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Morwen Kvaternik
— Você tem uma entrevista com a Forbes na semana que vem. Precisa aprovar a decoração para sua festa beneficente do próximo mês e avaliar quais vestidos você prefere. Também há aquela entrevista com a Oprah que você tanto enrolou, precisa decidir se de fato irá querer essa entrevista ou não. Também há alguns convites de bailes e eventos beneficentes que pedem pela sua presença.
Massageio as têmporas, apertando os olhos com força e rangendo os dentes.
De todas as merdas de mídias sociais que eu tinha que lidar para a propaganda e marketing da minha empresa, aparecer em festas e dar entrevistas eram as piores coisas. Eu não sou uma socialite com tempo de sobra para contar sobre minha rotina de cuidados com a pele ou como começo o meu dia. Nada em mim é monótono e tampouco é calmo. Posso estar sentada atrás da mesa lendo diversos contratos pela manhã e no almoço posso estar deslizando para debaixo da terra a fim de encontrar uma caverna subterrânea nunca descoberta. Minha vida e minha rotina são inconstantes e incertas, por isso não devo me prender a nada.
Abro os olhos e olho para Adrian, parado do outro lado da minha mesa com uma agenda de cronogramas do que eu deveria fazer pelos próximos meses — no mínimo. Os olhos verdes do meu assistente executivo estão fixados em mim, esperando por uma resposta. A caneta estava em sua mão, a ponta tocando a superfície do papel, pronto para escrever minhas respostas.
Respiro fundo e abro o botão do meu terno feminino, me recostando na cadeira e esticando as pernas.
— Como está o andamento da escavação na tumba recém encontrada no Vietnã? — pergunto, mudando totalmente o foco de Adrian. Ele ergue as sobrancelhas e abre a boca, pego de surpresa.
Adrian cuida da minha imagem social e da mídia. E recebe um valor bem elevado para me fazer parecer uma mulher extrovertida e experiente no ramo da arqueologia. Ou seja, ele era pago para me fazer parecer o que eu definitivamente não era. Festas foram feitas para me irritar. Nelas estão as coisas que menos gosto de lidar: pessoas. E levam à atividade que menos gosto de fazer: interação social. É sempre desconfortável ter de sorrir a noite toda, falando em voz baixa num salão imenso cheio de pessoas com uma música clássica no fundo. Eu odeio músicas clássicas, e misturar esse fato junto das pessoas mais ricas e banais e fúteis dos Estados Unidos me deixam à ponto de começar a gritar como se eu fosse uma fugitiva de um manicômio.
Quando meu pai deixou as empresas Kvaternik em minhas mãos, achei que eu seria como a Lara Croft: mais rica do que Deus e com tempo o bastante para se aventurar ao redor do mundo na procura de tesouros perdidos ou tumbas nunca encontradas.
Mas a verdade é que me decepcionei feio. Eu caí tão feio desse sonho hollywoodiano que me tranquei no banheiro, no meu primeiro dia, e chorei. Depois fiquei com raiva, e até pensei em pedir minha demissão. Mas meu pai me forçou, e disse que era isso o que minha mãe gostaria: que eu fosse uma mulher importante, a única a comandar as empresas que ela deixou para mim antes de desaparecer.
Mas mesmo eu sendo uma das mulheres mais ricas do mundo, com um império já formado antes dos 30 anos, nada disso me dá a satisfação de estar no meio das escavações do desbravamento das aventuras que eu já experimentei antes de assumir as empresas. Assumir esse cargo não significa nada, porque não fora por mérito. Foi algo que minha mãe deixou sobre os meus ombros, em um testamento feito de última hora antes de seu sumiço. Ela sumiu e levou meu futuro de aventureira com ela.
Adrian continua me encarando como se não tivesse resposta para o que eu lhe perguntei. De certa forma ele não teria. Ele era pago para tomar conta da minha imagem, não para se aprofundar em textos antigos de línguas mortas e sobre escavações no Vietnã. Adrian estava aqui para me tornar uma pessoa amigável e carismática para a mídia, não para se preocupar com artefatos centenários.
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{AU CCity} O Outro Lado
FanfictionMorwen Tsalie Kvaternik não acreditava em magia. Não acreditava em contos de fadas ou qualquer espiritualidade em coisas que eram explicadas apenas como "milagre". Morwen era cética. Completamente racional da cabeça às pontas dos pés. Sendo a arqueó...