☽ Capítulo 03 ☾

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Morwen Kvaternik


Minha cabeça dói como o inferno conforme retomo a consciência. Minha boca está seca como se tivesse enfiado um punhado de areia em minha garganta e minha língua está pesada, inchada.

Solto um resmungo quando me movo sobre a superfície macia em que estou deitada e tento abrir os olhos. A claridade no teto me faz piscar e fechar os olhos outra vez, sentindo-os lacrimejar por trás das pálpebras fechadas. Um cheiro esquisito envolve o ar ao meu redor; um aroma tão estupidamente doce que chega a ser enjoativo. Apoio as mãos sob mim, encontrando forças para me levantar e apagar a provável vela aromática que alguma empregada de casa tenha acendido.

Jogo as pernas para fora da cama e finalmente coço os olhos, desembaçando minha visão. Abro os olhos, então encontro uma parede de mármore branco bem na minha frente. Por alguns segundos eu apenas encaro aquela parede lisa e resplandecente, tentando encontrar no fundo das minhas memórias onde eu poderia estar. Muito lentamente eu girei o rosto, encarando a imensidão do quarto — então arquejei em desespero, choque e surpresa, sentindo o pânico começar a encher meus pulmões conforme estudei o ambiente desconhecido.

As paredes são de mármore branco com detalhes em quartzo rosa; a luz suave do dia ensolarado é filtrada por cortinas de organza brancas, dançando livremente conforme a brisa do vento invade o quarto. O chão, em sua grande maioria, é adornado com um tapete felpudo em tons de pérola e prata, onde cada passo poderia ser uma caminhada sobre as nuvens. Ao centro do quarto, um majestoso candelabro de prata com gotas de cristais nas pontas pende do teto, espalhando faíscas de luz que refletem pequenos arco-íris suaves em cada canto do quarto.

Me levanto e caminho em direção a uma das janelas, caminhando sobre o tapete macio e descobrindo o quanto realmente era aveludado. A mobília é esculpida em madeira branca, com detalhes delicados em prata e curvas elegantes. Uma cama com dossel, coberta por lençóis de linho branco, ocupa o centro do quarto; fronhas de seda em tons pastéis eram recheados com almofadas e travesseiros macios, colocados aos montes sobre o colchão onde eu estava deitada segundos antes. À frente da cama, uma penteadeira ricamente decorada exibe espelhos facetados que refletem a beleza etérea do espaço. Sobre ela, frascos de vidros contêm líquidos e óleos e ceras e produtos de diferentes cores.

No canto do quarto, uma porta em forma de janela revela uma pequena varanda com uma mesinha de ferro batido e duas cadeiras e, para além da varanda, a ampla janela revela uma vista deslumbrante de jardins exuberantes e torres distantes.

Há outras duas portas fechadas perto da penteadeira, mas não encontro coragem o bastante para descobrir o que há por trás das portas. Eu me viro, procurando alguma coisa sobre as mesinhas de cabeceira ao lado da cama. Observo a imponente cabeceira da cama, decorado com prata retorcido e quartzo branco brilhante. Nas mesinhas, vasculho dentro das duas gavetas que fazem parte do móvel e não encontro nada de útil. Nada de celular ou qualquer aparelho eletrônico que eu possa usar como fonte de comunicação.

Por um segundo, então, me deixo cair sentada na ponta do colchão e tento me lembrar de como eu vim parar aqui. De início, penso que eu poderia ter aceito um daqueles convites para as infinitas festas beneficentes e que eu poderia estar no quarto de algum castelo na Espanha, local escolhido para a celebração pelo anfitrião. Depois, me dou conta de que isso não seria possível por dois fatores: primeiro, odeio festas e jamais iria em uma onde o local seria a merda de um castelo.

E, em segundo lugar... ontem eu estava em casa. Eu estava na minha casa muito puta com o meu pai e com uma provável idosa louca que deixou um espelho na porta da minha casa.

{AU CCity} O Outro LadoOnde histórias criam vida. Descubra agora