Quatorze.

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Sophia.

Tudo ao meu redor parecia girar, meu coração batia forte, precisei sentar e me sentia cada vez mais avoado com a gritaria que se instalou.

— Eu não acredito que você fez isso conosco! — Ana gritava.

— Isso? — o tom de desprezo na voz de Sophia era nítido. — Eu estou grávida e isso é o que você tem a dizer?

Hanna também falava, as vozes se misturavam. Vi Gabriel pegar Caio no colo, que parecia não entender nada do que estava acontecendo, e o levar para dentro de casa, em direção ao quarto. Com todas àquelas vozes, todos aqueles movimentos bruscos, sentia que estava enlouquecendo. Mais um momento de felicidade arruinado por Ana.
Depois que precisei fugir pelas ameaças feitas por Ana, comecei a ter crises de pânico durante meses seguidos, foi quase um ano indo à psicólogos, psiquiatras, frequentando terapias em grupo, tudo para me recuperar. Havia anos que eu não sabia o que era ter uma crise dessas.
O ar faltava, as mãos soavam, a visão ficava turva e confusa. Então respiro fundo por um momento e me concentro em um ponto fixo da mesa. A taça cheia com meu melhor vinho.

:— CHEGA!

As vozes cessaram, todos olhavam para mim. Entretanto, meus olhos se fixaram em Ana.

:— Você veio aqui apenas atrapalhar tudo, enquanto sua filha estava pensando em fazer as pazes, percebe? Saia da minha casa agora.

— Isso é um absurdo. — Ana rebateu. — Sophia, vai deixar ele falar assim comigo?

— Ora, Ana, não coloque nossa filha no meio! — Carlos finalmente falou algo.

Havia fúria em seus olhos, qualquer um poderia ver. Ele caminhou até Sophia e passou o braço em torno de sua cintura, a envolvendo ali.

— Eu cansei de ficar calado e ouvir suas ordens por medo do seu comportamento, e honestamente, eu não ligo, mas não vou deixar que você destrua a vida da nossa filha! Do que importa se você gosta ou não do rapaz? Ela está feliz! Isso é o que importa, ou pelo menos deveria, para nós, pais! Deixe de ser uma bruxa xexelenta!

Mordo o lábio, segurando a risada, assim como Hanna.

:— Por favor, vá embora. Você não é bem-vinda em minha casa, a não ser que esteja disposta a estar ao lado de sua filha, como o seu marido.

— Não enquanto ela estiver ao seu. — Ana arruma a bolsa em seu ombro, andando tão rápido quanto conseguia para fora do apartamento.

Sophia abraça seu pai durante algum tempo, quando se afastam, Carlos toma sua mão e os dois caminham para a sala, onde se sentam no sofá para conversar.
Olho para Hanna, que agora recolhia todas as coisas que haviam sob a mesa para levar para a cozinha.

:— Não precisa limpar nada, tudo bem?

— Tudo bem.

Em silêncio, carregamos as coisas para a cozinha e organizamos tudo dentro da pia depois de algumas idas e vindas da varanda para a mesma.
Uma vez que não tinha nada mais para se fazer, Hanna foi à procura de Gabriel, que provavelmente continuava com Caio e eu deixei que Sophia aproveitasse seu tempo com Carlos ao passo em que eu tomava banho.
O dia tinha sido exaustivo e confuso, apenas um bom banho e uma longa de noite de sono me ajudariam a assimilar todos os acontecimentos da noite.

Tiro as roupas, deixando todas no chão e afundo na banheira. Fecho os olhos. Vou ser pai outra vez. Aproveito o tempo sozinho com meus sentimentos e permito que algumas lágrimas escapem dos meus olhos.
Naquele momento, prometi que faria tudo que não pude fazer da primeira vez.

— Eu posso entrar? — Sophia estava na porta.

:— Claro. — sorrio.

Sophia fecha a porta do banheiro e senta ao meu lado, do lado de fora da banheira.

— Hanna e Gabriel já foram e deram uma carona para o meu pai e Caio já está dormindo.

:— Gabriel salvou nossas vidas, Caio ficou no meio de toda a confusão.

— Sobre isso, eu quero pedir desculpas à você Bernardo, nunca devíamos ter inventado esse jantar. Você quis me ajudar e no final saiu prejudicado. Eu nunca mais vou deixar minha mãe se aproximar da nossa família, eu juro! Sinto muito mesmo!

Limpo as poucas lágrimas que rolam por seu rosto e lhe dou um beijo singelo.

:— Não chore, olhe pelo lado bom, Carlos está do seu lado, ele é um bom homem e vai ser um bom avô.

Sophia sorri.

— Tem uma coisa que eu não contei.

:— O que?

— É uma menina.

Arregalo os olhos.
Quando Sophia engravidou de Caio, ela ria todas as noites que passamos juntos por eu pedir que fosse uma linda menina. Bem, eu amo Caio, isso era óbvio, e agora ele teria uma irmãzinha para cuidar.
Transbordava tanta felicidade que apanhei Sophia e a puxei para dentro da banheira, de roupa e tudo, lhe arrancando uma risada escandalosa que abafei com uma sequência de beijos.

:— Eu te amo, sabia? E vou amar essa menininha assim como já amo Caio.

— Eu te amo também!

***

Sophia

Na manhã seguinte, quando abri meus olhos, precisei piscar algumas vezes até me acostumar com a luz do sol que banhava todo o quarto.
Ao me espreguiçar sinto falta de Bernardo na cama, então levanto e uma vez que faço o caminho da sala, me deparo com um grande café da manhã sobre o balcão. Havia pães, uma jarra de suco, ovos, pedaços de bolo e duas caixas de presentes embrulhados.
Caio estava sentado em um dos bancos, se deliciando com um pedaço de bolo e Bernardo comia torradas com um copo de suco.

— Ora, ora...

Bernardo olhou para mim, rindo.

:— Eu percebi que devido aos acontecimentos de ontem, não reagi corretamente em relação a informação de que vou ser pai. — ele desviou os olhos para Caio. — Então decidi preparar esse café da manhã e Caio me ajudou a encontrar presentes.

— É verdade. — Caio comentou.

Rimos, por um instante.
Bernardo caminha até a mim e envolve seus braços em volta de minha cintura, me dando um longo beijo.

:— Eu estou muito, muito feliz, Sophia. Eu amo vocês, vocês três.

Fico na ponta dos pés para lhe dar outro beijo e um longo abraço enquanto sinto sua mão alisar minha barriga.

— Eu também amo vocês três.

Teorema da Paixão [REVISADO]Onde histórias criam vida. Descubra agora