Nove.

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Bernardo.

Quando as portas do restaurante finalmente arrearam, me lancei no sofá do escritório e permaneci deitado por alguns instantes. Apenas até Sophia aparecer com Caio adormecido em seu colo.

— Eu posso dirigir se estiver muito cansado. — ela sugere.

:— Não se importa?

Sophia nega com a cabeça.

— Não acha que deveríamos passar no hospital e ver o que está acontecendo com a Hanna?

Sento no sofá, ao passo que ponho meus sapatos novamente, repasso em minha mente o comportamento esquisito de Hanna desde o dia que Caio foi para o hospital, segundo Sophia, mas que só tive certeza hoje, ao falar com a mesma no telefone.
Hanna nunca foi difícil de ser desvendada, desde que o assunto não fosse relacionamentos, sempre foi uma menina alegre, saideira, não tinha frescuras.
Fico de pé, tomando Caio em meus braços com leveza enquanto Sophia desce na frente e a sigo até o carro, onde sento no banco de trás com Caio.

:— Devíamos comprar uma cadeirinha para o Caio, não acha?

— Podemos ver isso, não tem algum lugar aqui por perto? — Sophia me olha pelo retrovisor.

Faço que sim.

:— É só seguir direto e virar à direita depois de duas quadras, tem um Wall Mart.

Em silêncio, aproveito o momento para acariciar os cabelos de Caio, brincando com o mesmo enquanto ele dorme. Reparo Sophia nos olhar com um sorriso no rosto pelo retrovisor vez ou outra, o que me fazia querer alcança-lá para lhe dar um beijo.

— Não disse se devemos ou não ir atrás da Hanna, meu bem.

Saio dos meus devaneios, olhando para ela.

:— Será que ela ainda vai estar lá?

— Não custa tentar, não acha? Hanna está sempre ajudando todo mundo, mas desde que cheguei nunca vi ela tomar um tempo para si.

Paro para pensar nas palavras de Sophia e acabo me preocupando com a gravidade daquela verdade. Hanna faz muito por todos e nunca vi fazer algo por si ou alguém fazer algo por ela, e isso me inclui.

:— Podemos comprar a cadeira para o Caio e ir para o hospital, o que acha?

— Parece um bom plano.

Quando o carro para diante do enorme super mercado, decido que é melhor apenas eu entrar e Hanna ficar com Caio, do contrário, teríamos que levar ele para dentro do lugar e ele provavelmente acordaria.
Saio do carro e caminho depressa para dentro do lugar gelado e vazio, indo em prateleiras aleatórias em busca de cadeiras para crianças. Eu sabia onde ficavam os legumes, os materiais de cozinha e de limpeza, mas a tarefa de ser pai ainda era muito recente para ser acrescentado nas minhas habilidades.

— Você precisa de ajuda? — um homem vestindo uniforme do Wall Mart e patins se aproxima.

:— Sim. Onde posso encontrar cadeira de criança para o carro?

O homem se vira para andar entre algumas prateleiras e me leva até a parte onde havia uma enorme parte escrito "Ala Infantil", e lá estavam as cadeiras. Agradeci ao homem e uma vez sozinho escolhi a cadeirinha preta com desenhos de foguetes e astronautas no estofamento.
Levo ao caixa, pago e corro de volta para o carro o mais rápido que posso, do contrário perderíamos o horário de saída de Hanna.

— Você se perdeu, não foi?

Olhei para Sophia e ela simplesmente riu, fazendo com que eu compartilhadas a risada com ela também.

:— Como sabe?

— Coisas de criança ficam na ala das crianças e além do mais, você demorou mais 10 minutos num lugar vazio.

Prendo a cadeira no banco e depois ponho Caio na mesma, me certificando de que ele está preso e seguro. Só depois sento no banco da frente, ao lado de Sophia. Coloco meu cinto e então Sophia dá partida novamente, mas dessa vez, atrás de Hanna.

***

Caio acordou no caminho do hospital, o que nos fez o levar para dentro do hospital também. Estava frio, como sempre, e também havia algumas pessoas na sala de espera conversando com médicos. Alguns sorriam, outros choravam. Por esse é outros motivos não consegui seguir a mesma carreira que minha irmã e sequer posso entender como ela consegue levar a vida aqui e ainda se sentir realizada, feliz.
Deixo os pensamentos de lado e caminhamos até a recepção hospitalar.

— Boa noite, gostaríamos de falar com a doutora Hanna. — Sophia fala com a recepcionista.

— Desculpe, mas a doutora está de licença por uma semana.

Sophia e eu nos encaramos.

:— Algum motivo em específico?

— Isso eu não sei, senhor, sou apenas a recepcionista. — a moça responde.

Vejo um médico se aproximar, um homem alto de olhos cinzentos e cabelos castanhos. Ele esticou a mão em minha direção depois de tirar o chapéu de cirurgia.

— Meu nome é Gabriel, desculpa me intrometer, mas vocês conhecem a Hanna?

:— Sim, eu sou o irmão dela. Você sabe de alguma coisa?

Gabriel nega, enquanto sua boca se transforma em uma linha reta.

— Era o que eu ia perguntar para vocês. Hanna se ausentou de repente e cancelou todas as cirurgias dela, eu tive que assumir tudo. Fiquei preocupado, pois ela nunca abandonou os pacientes assim.

Sinto meu coração doer, como um pressentimento ruim.

:— Obrigado Gabriel, mas agora precisamos ir. — olho para Sophia :— Vamos para o apartamento dela.

— Certo, me deixem por dentro, ela é uma boa médica!

Assinto e aceno para Gabriel enquanto Sophia, eu e Caio andamos depressa para o carro. Assumo o volante dessa vez, sentindo meus músculos tensos. Dirijo rápido, mas não demasiadamente, visto que Caio está no banco de trás.
A casa de Hanna ficava há três ou cinco quadras do hospital, não levaria muito tempo para chegar, e mesmo assim sentia como se tivesse passado uma eternidade dentro do carro. Talvez fosse a pressa, talvez fosse a preocupação. Por quê? Por que Hanna não me procurou e pediu ajuda? Aliás, por que não notei antes que havia algo de errado com a minha irmã?

:— Se algo acontecer com ela, Sophia, eu nunca vou me perdoar.

Sinto a mão de Sophia alisar meu ombro.

— Fique calmo, aposto que ela só está doente. Ela tem trabalhado muito e não quis preocupar ninguém.

Respiro fundo, desejando que Sophia esteja certa, como sempre.
Quando avisto o apartamento de Hanna, após algum tempo dirigindo, procuro por uma vaga e deixamos o carro ali. Subimos de escada, visto que ela morava no primeiro andar e tocamos a campainha repetidas vezes.
Ninguém atendeu.

— Hanna? Abre a porta, eu sei que você ta aí!

Teorema da Paixão [REVISADO]Onde histórias criam vida. Descubra agora