A música ressoava por cada recôndito do apartamento localizado na zona sul da capital paulista. Era manhã surpreendentemente fazia sol. Os raios anunciavam aquela incomum boa-nova adentrando pela janela panorâmica da sala e atingia de uma maneira quase artística a bandeja localizada no balcão da cozinha em que Rafa Kalimann se deslocava dançando junto aos acordes que aprendeu a gostar desde aquela apresentação, há oito anos atrás.
Lembrava do momento com uma saudade boa, daquelas em que não podendo ser repetida era simplesmente guardada no lugar mais aconchegante do peito. Foi o dia que Bianca entrou na sua vida, e não diria pela porta da frente porque foi através de um empurrão, mas seria sempre uma história feliz.
A canção trocou e Rafaella esbravejou com a situação, pois era como se não a tivesse aproveitado como deveria, então retornou a reprodução do início apenas para voltar a estragar a música com seu tom desafinado. Era aquela mesma, a sobre beijos e abraços que tanto a encantava, pois depois daquela noite nunca mais sentiu a ausência de semelhante carinho, não com uma Bianca Andrade em sua vida.
— Droga! — A mulher esbravejou quando distraída em seus pensamentos acabou por transbordar um copo que havia tomado na parte alta do armário. Aquilo comprometeria toda a preparação.
Concentre-se, Kalimann.
Demandou a si mesma para que mantivesse a calma. A protagonista do dia deveria ser Bianca e não uma tragédia na cozinha.
— Está decente — Concluiu depois de limpar as bordas do recipiente com alguns guardanapos, realocando diversos elementos por puro nervosismo antes de que pegasse a bandeja pesada nas mãos.
— Eu diria que decente é pura modéstia da sua parte — A mineira escutou e por um breve segundo agradeceu não ter tomado nada antes de suspirar fundo. Bianca a teria feito derrubar com sua chegada sorrateira demarcada somente por sua inconfundível fragrância. Tratava-se do aroma dos produtos de cabelos que Bianca comercializava, portanto, não tinha como não ser marcante, já que tudo que a carioca tocava virava automaticamente de bom gosto aos olhos de Rafa.
— Quer me matar do coração, porra? — Perguntou Rafa levantando o olhar para a porta da cozinha só para encontrar Bianca vestida com uma camisa que batia em seus joelhos. A mineira conhecia bem aquela estampa da pantera cor de rosa, afinal, fora o motivo de ter levado a peça há cerca de cinco meses atrás. A mania de Bianca de se apropriar de suas roupas e ficar melhor nelas era algo que Rafaella jamais alcançaria compreender.
— Você aguenta, porque você é muito forte minha princesa das flores! — A morena falou saindo do seu espaço para abraçar a maior que a recebeu com o seu abraço-casa, daqueles que sempre esquentava seu corpo e coração.
— Bom dia! Dormiu bem? — Rafa quis saber apoiando a cabeça sobre a de Bia, se deixando desfrutar daquele encaixe tão confortável. Era como se existisse um acordo implícito dos corpos em que o da menor seria do perfeito tamanho para que pudesse apoiar sua cabeça.
— Muito bem! — Bianca confessou aspirando um pouco mais do cheiro em que esteve envolvida por toda noite passada, mas que simplesmente não se cansava. Rafaella era demasiado cheirosa.
— E como acordou? — A morena riu apoiada contra o peito da de cabelos castanhos. Rafaella sempre fazia isso, todos os dias, sem excessão. Não se contentando em saber se tinha tido um sono tranquilo se certificava de que se ao despertar Bianca estava satisfeita com o dia, como se numa negativa pudesse alterar a forma de girar do mundo para adequar-se à Andrade.
E a carioca amava aquilo.
— Com fome. Deu para sentir o cheiro do café lá do quarto — Informou deixando um beijinho no maxilar de Rafaella, que era onde alcançava, recebendo em resposta o seu beijinho na testa habitual de todos os dias.
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I'll give you everything
FanficIn the darkest night hour I'll search through the crowd Your face is all that I see I'll give you everything Baby, love me lights out Baby, love me lights out