CAPÍTULO 1

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Scarlet chegou!
BOA LEITURA!

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SCARLET

Eu tinha ferrado com tudo? Eu tinha ferrado com tudo.

Eu sempre me orgulhei por ser decidida, opinativa e aberta. Mas isso nem sempre me levou aos melhores resultados. Dessa vez, me levou ao pior resultado de todos.

Por um momento, eu pensei que tinha tomado a decisão certa, a decisão corajosa... e fui imprudente, descuidada e despreparada.

Deveria ter desconfiado mais, deveria ter...

Agora já não adiantava. Xavier havia morrido e era o sangue do meu amigo que estava nas minhas mãos. Era o sangue do melhor amigo do meu irmão em minhas mãos.

E eu nunca iria me perdoar por isso. Nunca!

Toda noite antes de dormir, eu lembrava do rosto do Xavier, lembrava do sangue, do pânico, da dor que eu e a Luna sentimos. E bem, eu também lembrava da culpa avassaladora que me tomou naquele momento.

Eu tive raiva, tive uma vontade louca de me vingar, mas a culpa foi o maior sentimento de todos. Me corroía todos os dias. Junto com a saudade. Eu sentia muita falta do Xav. Do sorriso dele, do jeito dele brincalhão e até mesmo como ele me perturbava como se fosse meu irmão. E foi isso que ele foi para mim. Um irmão. O meu irmão que não era de sangue, mas de alma. De alcateia.

A minha vontade era largar tudo e fugir daqui e deixar que todos vivessem sem o peso de ter que olhar para mim todos os dias sabendo que eu ajudei a acabar com o beta da alcateia.

Mas sabia que se eu fizesse isso, Dom mandaria me buscar e de qualquer jeito eu só daria mais dor de cabeça para ele.

"Scarlet sempre impulsiva"

"Scarlet sempre fazendo suas criancices"

"Nunca mudou essa menina, sempre irresponsável"

Eu rosno enquanto corto mais madeira para fazer lenha para as casas. Desde a morte do Xav, eu treinava de todas as formas. Forçava meu corpo ao máximo para que ele estivesse preparado.

Se outro ataque desses ocorrer, eu vou estar pronta para todos eles. Vou estar pronta de um jeito que ninguém mais que eu ame seja sacrificado.

- O que você  está fazendo aqui fora? - Minha melhor amiga perguntou.

Eu continuo cortando madeira como se a chegada dela não tivesse me afetado.

- Cortando madeira para a alcateia.

Paro e coloco o machado no chão antes de enxugar o suor da testa e olhar para a paisagem a minha volta.

O verde vivo da natureza, as árvores que cercavam toda a alcateia Sol da Meia-Noite. Meu lar era lindo. Parecia uma cidade pequena dentro de uma cidade pequena. Era calorosa, animada e encantadora. Mas também era opressora.

E de uns tempos para cá, eu só me sentia cada vez mais oprimida. Sofrendo mais. Todo mundo olhando, todo mundo querendo falar comigo, se preocupar comigo, opinar em algo... eu não aguentava mais.

Não aguentava mais os olhares de pena ou as tentativas de falar comigo com esse sentimento nos olhos. E todos só pareciam olhar assim para mim. Todos só sabiam falar comigo assim.

Não queria a pena deles. Não precisava disso.

Eu queria liberdade, e agora sabendo que eu nunca teria isso por conta da minha imprudência, eu me conformei e tentava viver da melhor maneira possível.

Mas qual era a melhor maneira? Isso aqui não podia ser nem sequer ser considerado vida... muito menos algo parecido com isso.

- Essa atitude não vai funcionar por muito tempo tempo. - Ela diz antes de chegar mais perto de mim. - Você não pode nos afastar por muito tempo, amiga.

- Eu não estou afastando ninguém, eu só estou tirando um tempo para mim.

- E esse tempo envolve ficar reclusa pra sempre? Renunciar todos a sua volta? Virar uma velha ranzinza?

Eu solto uma risada sem graça e me viro para a minha melhor amiga.

- Pelo menos eu seria o melhor tipo de velha ranzinza que tem.

Luna me olha e sorri e eu acabo retribuindo o sorriso dela. Eu sentia falta da minha melhor amiga. Sabia que tinha que me abrir para ela.

- Estava pensando em passar hoje ou amanhã lá no seu apartamento. Um dia de garotas, que tal?

Eu aceno em concordância e nos despedimos. Foi um pequeno passo que ela deu hoje, mas tudo teria que ir com calma. Ainda não estava pronta para muitas coisas.

Levanto a camiseta e passo os dedos distraidamente pela marca de lua.

A marca de uma companheira predestinada.

Isso me assombrava mais do que tudo.

Desde pequena, eu observava minha mãe e as outras mulheres da alcateia. Sempre submissas aos companheiros. Até mesmo algumas que lutavam, acabavam se curvando ao sentimento mais perigoso de todos: o amor.

Eu não queria ser governada. Não queria perder a razão para uma emoção tão potente que controlaria tudo.

E era isso que o amor fazia.

O amor - um pouco insano, talvez - da mãe da minha melhor amiga por ela, fez com que ela negasse da filha o lado lobo dela por anos.

O amor fez com que minha mãe sempre acatasse as decisões do meu pai achando que ele sabia melhor. Minha mãe era feroz, mas perto do meu pai, ela sempre acabava calada.

O amor era perigoso.

E eu não precisava disso.

Sabia que se eu me abrisse a ideia, eu deixaria ele me dominar.

E eu não seria dominada.

O amor também parecia querer me oprimir.

Eu debati muito sobre isso, eu pensei muito, e sabia que teria que aturar tudo isso. Aturar ficar para sempre aqui com a alcateia.

Mas em relação ao resto... bem, o resto eu poderia ignorar ao máximo.

Bem, eu tentaria.

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SCARLET (Sol da meia-noite #2)Onde histórias criam vida. Descubra agora