CAPÍTULO 4

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SCARLET

Tudo tinha levado exatamente dois dias para ficar pronto.

Dom já havia conversado com o líder da alcateia Valente, e eles estavam prontos para me receber.

Hoje eu estaria indo embora, então enquanto terminava de ajeitar as últimas coisas na mala, me virei para Luna e para a minha mãe que estavam ali me ajudando.

Dom me deixaria até ir sozinha, me dando as coordenadas para chegar lá.

- Eu sei que já disse isso, mas vou sentir a falta de todos vocês. Mas é como dizem, a distância faz o coração crescer mais afetuoso. - Eu digo antes de jogar minha última jaqueta na mala e fechar.

Luna bufa e minha mãe revira os olhos.

- Se já está saindo e fazendo brincadeiras, significa que já está ótima para ir. - Minha mãe diz divertida.

- Ela só precisava de uma oportunidade, dona Eva. - Luna diz com um sorriso.

Coloco a última mala no chão e encaro agora o meu armário vazio e o apartamento que eu chamei de casa, meio vazio também.

Era sério. Agora eu finalmente tive uma noção real disso tudo.

Eu estava indo embora.

Eu estava tendo a minha liberdade, não estava fugindo, não estava aprontando ou dando uma saidinha. Não era mais uma das minhas birras. Era real.

Ninguém me arrastaria de volta ou eu teria aquela confirmação de que alguém sempre viria por mim.

Pela primeira vez, eu seria plenamente responsável por mim mesma. O poder disso era nauseante e aterrorizador.

Isso era amadurecer? Seja como for, eu me sentia mais velha e poderosa só pela sensação.

Lúcio veio e pegou as duas malas, enquanto a bolsa eu levaria no ombro.

- Eles não estão prontos para você. - Ele diz daquela forma zombeteira e eu aceno sorrindo maliciosamente.

- É com isso que eu conto.

Eu tinha finalmente a chance de me redimir pela minha falha. Eu não iria decepcionar o meu irmão. Treinaria com afinco e depois mostraria a todos que eu não era mais a garota problema.

Eu poderia ter fugido.

Poderia ter me rebelado, poderia ter dado uma de Scarlet que eu sei que todos esperavam, mas eu estragaria a cara de todos que eu não era mais imatura.

Ok, talvez eu ainda fosse aprontar por aí, mas seria de forma mais coerente.

Eu acho.

- Saiba que tudo o que eu digo pra você, eu digo para o seu bem, porque eu te amo. - Dominic diz no meu ouvido ao me abraçar apertado, e eu o abraço de volta, sabendo que a qualquer momento eu choraria.

Eu nunca quis que meu irmão me odiasse.

Afasto as lágrimas quando nos afastamos do abraço.

- Entre você e o papai, eu já posso fazer um livro de conselhos. - Eu brinco com ele antes de ficar séria. - Obrigada por me dar uma chance e não desistir de mim.

Ele também fica sério ao me responder.

- Não se desiste da família. Não se desiste dos seus. Nunca.

- Nunca. - Eu falo de volta e dou um último aperto nele antes de ir até o meu pai, que ficou parado do lado do carro com o rosto sereno dele.

Minha mãe e Dom sempre brigaram comigo, enquanto papai me olhava como se soubesse algo que eu não sabia. Ele dava conselhos de forma enigmática e seus olhares magoados doíam mais do que qualquer palavra.

Eu sempre corri para ele quando fazia besteiras. Mas quando a maior besteira que eu fiz, resultou na morte de uma das melhores pessoas que eu já conheci, meu pai tinha um olhar como se tivesse perdido outro filho, e eu fiquei despedaçada.

Fiquei semanas sem conseguir olhar qualquer um deles nos olhos.

Essa era a primeira vez que eu olhava nos olhos do meu pai, e eu temia que ele não tivesse segurança em me deixar ir. Que ele acreditasse que eu não estava pronta, que eu ainda era imatura.

Mas meu pai tinha um olhar sereno. Aquele olhar que pessoas mais velhas costumam ver, de quem sabe de tudo ou já viu de tudo.

- Eu vou sentir sua falta, o senhor sabe disso, não é? - Eu digo antes de abraçá-lo apertado.

- Não mais do que eu vou sentir a sua, minha filha. - Ele me abraça de volta antes de me soltar.

- Eu sinto muito, pai. Eu prometo que vou trazer orgulho para o senhor e para todos aqui. Vocês vão ver. - Eu prometo com convicção.

- Você não precisa provar nada que eu já não saiba ou já não sinta, Scarlet.

Meus olhos se encheram de lágrimas de novo, e eu as seguro antes de me afastar.

Eu sabia que se deixasse o medo de me afastar sobrepujar a vontade de perseguir o desconhecido, eu ficaria presa aqui em casa para sempre. E isso não rolaria.

Depois de me despedir de todos, abraçando cada um mais uma vez, eu jogo a mochila no banco do carona e entro no carro, dando partida no meu futuro.

Adeus, Alcateia Sol da meia-noite.

Minha loba se animou dentro de mim pela primeira vez a tempos. Ela também estava empolgada.

Depois de tanto tempo de desânimo, de culpa, de pensamentos negativos, me afastar foi como se um peso que eu não sabia que estava carregando, tivesse saído dos meus ombros.

Dirigi por horas. Parei para abastecer e usar o banheiro antes de continuar, e depois de uma viagem de quase dois dias, eu finalmente havia chego.

Olá, Alcateia Valente.

Eu podia cheirar algo diferente aqui, e quando a minha loba resolveu me incomodar, querendo se libertar, eu dei o que eu e ela queríamos: liberdade.

Estacionei o carro perto da mata e tirei os sapatos, colocando eles dentro do carro.

Parei em pé e respirei o ar puro.

Liberdade.

Eu finalmente estava livre!

A constatação disso me deixou tão feliz, que eu estava sorrindo de ponta a ponta antes de ouvir um barulho.

Parecia...

Eu nem consegui raciocinar antes de ouvir um grito feminino e correr na direção dele.

Alguém estava em perigo.

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SCARLET (Sol da meia-noite #2)Onde histórias criam vida. Descubra agora