SCARLET (Sol da meia-noite #2)

CAPÍTULO 20

SCARLET

Uma semana.

Uma semana desde que a Laura voltou e um clima estranho tem se instalado aqui na alcateia.

A maioria aqui lembra da Laura, lembra da história, e enquanto uns foram até cordiais com ela, outros olharam de lado. Desconfiados.

E com toda a razão.

Enquanto isso, eu tentava viver a minha vida, treinava com a Lara, brincava com a Lua e as vezes, ok, a maioria das vezes, eu passava as noites com o meu companheiro.

Meu Nicolas.

Era estranho pensar isso. Eu que nunca pensei em ter um cara só meu, agora tinha e apreciava cada momento disso.

Mesmo com a ex dele rondando.

Laura ainda não tinha falado com a Lua, e isso estava estressando o Nicolas e a Lara.

Estava até me estressando.

Que mãe era essa que não falava com a filha? Que voltava e não procurava a filha? Eu queria socar algum bom senso nela, mas não queria fazer algo que poderia piorar tudo.

E foi com esse pensamento que eu continuei andando pela alcateia quando tive que parar para poder enxergar melhor o que estava bem na minha frente.

Lua e Laura.

Romeu estava de longe fazendo uma careta e com um rádio na mão, provavelmente avisando o Nicolas disso. Desde que a Laura voltou, tentamos não deixar a Lua fora das nossas vistas.

Ver essa cena foi com se eu sentisse algo ruim. Alguma errada. Fora do lugar.

Me aproximo das duas e vejo a cabeça da Laura virando na minha direção com um sorriso tenso.

— Scarlet, oi! Eu estava passeando e vi a Lua aqui e resolvi conversar com ela.

— O Nicolas não deveria estar presente? – Pergunto baixo para ela, não querendo que a Lua me visse gritar com a mãe dela, o que eu era propensa a fazer.

— Eu não posso falar com a minha filha sem ter uma escolta o tempo todo? – Ela continua com o sorriso tenso e eu ignoro, e volto meu olhar para a Lua.

— Tudo bem, lobinha? — Pergunto acariciando os cachos raivosos dela. Ela gostava do cabelo solto, revolto.

Já a mãe dela tinha os cachos mais abertos e presos em um rabo de cavalo elegante. Ela era morena e tinha menos curvas do que eu. A única coisa que parecíamos era na altura.

— Tudo sim, mas eu... — Ela olha entre a mãe e eu antes de me olhar meio suplicante. Ela estava desconfortável, acuada.

Estendo meus braços para ela que vem neles alegremente.

— Scarlet, eu juro que fui pego de surpresa... — Romeu começa nervoso. Eu sabia que ele não tinha culpa, provavelmente a Laura estava se esgueirando já, mas não impede que Nicolas não de uma bronca nele.

Eu o sinto antes dele mesmo aparecer no meu campo de visão.

— Lua!

— Papai! – A pequena se remexeu no meu colo querendo alcançar o pai e eu alegremente passei a pequena para ela.

— Eu só estava conversando com a Lua por um momento, mas já vou voltar para a minha cabana. Até mais. – Laura rapidamente diz e sai de perto.

Eu encaro meu companheiro que tem a expressão irritada e toco o braço dele, tentando passar tranquilidade.

Olhamos enquanto a Laura se afasta cada vez mais.

— Eu juro que não sabia, Nico, eu não imaginava que ela faria isso, uma semana passou e hoje a noite é a corrida da lua cheia e eu... – Romeu para de falar quando Nicolas levanta uma mão.

— Isso poderia ter acontecido com qualquer um de nós. Ela só estava esperando uma oportunidade. – Ele da um aperto na filha antes de colocá-la no chão. — Leve ela para a Dona Vívian, está na hora do almoço.

Romeu acena seriamente e pega a mão da Lua, que agora parecia mais animada do que antes.

Crianças conseguem levar certas coisas com uma leveza que os adultos nunca conseguiram.

— Não queria me separar dela agora, mas não posso protegê-la de tudo, muito menos de sua própria mãe.

— E o que você vai fazer sobre hoje a noite?  Todo mundo vai para a floresta e as crianças costuma ficar com os mais velhos que não querem ir, pelo o que a Lara me contou.

Ele acena com a cabeça.

— É isso mesmo, mas hoje eu pensei em ficar para trás e mandar a Lara no meu lugar para supervisionar tudo. – Ele diz.

— Eu vou ficar com você.

Ele sorri e coloca os braços na minha cintura, me aproximando dele.

Nicolas tinha uma das manias de lobo que eu já vi meu irmão fazendo com a Luna. Esfregar gentilmente o rosto no meu, como se estivesse pegando meu cheiro, minha impressão.

— O que eu faria sem você, companheira?

— Sorte que você não vai precisar descobrir, companheiro. — Eu digo e abro um sorriso antes de dar um beijo rápido nele.

Me afasto e pego na sua mão, o arrastando em direção a sua casa.

— Vamos! Temos que planejar uma noite de muita diversão com uma pequena lobinha.

Ele sorri e me segue.

LAURA

Eu me meti em uma enrascada e agora não tenho saída.

Eu preciso protegê-la.

No passado, eu confundi as coisas e pensei que amava alguém que realmente nunca foi meu para amar.

Ai eu sai da alcateia pensando em encontrar o meu alguém. Eu não tinha ideia de como era ser mãe ou se queria ser mãe. Mas eu achava que isso me aproximaria mais dele ao invés de acabar me afastando para sempre.

Eu estava confusa e achei que sair dali, apagar meu passado e reescrever uma nova história seria o melhor caminho.

Mas não adianta.

O passado sempre pega você se você não resolve ele direito.

E agora eu estava imersa em uma bagunça que não era minha, para proteger alguém que eu nem tinha uma conexão, mas sentia que precisava ajudar mesmo sem a pessoa saber.

E não podia falar nada porque não sabia em quem podia confiar por aqui.

Estava de mãos atadas.

E só rezava pelo melhor.

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