CAPÍTULO 18

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NICOLAS

Eu sabia que estava muito bom para ser verdade. Sabia.

Mas não tive tempo parar querer gritar aos quatro ventos sobre essa injustiça.

Respirando fundo, eu vou com a Scarlet até a entrada da alcateia.

Minha vontade era de ir segurando na sua mão, mas eu ainda não tinha falado nada para a minha filha. Não queria confundir sua cabeça e nem que ela se sentisse de alguma forma de fora. Ela era a coisa mais preciosa para mim.

— Se a Lara está no portão, quem está olhando a minha filha? – Pergunto ao Romeu enquanto nos aproximávamos.

— Algumas outras mulheres da alcateia. Lara não tinha em mente o que a irmã veio fazer, mas não deixaria a pequena Lua desprotegida. Deixamos um lobo lá também.

Eu aceno em gratidão. Todos aqui estavam bem treinados e tinham em mente que a segurança e a proteção da nossa alcateia era tudo.

Sabendo que minha filha não estaria ali, eu pego na mão da Scarlet que me olha meio resignada, mas me dá um sorriso. Ela provavelmente pensava o mesmo que eu.

Que droga.

Quando atravessamos a mata e vi de longe as silhuetas ali. Eu me permiti encarar a Laura. Não a via por quase dez anos.

Ela estava mais magra e seu cabelo mais longo, mas ainda tinha aquele olhar altivo no rosto enquanto encarava a irmã.

Tínhamos namorado por anos. Tínhamos sido amigos antes disso.

Eu sei agora que provavelmente nunca daríamos certo como casal, mas tínhamos que ter tentado como pais da nossa filha. Da nossa filha que não vê a mãe em anos.

Quando estamos perto delas, vejo que Lara tinha mais dois lobos com ela – os que vigiavam as terras aquela hora –.

Todos olham pra mim, mas é no olhar de Laura que eu me foco. Eu precisava entender com o que eu estava lidando.

Seu olhar era um pouco de saudade, raiva e outra coisa... uma coisa que eu não conseguia nomear. Ela estava escondendo alguma coisa.

— Laura.

— Nicolas.

— O que veio fazer aqui?

— Como assim o que eu vim fazer aqui? Eu tenho uma filha aqui, não tenho? Essa alcateia já foi minha.

— Como você fala isso como se não tivesse passado dez anos? Como você chega aqui como se você só tivesse ido ali por dez minutos e não dez anos?

Ela me encara antes de abaixar a cabeça e respirar fundo até levantá-la novamente.

— Me desculpa. Eu errei e muito, mas agora vim aqui para consertar meus erros... – Ela para e olha para a mão da Scarlet na minha e engole. — Eu prometo que não vou atrapalhar. Eu só quero uma chance.

*

— Eu não acredito nela. – Lara diz assim que entramos na sala de reuniões na minha casa.

Tínhamos nos reunido ali para debater o que faríamos com a presença da Laura enquanto ela aguardava ainda na mata com os dois lobos designados e Romeu.

— Eu também não. Eu sei que ela está escondendo alguma coisa, só não sei o que. – Eu digo ao sentar na cadeira, e passo a mão pela cabeça. — Só queria entender o momento exato que ela escolheu vir para cá. É muito estranho.

— Será que ela veio por mim? E se ela veio, como ela soube? – Scarlet indaga.

Ela estava andando em círculos e se fechando de mim. Estava calada, estranha e tanto eu quanto o meu lobo estávamos ariscos com isso.

Companheira. Proteger.

Eu a puxo para o meu colo e esfrego minha testa no cabelo dela. Eu precisava de conexão com ela agora, sentir que éramos um mesmo quando tudo estava ficando louco.

— Infelizmente minha irmã tinha amigos aqui, e talvez alguém tenha visto algo além e contado para ela. Só que ainda não faz sentido porque ela tinha arranjado outra matilha, outra vida. Dez anos se passaram caramba! Não tem muito sentido.

Nenhum de nós queria aceitar a presença dela aqui de volta, mas no fundo, eu tinha que pensar na minha filha. Eu tinha que pensar nas vezes ela perguntou da mãe. Tinha que eu tinha que dar a minha ex o benefício da dúvida em prol da nossa filha.

— Ela vai ficar, não vai? – Scarlet pergunta ao se virar para mim. Ela me olha como se já soubesse minhas decisões e eu apenas aceno com a cabeça.

— Não queria que fosse assim, muito menos agora que acabamos de acasalar e ainda estamos nos conhecendo, mas você entende, não entende?

— Infelizmente eu entendo. O problema agora é, como falaremos com a Lua sobre isso.

Eu aperto a mão dela com carinho.

Gosto quando ela se inclui nisso, quando ela se coloca no time e se mostra pronta para a batalha. Eu tinha tanto orgulho dela.

Minha bela e corajosa companheira.

Dou um selinho nela e me viro para a minha beta.

— Ela vai ficar, mas vamos todos manter um olho bem aberto nela.

Lara acena em concordância.

— O que vamos fazer com a Lua? Como você vai explicar isso para ela? – Lara pergunta e eu suspiro.

— Sempre tentei ser o mais honesto possível com a Lua. Então ela sabe que a mãe dela tinha ido embora e os motivos eu amenizei um pouco.

Como se ameniza o abandono? Eu pensei, mas fiquei quieto. Não queria dificultar o que eu tinha certeza que seria uma conversa mega difícil que eu teria que ter e tentei não pensar muito.

A pequena, corajosa, espoleta, alegre, engraçada, Lua. A minha filha.

Ela não merecia isso.

Mas sentindo um mal pressentimento sobre toda essa situação, acho que nenhum de nós merecia qualquer coisa dessa situação.

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SCARLET (Sol da meia-noite #2)Onde histórias criam vida. Descubra agora