São Paulo, Arena Anhembi, 2013...
Era o último ato do artista norte-americano. O público estava em profundo êxtase pela marcante apresentação acústica e intimista. A banda havia sido impressionante, o homem esbanjou simpatia e a mineira sentia-se transbordando felicidade em sua primeira apresentação. Tudo bem que havia chegado e provavelmente sairia sozinha, mas não se importava com aquilo. Sua própria companhia tinha abrilhantado uma noite épica que estava se encerrando ao som da belíssima performance de uma música que falava de beijos e abraços. Sentia falta desse calor e um pouco também das pessoas de casa, mas estava bem ali, onde sempre quis estar.
Na distração de sentir a letra reverberar por seus átomos cerrou os olhos por um momento. O suficiente para sentir alguém esbarrando contra seu corpo, quase derrubando-a.
— Mas que... — Prestes a reagir de maneira agressiva refreou suas palavras antes que pudesse continuar ao enxergar a figura que se chocara contra si. Pequena, descabelada e com a maquiagem escorrendo pela face a morena tentava avançar em meio a multidão sem obter muito sucesso. E chorava por isso.
Rafaella se compadeceu imediatamente, ainda mais quando analisou com mais minúcia a menina de longos cabelos negros que aparentava não mais que dezoito anos. Mais além da primeira impressão se destacava em sua postura um cansaço imenso, uma vontade de seguir mesmo vendo-se derrotada e a razão de sentir que perdia foi algo que despertou o interesse da mineira.
— Precisa de alguma coisa? — Não resistiu em perguntar. Era como sua família a ensinou a agir e uma vez que lembrou-se dela não poderia fazer diferente.
A mulher não disse nada, não conseguia sem que o soluço atravessasse antes sua garganta, por isso somente apontou para o palco e deixou mais lágrimas caírem copiosamente.
— Não consigo te entender. Você consegue respirar fundo e me responder? Por favor? — Pediu e por instinto aproximou as mãos dos dedos da mulher que a tomou num aperto. E então a abraçou.
Sem mais remédio, e tomada por um perfeito encaixe, a maior se deixou sentir a outra junto de si, colocando o queixo apoiado por sobre a cabeça morena.
— Eu tentei chegar a tempo mas... O carro quebrou, o meu namorado brigou comigo por não ter feito a revisão o que me motivou a sair do veículo sozinha pela noite e resultou num assalto em que pedi que o bandido levasse tudo, mas que pelo menos me deixasse com o ingresso. Depois disso fui para o meio da rodovia pegar uma carona. Parei a três quadras e vim correndo, tudo pelo Mayer, mas eu não consigo, não consigo ver... — E então a menor tremeu ainda mais junto da de cabelos loiros que a acalentou entre seus braços fortes.
De compadecida sentiu-se responsável. Não tinha nada com aquilo e como alguém indiferente poderia somente sorrir amarelo e, se muito educada, oferecer uma água e livrar-se da outra. Mas não pode, não quando ao aperta-la sentiu o mesmo ser feito de volta.
Começou a pensar. Não era sua obrigação fazê-lo no dia de sua diversão, mas continuou mesmo assim por alguns segundos até que, por nada especial, começou a reparar nas demais pessoas em seu entorno. Naquele momento final, embalados por um íntimo sentimento de amor os parceiros levavam as companheiras até seus ombros para que pudessem cantar com ainda mais vontade, tudo porque finalmente visualizam o rosto do homem pálido que falava sobre um amor brilhante que mesmo nas sombras precisava ser beijado, beijado antes que as luzes se apagassem.
Assim, antes que o último lampejo se desfizesse a mineira tomou a atitude de abaixar-se no meio do público, não precisando dizer duas palavras antes que a desconhecida subisse por seus ombros para ser levantada.
O momento foi muito breve. A decisão tomada quase na última estrofe da canção não permitiu que fosse mais que um único minuto, mas para a menina, segundo constatou Rafaella, foi o suficiente. Os olhos cor de chocolate pareciam deter um mundo de amor e realização quando viu o homem cantar que em meio a multidão o rosto da sua amada seria o único que veria, dizendo que somente ela poderia apagar todas as luzes.
A adolescente repetiu em conjunto cada uma das palavras, quase sem piscar para não perder os detalhes. Aproveitou com júbilo e gratidão a subversão de resultados que a deu felicidade quando pensou terminar sua noite de braços dados com a frustração.
Assim, quando sentiu acabar o que não mais esperava, a desconhecida descendeu dos ombros de Rafaella que a colocou com muita calma de volta ao chão. Nos olhos marejados descobriu a mágoa deixada para trás que deu lugar a uma alegria genuína e evidente.
— Muito obrigada eu... eu... — E mais um abraço, dessa vez sem tristeza, só com uma consideração preciosa. Rafaella queria levar tamanho sentimento para o coração, por mais momentâneo que parecesse ser naquela fria e tão nova cidade em que veio tentar a sorte como atriz.
— Não precisa agradecer — Falou com timidez colocando as mãos por dentro dos bolsos da calça assim que a menor decidiu separar-se dela.
— Como não? Você me ajudou a ver o John, é muito mais do que alguém que diz gostar de mim fez! Eu não só agradeço por hoje, mas serei eternamente grata a você. Te pagaria um refrigerante agora se aquele filha da puta não tivesse levado a minha carteira e... — Rafaella colocou dois dedos sobre os lábios da morena se divertindo realmente com a maneira que ela falava, mas tendo que solicitar por um momento que desacelerasse para poder absorver tudo. Aquela garota era uma presença muito forte e elétrica.
— Meu nome é Rafaella Freitas — Tentou começar aquilo de uma maneira mais comum, mais correta, para tanto, até mesmo estendeu a mão.
— Bianca. Bianca Andrade... — Apertou os dedos com o seu abrindo um largo sorriso na direção da loira que apreciou a maneira receptiva com que foi aceita.
— Você tem como voltar para sua casa, Bianca Andrade? — A mineira questionou controlando uma risada diante da careta que foi deferida em sua direção quando a mulher pareceu querer mentir.
— Sendo sincera? Não tenho — Contou envergonhada triscando o chão com seu all star azul. Rafaella levantou seu olhar com o indicador reparando em seus traços por trás de certa confusão.
— Então vamos levar você para casa, Bianca — Rafaella falou em um tom amável. Não era sua obrigação fazer mais nada por Bianca naquela noite, mas desde já um instinto protetivo e um tanto fraterno tomou conta do seu peito. Sentiu uma imediata afeição pela adolescente um tanto quanto louca que chorou nos seus braços antes até de perguntar seu nome. E sem que soubesse, naquela noite em que acabou apanhando da mãe da carioca, acusada de ter levado sua filha para o show sem permissão, soube que tinha conquistado um alguém para contar pelo resto de seus dias...
Para esses dias sem muitas atts veio a minha fic boiolinha para vocês conhecerem. Ansiosas para conhecer a princesa das flores e a polegarzinha?
VOCÊ ESTÁ LENDO
I'll give you everything
FanfictionIn the darkest night hour I'll search through the crowd Your face is all that I see I'll give you everything Baby, love me lights out Baby, love me lights out