☽ Capítulo 02 ☾

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Morwen Kvaternik


A casa está silenciosa. Acho que desde o desaparecimento da minha mãe nossa casa nunca mais foi barulhenta como antes.

A música sempre estava ecoando pela mansão, a qualquer hora do dia. Parecia que estávamos sempre em uma festa, e foi por isso que minha mãe comprou todo um terreno no alto duma colina. Sem vizinhos, sem reclamações do som sempre alto.

Agora, depois de seu sumiço, o único barulho que ouvíamos era o burburinho ocasional de conversa entre os empregados e o barulho do vento.

Eu apreciava o som do vento, era um dos sons que eu mais gostava na vida — logo depois da voz da minha mãe. Mas o primeiro tópico do ranking estava fora de cogitação desde os meus 16 anos.

Deixo minha bolsa no aparador ao lado da porta de entrada e ergo os pés para cima, tirando um salto de cada vez e os segurando na mão esquerda. Olho para a escadaria de mármore à minha frente. Depois para os corredores do meu lado esquerdo e direito. Silêncio.

Sempre silêncio.

O sol do final da tarde entrava em raios coloridos através do vitral no alto da parede, depois das escadas que levariam para cima. Ouço os passos ocasionais de alguma empregada no andar de cima, e as madeiras rangendo. Mesmo a casa sendo, tecnicamente, bem velha no quesito de idade, ainda era bem preservada. Eu fazia questão de todo ano dar uma geral em todos os cantos que eu percebia a necessidade de alguns reparos. Ano passado reconstruímos o último andar, e no último semestre reformamos o jardim por completo, colocando uma piscina de mais de cem mil litros no jardim de trás. Me desfiz das minhas plataformas de treino de quando eu era criança, mesmo sobre as lamúrias do meu pai ao ver os homens retirando a pequena torre de escalada que eu utilizava antes. Era algo desnecessário agora, já que eu não utilizava mais uma torrezinha de 5 metros como treino. Geralmente eu escalava montanhas reais para ser algo mais real.

Mas era óbvio que meu pai não queria se desfazer do meu antigo lugar de treino por dois motivos. O primeiro deles era que meu pai gostava de coisas que o faziam lembrar da minha mãe — mesmo que isso significasse perder metros de espaço para utilizar em algo realmente útil. E a segunda coisa, e mais patética, era que ele sempre teria a esperança de eu ter um filho antes dos 30. Se há uma coisa que meu pai acredita nesse mundo com fervor, é que ele será um ótimo avô. E que, por eu ser a única filha, devo dá-lo um neto antes de sua morte.

Ele é dramático demais para um homem com menos de 60 anos.

Começo a subir as escadas, pensando na coluna de papéis que eu teria que assinar antes de dormir. Minha coluna dói só em pensar em todos os documentos que terei de ler e assinar para amanhã.

Quando estou no alto da escadaria, perto de subir mais um lance dos degraus e tomar um banho de banheira por mais de uma hora, a campainha toca. Fico em pé na escada, unindo as sobrancelhas em confusão.

Quem poderia ser? Não há ninguém por pelo menos 5 quilômetros daqui, e se houvesse alguém querendo falar comigo com certeza um dos guardas no portão teriam me ligado e informado de que alguém estava querendo me ver.

Espero ver se alguma empregada virá atender a porta. A pessoa do lado de fora tocou a campainha mais duas vezes antes de eu suspirar e começar a voltar a descer as escadas, em direção à porta. Jogo os saltos ao lado do aparador com minha bolsa e giro a chave na maçaneta, rezando que não fosse meu pai do outro lado, com a desculpa de mais uma vez ter esquecido suas chaves em seu quarto. Peço a qualquer divindade que não seja ele, porque não sei o que farei à ele caso seja meu pai viciado e festeiro.

{AU CCity} O Outro LadoOnde histórias criam vida. Descubra agora