Três.

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Bernardo.

:— Como você a achou?

— Eu quem procurei Hanna. - Sophia falou.

Sua voz já não era doce e delicada, parecia sem vida.

Sophia parecia ainda mais bonita, apesar do jeito mais gélido. O corpo era bem distribuído como sempre, mas os cabelos agora estavam além dos ombros, negros, caindo em cascata e sua pele macia e clara ganhou algumas tatuagens. A sua presença, de fato, seria uma completa distração para mim, quis recusar com todas as minhas forças. Além do que, ela não merecia ficar presa em um ambiente ao meu lado, depois de tudo que fui capaz de fazer. Entretanto, sabia que não seria justo negar a Hanna depois de tudo que a mesma tem feito por mim.

— Sim. Ela me ligou alguns dias atrás contando que precisava sair da cidade, pois tinha se divorciado e já que éramos os únicos que morávamos fora da cidade...

Viro para pegar a caixa de pizza e entrego para Hanna, que tinha os olhos arregalados e assustados.

:— Chegue às oito da manhã, Hanna vai explicar o que tem que fazer. Aproveitem a pizza. — Olho para Hanna — Amanhã vamos conversar sério, irmãzinha. Boa noite.

Fecho a porta, encostando a cabeça na mesma. Ali, de olhos fechados, sinto os olhos encherem de lágrimas, que passam a rolar pelo meu rosto. Os punhos se cerram, em um momento de fúria abro os olhos e chuto a cadeira em minha frente.

Sigo para o quarto, tomo meu celular em mãos e disco o número de costume.

:— Carolina?

Sabia que ia ligar.

:— Não seja convencida. O caminho você já sabe.

***

Três dias depois

Sentia-me um alucinado cada vez que me deparava com Sophia. Havia um fantasma do meu passado perambulando em meu presente. Estava em meu escritório, contatando fornecedores de legumes e carnes, quando ouvi as batidas em minha porta e, de soslaio, vi um vislumbre de Sophia presente.

— Posso entrar?

Faço que sim.

:— Precisa de alguma coisa?

— Sim, na verdade. Me ligaram da escola onde deixei Caio e disseram que ele está com febre, creio que seja por nunca ter ficado longe de mim. Posso buscá-lo?

Engulo a seco.

:— E onde pretende deixar ele?

— Hanna disse que posso deixar com ela.

Suspiro.

:— Acredito que se ele está com febre por não ter sua presença, deixar com Hanna não resultará em nada. Traga-o para cá e eu fico com ele, pelo menos ele poderá de ver nas suas pausas.

— Com você? Hanna é médica.

:— O filho é meu, não é?

— O filho não é seu, Bernardo. O filho é de Derek.

Ela o perdeu?

Abro a boca, mas prefiro não falar o que desejo. Apenas encaro a luz no teto e volto a encarar Sophia.

:— Tem um telefone ao lado da porta da cozinha que você pode usar para falar com a Hanna. Vá.

Tranco a porta e deito no sofá disposto no escritório. A mulher que amei, agora me odiava e o filho que pensei que tinha, nunca chegou a nascer. Ter Sophia em meu restaurante era trazer a tona um passado dolorido, agora tinha toda certeza disso.

Teorema da Paixão [REVISADO]Onde histórias criam vida. Descubra agora