Tédio. Muito tédio. Eu estou estupidamente entediado. Tanto tédio, que poderia morrer de tédio.

Já terminei todos os jogos que tenho, já li todos os livros da biblioteca, já respondi todas as mensagens que tinha de responder nos fóruns.

E agora, mesmo essa resenha já está acabada. Eu não possuo mais o que fazer.

A vida de recluso é definitivamente cômoda, mas também é muito entediante. Pessoas como eu que passam o tempo livre sem ver a luz do sol costumam ficar realmente sem o que fazer.

Enquanto penso sobre o que fazer agora, não posso notar a presença que me observa suspirar, atrás de minha cadeira.

Eu estava com os olhos fechados, então quando o percebi, meus olhos cheios de olheiras se encontraram com os dele.

Um cabelo grosseiramente pintado de azul e arrepiado ao ponto de se assemelhar a um cientista louco, olhos com tantas olheiras quanto os meus e um rosto amistoso de sorriso.

—Você está aqui, velho.

Eu afirmei isso sem mudar muito minha expressão.

—Yuto-chan. Seus pais me disseram para vir até aqui hoje. Como anda a vida?

O homem velho que tenta se passar como mais jovem pintando o cabelo de azul é meu avô, Kagurasawa Shigeo.

—Chata. Está tudo chato, tudo é sempre entediante.

—Isso não é por você ter resumido sua vida a uma mera tela de computador, Yuto-chan?

Eu suspiro, erguendo novamente meu corpo, giro a cadeira para ficar de frente com ele.

—Mas a realidade fora das telas é entediante, velho… Eu vou da escola para casa e da casa para a escola.

—Criança burra! Então você é o entediante aqui!

O grito do velho abalou meus ouvidos, me fazendo os tapar para evitar a dor. Muito alto, velhote. Muito alto…

—Você acha que ir daqui para a escola resume o mundo de fora? Isso é basicamente olhar o céu do fundo do poço.

—Mas não é como se eu pudesse sair para qualquer lugar ou coisa assim.

—Mas você pode, Yuto-chan. Você pode ir a qualquer lugar que quiser. Nunca é ruim viajar para conhecer novos lugares e povos.

Novos lugares e povos, uh? Bom, é fácil pra você dizer, velhote. Você tem os privilégios do governo para viajar o mundo…

—Se você quiser, eu estou disposto a te levar para o Japão agora mesmo, Yuto-chan.

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