Doze.

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Bernardo.

Depois do almoço e de algumas conversas jogadas fora, todos foram dormir, exceto por mim. Em minha cabeça havia um turbilhão de pensamentos que não conseguia acalmar se não com calmantes e estava deixando isso para noite.
Agora mexia em meu celular tentando me comunicar com minha amiga, Teresa, que tinha ficado responsável por cuidar da Pediatria enquanto eu e Gabriel estávamos fora. Depois de mais de dez ligações não atendidas, optei pelo caminho menos desejado. Falar com Rodrigo.

— Eu já pedi para não ligar mais. — ele começou dizendo.

:— Não quero nada de você, Rodrigo. Quero saber como estão minhas crianças e não consigo falar com Teresa.

Ninguém disse nada por uns instantes, então presumo que ele se sentiu decepcionado por não me ter mais em seus pés feito um cachorrinho.

— Teresa está em cirurgia e eu estou fazendo as rondas matinais com os internos. As crianças estão bem, as que chegaram daquele incêndio estão se recuperando mais depressa que o esperado.

Respiro aliviada.
Alguns dias antes de decidir que queria licença do hospital, cinco crianças vítimas de um incêndio em uma sorveteria chegaram no hospital, uma morreu no caminho devido às severas queimaduras e eu prometi as outras quatro que isso não aconteceria com eles. Mesmo longe, fico feliz que meu plano médico e cirúrgico esteja dando certo para eles.
Sorrio.

:— Teresa está operando alguma criança?

— Sim. Conseguimos um coração para Anne.

Comemoro em silêncio, gesticulando um "YES!" com o braço livre do telefone. Entretanto, precisei encerrar a chamada quando a campainha tocou inesperadamente.

:— Preciso ir.

Deixo o telefone sobre o sofá e corro em direção à porta. Uma vez que abro, vejo um homem parado em minha frente com um buquê de rosas vermelhas cobrindo seu rosto. Pensei que seria para Bernardo, até Gabriel aparecer atrás das rosas com um largo sorriso e perceber que, na verdade, elas eram para mim.
Estava presa no mesmo lugar, sem reação. O sorriso de seu rosto diminuiu aos poucos, até o mesmo decidir falar.

— Por favor diga que gostou da surpresa, pois foi muito difícil vir até aqui sem ter certeza de que era onde vocês estavam e convencer o porteiro a me deixar subir sem avisar e estragar tudo. — sorri amarelo.

Uma risada escapa dos meus lábios, seguro as flores em meus braços e depois de sentir seu perfume com um sorriso no rosto, as deixo em cima de um balcão e giro sobre meus pés para abraçar Gabriel.

:— Obrigada, elas são lindas, Gabe.

Fecho a porta, caminhando até o sofá e sinto Gabriel me acompanhar para sentar ao meu lado.

:— O que faz aqui, então?

— Eu precisava falar com você e não podia ser dito pelo telefone. — havia nervosismo em seu semblante.

:— O que houve? Algo com alguma criança? Com você?

Ele suspira.

— Comigo. Eu não sei enrolar, então vou ser direto, eu gosto de você, Hanna. Gosto de você desde a primeira semana que começamos a trabalhar juntos e sabia que não era simples admiração entre amigos de trabalho ou só sexo. Você tinha algo diferente, um sorriso, um jeito totalmente diferente das pessoas que havia conhecido e eu queria aquilo na minha vida, de certo, mas tinha medo de falar e isso atrapalhar nosso trabalho. Depois do dia que você foi embora sem avisar, pensei que nunca mais fosse trabalhar com você, aliás, pensei que algo tinha acontecido, ainda mais depois que seu irmão apareceu sem saber onde você estava também. O caso é, decidi que não queria mais correr o risco de guardar isso só para mim, é horrível te ver e sentir o estômago embrulhar e ficar nervoso, mas é mais horrível ainda olhar para você e perceber que você não me olha do mesmo jeito porque nem sequer sabe o que se passa na minha cabeça.

:— É isso?

Gabriel pareceu se espantar.

— É isso.

