CAPÍTULO 3

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SCARLET

- Alcateia Valente? Você está querendo que eu vá para a alcateia Valente? - Eu pergunto completamente chocada para o meu irmão.

Dom não queria apenas que eu saísse pela primeira vez da alcateia, como queria que eu treinasse e me especializasse...

Ele estava me dando missões. Mais responsabilidade. Confiando em mim.

- Sim, eu acho que eu não vou conseguir treinar você de uma forma tão eficaz quanto o Nico. Ainda temos muitas coisas para fazer aqui e eu sei que você precisa de treinamento. Se você quer uma participação mais ativa nas situações, eu acho que só posso te dar essa responsabilidade quando você estiver devidamente preparada. E sei que o Nico é o melhor para isso.

Eu só conseguia olhar para o meu irmão embasbacada.

Quando ele me chamou para conversar na casa dos nossos pais, eu já imaginava algum sermão sobre alguma coisa que eu tinha feito de errado, mas quando eu cheguei, meus pais, ele, Luna e até o irritante do Lúcio estava lá.

Foi assim que eu fui estranhando até ele soltar a bomba no meu colo. 

Olhei para todos eles desconfiada.

- Você quer me mandar embora, não é? Isso de ir para a alcateia Valente é só uma desculpa não é?

Só podia ser.

Qual seria a outra explicação plausível do meu irmão mega protetor, me deixar ir embora assim? Ele não confiava em mim.

"A culpa não é toda sua, Scarlet. Mas tenha certeza que sua impulsividade custou muito hoje a noite. Custou a vida do homem que era como um irmão nosso e pode ter custado a vida da minha companheira, da sua amiga. Você como sempre agiu sem pensar, agiu achando que sabe melhor do que qualquer um e é por esse motivo que a gente te controla tanto. Porque você é uma criança ainda! Você quer tanto independência mas não para de agir como uma criança dependente de alguém para limpar suas bagunças!"

Eu ainda lembrava as palavras do meu irmão como se fossem facas afiadas me cortando. Cada palavra era um corte fresco.

- Eu disse palavras muito cruéis para você quando você já estava para baixo, e isso ficou na sua cabeça de uma forma que eu me arrependo. Essa oferta é a única coisa que eu consegui pensar como uma oferta de paz. Eu não consigo liberar você para o mundo, mas eu posso te dar uma forma de proteção ao te dar formas de se defender quando o perigo aparecer novamente.

Eu engulo quando emoções que eu não quero deixar transparecer me invadem.

Sair, lá fora, buscar. Minha loba gritava na minha cabeça. Ela sempre quis buscar e ir além. Sempre gostava de andar o mais longe possível. Como se procurasse algo.

E agora ela arranhava as paredes da minha mente como se tivesse escutado a oferta e aceitado por mim.

E eu também queria paz, não queria? Queria fugir dos olhares de pena das pessoas. Eu não suportava mais um dia dos olhares e os sussurros de "olha ela lá, a criança problema".

- Eu aceito.

Lúcio bufa e todos sorriem. E eu volto a ter aquele sentimento de que todos querem se livrar de mim.

Minha mãe levantando sofá e pega na minha mão e aperta.

- Você vai continuar desconfiada, mas quero que você saiba que estávamos preocupados com você se afundando nesse buraco sem saída de autopiedade. Eu sempre soube que você é especial e que vai atingir lugares incríveis, e agora eu sei que para atingir esses lugares, você precisa florescer, e aqui não vai ser o lugar que você vai florescer.

As lágrimas enchem meus olhos ao ouvir as palavras da minha mãe.

Sempre quis isso da minha família. Aceitação, entendimento e compreensão. Sempre quis que eles percebessem que eu não era o meu irmão e estava tudo bem. E que eu também não era como as outras mulheres da alcateia e estava tudo bem também.

Eu era minha própria pessoa, e mesmo depois de ter errado imensamente, eu estaria recebendo a oportunidade de provar isso a eles.

Mostraria que eu daria conta de tudo isso, que eu não desperdiçaria a minha chance, provavelmente única chance, de provar que eu não era uma criança. Que eu não era dependente e impulsiva.

Eu treinaria, me deixaria mais forte, mais rápida e pronta. E para isso, eu tinha que começar a ser honesta até com os meu sentimentos, mais aberta.

- E-eu vou sentir a falta de todos vocês. - Eu paro antes de arquear a sobrancelha. - Até de você Lúcio.

Todos começam a rir e o clima fica mais leve.

*

- Eu vou sentir tanto a sua falta! - Luna grita ao me abraçar quando nos afastamos dos demais.

Tínhamos decidido comemorar no bar com um churrasco, só entre a família.

A minha melhor amiga me puxou para o lado para conversarmos. Bem, ela teve que me afastar bem mais do que isso, já que temos todos uma ótima audição lupina.

- Você já fala como se eu não fosse mais voltar. - Eu rio sem graça.

Ela da de ombros.

- Não sei, tem algo aqui dentro que me diz que você não vai voltar. Sei lá, uma intuição.

- Luna, e o seu sexto sentido. Lembra quando eu falei para você vir para cá? Dentre todos os lugares incríveis que você poderia ter ido?

- E eu senti que aqui era o certo. Era para onde meu coração estava me guiando.

- Eu sinto a mesma coisa sobre sair daqui. É como se, sei lá, como se eu soubesse que só lá fora que eu vou encontrar, me realizar... pode parecer bem idiota, já que lobos só prosperam quando estão juntos, em uma alcateia. Mas é como se eu sentisse que não é aqui que eu devo estar.

Ela me olha questionadora.

- Como você se sente indo para a alcateia Valente?

Agora sou eu que dou de ombros.

- Não sei ao certo, só sei os rumores, mas me sinto bem só de ir para fora. Ver outros lugares.

- Que rumores?

- Você não sabe? Os rumores sobre la ser uma alcateia voltada para o aperfeiçoamento de lobos, e que Nicolas Valente leva tudo aquilo a punhos de ferro.

- E como ele é?

- Não sei, mas sei que Dom é amigo dele. Ele, Nicolas e Xavier eram bons amigos. - Só de tocar o nome de Xav, meu coração murcha um pouco, mas eu tive que sacudir a cabeça e focar no futuro.

Eu não iria falhar.

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SCARLET (Sol da meia-noite #2)Onde histórias criam vida. Descubra agora