SCARLET
Qual sempre é a primeira regra dos filmes melosos?
Não se caia de amores pelo bad boy idiota.
Sempre achei esses filmes previsíveis, irresponsáveis e as mocinhas idiotas por se meterem em situações desnecessárias.
Mas advinha só quem está pagando a língua? Pois é, eu mesma.
Eu mesma que não consigo tirar o toque no Nicolas da cabeça. Eu mesma que não consigo parar de pensar no seu cheiro. Eu mesma que não consigo raciocinar perto dele direito.
Isso é a minha loba? Ou sou eu mesma?
Eu nunca quis ser mulher de um alfa. Nunca almejei ficar presa a uma alcateia mesmo sabendo que a única forma de um lobo ficar são, é ficar entre os seus.
Sempre soube que ser acasalada com um lobo poderosos, me prenderia para sempre a um papel que eu não tinha ambição: a dona de casa, a mulher do alfa.
Eu não seria a Scarlet. Eu seria a mulher do alfa.
Não me entenda mal, eu amo meus pais, amo a cumplicidade que eles tem um com o outro, mas não queria ser reduzida a um papel.
Sem contar que se tudo o que a Lara me disse for verdade, Nicolas tem uma história muito bagunçada, muito feia e um pouco triste demais para que ele precise de mais drama.
Nosso companheiro é bom. Nosso companheiro vai cuidar da gente.
Minha loba não parava de me encher sobre isso.
Era isso que iria acontecer comigo agora? Esse era o meu castigo? Eu não pedi por isso.
Mas talvez seja o que você precisa.
Balançando a cabeça para afastar esses pensamentos, afasto a minha mão da de Nicolas e sinto como se tivesse perdido algo.
— Eu estou bem agora, obrigada. Eu só precisava respirar um pouco, mas já posso voltar ao treino.
— Por que você não tira o dia para descansar? Você não está bem.
Eu levanto e estreito meus olhos para ele.
— Eu acho que eu mesma me conheço muito bem para saber se eu estou ou não estou bem, Nicolas.
Ele continua sentado e estreita os olhos para mim.
— Eu não te chamei de frágil em momento algum, Scarlet. Só estou apontando um fato e o fato é que você não está bem, Scarlet.
Ai que droga!
Eu sei que ele não me chamou de frágil, eu sei que ele não teve a intenção e só queria me ajudar...
Mas era tão difícil para mim ainda entender isso. Ficar perto dele já era estressante demais e eu ainda estava batalhando na minha cabeça sobre tantas coisas...
Mas ter a cabeça quente com alguém que só está tentando me ajudar, não vai me levar a lugar algum.
Eu respiro fundo e olho para ele.
— Desculpa. Minha mente está um turbilhão ainda e eu não deveria ficar atacando quem quer me ajudar. Eu aceito sim o dia de folga.
Ele me olha com aqueles olhos escuros que fazem coisas engraçadas para a minha barriga e acena com a cabeça.
Eu sou patética. Tendo crises com os olhos insondáveis de um homem que eu nem conhecia direito.
Eu precisava ter a minha cabeça checada.
Eu precisava de vinho, muito vinho.
E talvez uma panela de pipoca doce.
— Aqui tem vinho? – Pergunto já planejando o resto do meu dia em coma alimentar.
Ele sorri pra mim.
— Sua residência está abastecida com tudo o que você precisa. Inclusive vinho.
Hmmm, talvez eu precise olhar minha cozinha com mais cuidado. Se eu achar as bebidas certas, eu entro em coma não só alimentar.
Bem, hora de ir.
— Bem, obrigada e até mais tarde. – Começo a me afastar do homem que me deixa mais nervoso do que tudo, quando ele me chama e eu me viro para ele.
— Se você precisar de qualquer coisa, eu estou aqui. Não precisa se angustiar sozinha, não precisa ter medo. Estamos aqui pra te ajudar.
Com essas palavras doces aquecendo tudo por dentro de mim, eu aceno com a cabeça e vou embora.
Eu tinha que ter as minhas coisas juntas, precisava botar para fora tudo isso que eu ainda não resolvi em mim.
Eu sei que a morte do Xav sempre vai ser algo que vai me assombrar, mas eu precisava fazer as pazes com isso. Eu precisava pelo menos me controlar para não continuar recebendo olhares de pena e preocupação das pessoas.
Eu estava aqui para ser forte, ficar mais forte e provar o meu valor. Não queria que aqui fosse uma repetição da minha alcateia.
**
— Eu ouvi que estamos tendo uma festa? – Lara pergunta assim que eu abro a porta.
Ela estava com um sorriso no rosto e uma garrafa de tequila na mão.
Eu acabei de encontrar a minha verdadeira alma gêmea.
— Que bom que você trouxe o convite, que era uma bebida alcoólica.
— Só existe festa mesmo se tiver bebida.
Ela entra e eu fecho a porta com um sorriso.
Eu pego o pote de pipoca doce que tinha acabado de fazer e levo para a sala. Nos sentamos no sofá com as pernas cruzadas, eu coloco o balde no meio de nós duas e nos sirvo uma taça cheia de vinho.
— E então? Como você está?
Olhando atentamente para ela, eu decido ser honesta.
— Talvez. Eu tive uma epifania hoje. Percebi que não encarei as coisas do meu passado como eu deveria. Eu não me abri como deveria e somatizei tantas coisas que quando tudo explodiu, eu tive uma crise de pânico. E o pior, eu não sei se essa vai ser a última.
Ela toma um gole e me analisa.
— Esse é o primeiro passo. Saber onde errou, como errou e o que você vai fazer para mudar isso. Só de reconhecer o erro você já está dando um grande e importante passo.
— E depois disso?
— Depois disso a vida continua. A vida é assim. A gente cai e depois levanta. Agora você precisa se reagrupar e decidir pra onde vai a partir disso.
— Eu só pensei em seguir... - Tomo um longo gole do meu copo e suspiro. - Eu não pensei em seguir o futuro, só pensei em viver o presente, um dia de cada vez. Eu costumava ter sonhos e planos, mas com o tempo, todos eles caíram por terra e eu tive que me conformar que não adiantava planejar nada se eu não desse o primeiro passo no agora.
Ela concorda com a cabeça e eu continuo.
— Eu quero só continuar vivendo o momento. Eu estou gostando daqui e quero explorar isso ao máximo antes de pensar com clareza sobre o futuro. Viver cada dia e tentar não surtar com isso.
— E só isso já é um grande passo, irmã.
Eu sorrio e fico feliz que apesar do dia ruim, eu termino ele com um sorriso no rosto e a confirmação que encontrei uma amiga aqui.
Viver um dia de cada vez, e tentar não surtar a cada passo.
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SCARLET (Sol da meia-noite #2)
Manusia SerigalaSINOPSE: Scarlet: Significa "da cor vermelha", "corajosa", "forte". No passado, eu já fui corajosa. Mas agora eu tenho que aprender a ser forte. E nesse meio tempo, aprender a me manter viva. E também fugir de um companheiro indesejado.