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𝙿𝚛𝚎𝚜𝚎𝚗𝚝𝚎...

22/02
aniversário
da morte de Ellen
———

Seis anos. Não acredito que já se passou todo esse tempo desde a última vez em que pude ver a vida retratada em seu olhar, tão pouco acredito que perder as contas nunca esteve em minha lista de afazeres. Como poderia me esquecer das duas datas que marcaram a minha vida com forças completamente diferentes? Isso não era possível.

Primeiro vinha aquela que me causou intensa felicidade. Vinte de novembro, o dia em que dissemos "sim" frente ao juiz de paz. Nunca havia sido tão feliz até aquele momento. Ouvir a resposta positiva deixando os seus delicados lábios, foi como se eu tivesse obtido a habilidade de cruzar todos os universos em apenas um único segundo. Naquele instante eu havia entendido o verdadeiro significado por trás da felicidade, esse que ganhou uma proporção ainda maior quando a nossa filha nasceu.

No mundo, nada pode durar para sempre, pois um equilíbrio precisa ser mantido. Mas não estava preparada para aquilo, queria ter tido mais tempo, ter tido a chance de viver mais momentos. No entanto, a balança precisava se manter alinhada. Uma vida sempre se esvaía para que uma nova pudesse nascer. É a natureza da criação, e em alguns casos, temos a troca de vidas entre pais e filhos para isso.

Vinte e dois de fevereiro, o dia em que eu vi a minha vida perder o seu sentido, o dia em que a pessoa que mais amei na vida me deixou, o dia em que minha filha, com apenas três meses nesse mundo, perdeu a mãe.

Nessas duas datas, todos se colocam ao meu lado para me acompanhar ao lugar onde vou sempre poder ter uma conversa simples com ela, mesmo sabendo que uma resposta nunca seria possível de ouvir. Para mim, só de estar ali já valia alguma coisa, me sentia bem em pronunciar algumas palavras para ela.

Havia se tornado uma rotina para mim, estar de férias no dia vinte e dois do segundo mês do ano. Mário havia decretado o mês de fevereiro como o meu mês de descanso. Desde que nos conhecemos, ele vem sendo sempre um ótimo amigo, às vezes, até mais do que isso. Em muitas ocasiões já o vi como um pai, e isso só se firmou quando papai perdeu a vida em um infeliz acidente de carro quando voltava do trabalho há dois anos atrás. A minha sorte não parecia ser das melhores, perder aqueles que amo parecia estar se tornando uma sina. Esperava estar errada quanto a isso, pois não queria ter que perder mais ninguém. O meu limite parecia ter se feito presente, o balde estava para transbordar a qualquer momento.

—  Mãe? A tia Elly chegou — fui avisada por sua suave voz ao tê-la pulando nos meus braços.

—  Então vamos recebê-la — comentei deixando um beijo em sua bochecha ao sair do quarto para me fazer presente na sala, onde Elly me esperava com o celular em mãos. Parecia ocupada, talvez fosse um assunto importante — Aconteceu alguma coisa?

—  Não é nada demais, apenas o de sempre com o Rodinei — disse soltando um breve suspiro, para então me ceder uma atenção verídica e tomar Alice dos meus braços — Como o meu pequeno flash está? — a questão fez um largo sorriso nascer nos lábios da minha filha. Ela amava quando as tias a chamavam pelo nome de alguns super heróis. Sem dúvidas o flash era o seu favorito.

—  Rápido — disse sorrindo enquanto buscava esconder o rosto no peito de Marcelly.

—  Isso eu pude perceber — às vezes nem parecia que ela era uma adulta com uma carreira profissional de sucesso. O modo como sua interação com Alice se tornava divertida e criativa, a fazia se tornar uma verdadeira palhaça. Junto aos demais, mesmo que não estejam com aquela ligação de antes, ela enfrentaria o mundo pela minha filha. Era um fato irrefutável para todos — O que acha de ir atrás das suas coisas para irmos ao parque? — uma resposta audível não veio. Pois em um momento Ali estava assentindo freneticamente e, no outro, já corria para o quarto que era seu.

Nova Etapa da Vida [ Hiatus ]Onde histórias criam vida. Descubra agora