I'll give you everything

Capítulo 03 - A Tulipa de Thumbelina

— ...Então ela fez o exame definitivo, de sangue, e deu o mesmo positivo. Estamos radiantes — Rafaella contou animada sem que se desse conta de que havia acabado de dar um discurso de quase uma hora sobre a gravidez de Bianca para uma Gizelly que ouviu atenta e sem interrupções. A capixaba estava analisando quanto tempo uma cadelinha poderia latir seguidamente sem tomar um pouco de água.

— Eu te perguntei se você estava bem e recebi como resposta até mesmo detalhes sobre a capela que pretendem batizar a criança! — A mulher de cabelos mais escuros destacou se divertindo com o leve rubor que tomou o rosto branco de Rafaella. Não queria constrangê-la, nem perto disso, mas não conseguia evitar algumas alfinetadas típicas de uma amizade cultivada desde a época em que a mineira vivia em Campina Verde.

— Eu sou a madrinha, logo, tenho que planejar tudo com minúcia e desde cedo para que saia perfeito! — Rafaella se defendeu antes de tomar um pouco de água. Gi controlou uma gargalhada olhando o relógio. 55 minutos.

— Não contente de ser mãe você ainda quer ser madrinha? — A advogada questionou, mas não seriamente. Sabia da relação de Bianca e Rafaella e as considerava as sapatões mais lerdas que conhecia. Viviam a vida de um casal de anos, protegiam-se, cuidavam-se e tinham uma química absurda. Na opinião de Gizelly não aproveitar aquilo era quase burrice.

— Eu não sou a mãe, A Bia é — Adorava o bebê como se fosse seu desde que ele ainda era só uma ideia, mas não era esse o papel que desempenhava na vida dele.

— Se sua esposa tem um bebê e você não é a mãe é porque você é corna — A capixaba permaneceu implicando. Previa a resposta de Rafaella, já que era sempre a mesma negativa quando o assunto era ela e Bianca assumindo algo de fato, mas iria aproveitar o ensejo para dar um de seus sermões.

— Como vou ser corna se não somos casadas? Ou namoradas? Ou nada disso que você insinua? — Rafaella contra-argumentou e Gi calou-se por um instante. Não porque não tinha o que dizer, mas porque o garçom finalmente tinha chegado com os pedidos.

— Mas deveriam ser casadas, namoradas, ou algo disso que eu insinuo há pelo menos oito anos. Não fosse a Bianca com aquela teimosia de insistir num relacionamento com o Nando por cinco anos ou sua passividade de não agarrar essa mulher quando ela se mudou "temporariamente" para sua casa há três por conta do fim do noivado vocês já estariam comemorando bodas de cobre — E Gi adoraria. Cobre era barato o suficiente para presentear sem muita pena.

Rafa não discordava de tudo que a capixaba disse. Se por um lado tinha por certo que não poderia ter se aproveitado da fragilidade de Bianca para afastá-la de Nando tinha certeza de que aquele não era um candidato adequado para sua polegarzinha. Sabia disso desde que a conheceu e descobriu que foi ele quem deixou Bianca sair sozinha pela noite a fora para chegar ao show de John Mayer e com o tempo sua aversão só piorou.

Lembrava que quando o desgosto de um com a presença do outro ficou insustentável Bianca, pressionada por ele, teve que escolher.

Era Rafa quem estava na sua vida e todos os dias provava a Bianca que não se equivocou em escolhê-la. Cuidava da morena como o homem nem sonhou.

— Nota cinco para esse enredo de romance que você criou na sua cabeça, Thitchela. No meu critério falta mais desenvolvimento dos personagens, mais arcos dramáticos e um casal que realmente seja casal — A loira falou começando a comer do fettuccine ao molho Alfredo que havia pedido. Estava diminuindo a ingestão de carne porque Bianca a havia fez  a ver um documentário muito assustador sobre a indústria da carne.

— Você sabe que isso tudo que você disse se substitui com um único elemento não é? Há pessoas que não leem histórias pelos personagens, arcos dramáticos ou casal, mas sim por causa do... — Suspendeu propositalmente levando algumas garfadas a boca. Deixou Rafaella fervendo de curiosidade por alguns segundos.