Por um momento, penso em tudo que eu passei, como um flashback de alguns segundos em minha mente. Passei a vida inteira me dedicando ao amor profissional e nunca ao amor pessoal, nunca tirei férias, quando finalmente me entreguei à um homem de verdade, ele me usou feito um brinquedo descartável. Lembro das palavras de Sophia, de Bernardo. Tinha que aproveitar minha vida, me permitir sentir algo por alguém que valha a pena. Então, ali, em poucos segundos de coragem, tomo minha decisão.
Inclino meu rosto em direção à Gabriel e o beijo, uma, duas, três vezes até o simples toque de lábios se tornar algo mais demorado. Sinto seu lábio sorrir, fazendo com que mil borboletas se agitem na minha barriga.

:— Você realmente só veio até aqui para isso?

Gabriel assentiu, segurando minha mão. Sorrio, o abraçando novamente.
Ouço um pigarreio que nos faz virar depressa em direção ao corredor, onde Sophia e Bernardo estão abraçados, assistindo àquilo.
Sinto minhas bochechas se aquecer enquanto os dois mantêm olhos brilhantes e sorrisos bobos no rosto.

:— Ora, o que foi? Só os dois podem ficar de namorico agora?

Eles dão risada.

— Bem vindo à família, Gabriel. — Bernardo se aproximou, cumprimentado ele com um toque de mão.

— Obrigado.

— Está com fome? — Sophia, como sempre preocupada e com instintos de mãe, perguntou.

— Ah, não, eu estou bem. Almocei agora a pouco no meu quarto. Estou dois andares à baixo de vocês.

:— Mesmo? Que maravilha!

Gabriel faz um aceno positivo com a cabeça.

— Olhe pelo lado bom, mana, agora você também tem uma companhia para sua noite de filmes com Caio.

Dou risada.

:— Se quiser ficar, vai ser muito bem vindo.

— Claro. Não sou tão fácil assim de se livrar. — Gabriel brincou.

***

Bernardo.

O restaurante era enorme e tinha uma decoração rústica que deixou Sophia boquiaberta, já que sempre foi amante desse estilo.
Sentamos em uma mesa reservada do lado de dentro, uma vez que a neve logo passaria a cair e se tornaria impossível comer do lado de fora. Havia velas à mesa e uma taça de vinho com pratos cobertos por uma tampa de metal nos aguardava.

— Isso tudo é tão lindo. — Sophia disse com ar de hipnotizada.

:— Gostou?

Ela assentiu, ao passo que eu me encarregava de puxar a cadeira para a mesma sentar. Dei a volta na mesa e me sentei em sua frente, seguro sua mão, na tentativa de aquecer a minha e me livrar da ansiedade.
Era hora de colocar o plano em prática.

Tinha pedido ao garçom para preparar o prato principal enquanto comíamos a entrada em nossa frente, macarrão francês. Entretanto, me deliciava mais em ver Sophia saboreando o seu e fazendo caretas de satisfação do que com meu próprio. Era engraçado de se assistir.

— O que você está rindo? Isso está maravilhoso!

:— Você é uma graça. — levo a mão até seu cabelo, o pondo atrás da orelha.

Depois de algum tempo, estávamos terminando nossas taças de vinho quando duas taças de champanhe chegou até nossa mesa.

:— Tenho uma coisa para você.

Seus olhos se fixaram em mim, atentos como os de uma criança curiosa. Retiro a caixinha preta aveludada de meu bolso e então vejo um enorme sorriso em seu rosto.

:— São os pares de brinco de esmeraldas preferidos da minha mãe, é passado para as mulheres de nossa família. — digo, abrindo a caixa. Seus olhos brilhavam.

— Então não posso aceitar. Hanna ficará sem.

Dou risada.

:— Hanna não tem as orelhas furadas porque não gosta de brincos, ela pediu a minha mãe para dar à você e minha mãe dará a Hanna um colar de esmeraldas que ela também possui.

Sophia pareceu aliviada, finalmente segurando a caixinha em mãos. Tirou cada brinco de seu lugar para colocá-los em suas orelhas.
O prato principal chegou logo depois, então mandei uma mensagem para Hanna e pedi que eles estivessem em frente à Torre em alguns minutos.

Teorema da Paixão [REVISADO]Onde histórias criam vida. Descubra agora