"All the letters I can write are not fair as this..." - Emily Dickinson.
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[Hailee]
“Para todos que sempre amei - ainda que não tenham sentido o mesmo por mim:
Não odeie. Não alimente seu ódio, sua raiva, seu rancor. Não, não faça isso porque simplesmente não vale a pena. Quem sou eu para dizer isso? É, eu sei que soa como hipocrisia, mas a verdade… A maior verdade é que eu nunca me senti bem enquanto convivia com esse ódio e sentindo essa raiva dentro do meu coração ou pensando, constantemente, sobre ela. Não, eu nunca desejei sentir isso, pelo contrário, tudo o que eu sempre quis era tirar esse sentimento de dentro de mim…”
- Que besteira. Você acha que alguém leria isso?
- Eu quero voltar. - Eu o ouvi murmurar e ignorar minha pergunta e, por isso, não podia discernir se, de fato, falava comigo ou apenas entrava em mais um de seus constantes monólogos, os quais, ultimamente, passaram a se tornar mais frequentes e a me assustar. Apesar disso, decidi responder, por mais breve que a resposta pudesse ser:
- Eu sei.
- Então só vamos fazer isso: voltar.
- Não é tão fácil assim, Griffin.
Ele suspirou, olhou ao redor e esqueceu que eu também estava ali. Mais uma vez… Eu não sabia o tamanho do peso que carregava no fundo de seu coração, mas tentava entender porque verdade é que eu também estava com as palavras encolhidas, escondidas, esquecidas no fundo do meu próprio coração - era tudo que eu devia ter dito, mas não pude porque, para mim, nunca foram palavras fáceis de serem ditas. Por isso as sufoquei dentro de mim. Me fazia inconsciente sobre elas.
E eu também queria voltar.
- Vamos lá, rapaz. Levanta essa cabeça. - Aproximei-me de Griffin e baguncei seu cabelo, o qual riu, mas muito brevemente.
- É fácil falar, Hailee, quando você não é a pessoa que causou a perda de tudo e todo mundo. Eu sou seu irmão mais velho e olha onde você está agora! Não era para ser assim, você…
Ele apertou as têmporas com as mãos e fechou os olhos com força enquanto se repreendia e entrava em um estado de desespero. Eu precisava contê-lo.
- Griffin, se acalme. Você não tem culpa de nada. Foi um acidente e, pelo menos, estamos juntos. - Argumentei fazendo com que ele me olhasse enquanto eu alternava o olhar entre o rosto dele e pelo pátio para me certificar de que ninguém nos observava.
- Você sabe que não era comigo com quem você deveria estar, com quem você quer estar… Hailee…Hailee você já é uma mulher, deveria ter alguém, sair com alguém, mas não pode porque por minha causa… por minha causa estamos presos aqui e talvez jamais poss…
- Hey, está tudo bem. - O abracei para impedi-lo de continuar argumentando sobre algo que já não podíamos mais exercer influência. - Olha, isso é passado. Agora temos que nos esforçar pelo futuro, encontrar um caminho, nós vamos dar um jeito e ent…
Antes que eu pudesse terminar o que dizia, avistei um dos padres acompanhados de um médico e dois enfermeiros entrando no pátio. Logo que nos viram, começaram a falar sobre nós, ainda que eu não soubesse o que falavam, eu tinha total certeza de que estavam ali, nada sorrateiros, comentando sobre o infortúnio dos Steinfeld. Eu tinha ainda maior certeza de que se aproximariam de nós e, de fato, o fizeram.
O padre, Mathiesen, tocou o ombro de Griffin para chamar sua atenção e, no mesmo instante, senti as mãos do meu irmão segurarem as minhas e apertarem com força. Iriam levá-lo dali e eu nada podia fazer, mesmo que quisesse impedi-los, eram mais fortes que eu.
- Griffin, é hora da sua medicação. - O padre falou com sua voz rouca. Aquele velho magro, alto e de barbas e cabelos grisalhos vestido em uma túnica totalmente preta alertou meu irmão com uma serenidade no olhar que eu diria ser reconfortante se eu não notasse o desprezo por trás dos seus olhos azuis beirando ao cinza.
Meu irmão ainda insistiu em segurar minhas mãos por alguns segundos, mas balbuciei um “está tudo bem, você pode ir” para ele para que, assim, ele não se detivesse mais tempo ali. Deste modo, aqueles homens o conduziram para dentro do prédio, não sem antes me encararem como se quisessem me dizer que logo viriam me buscar e, tudo bem, eu já estava acostumada e, por isso, sempre preparada para quando viessem me buscar. Aos poucos vejo a imagem de meu irmão desaparecer depois das paredes do prédio e alguém me chama… Fogo. Griffin.
- Steinfeld. Acorde. Steinfeld. Senhorita Steinfeld. Menina, acorde.
Abro os olhos e sinto meu corpo se mover alguns centímetros fazendo com que meu rosto fosse afastado da pessoa que com tanta insistência me chamava.
- Ora, menina. Achei que era hoje que você não saía desse transe, seu! - A mulher magra de cabelos loiros com muitos fios grisalhos entre eles comentou e saiu andando em direção à janela para abrir um par de cortinas brancas que voavam por eu ter largado a janela aberta na noite anterior. - Todo dia esse sonho pesado mas inquieto na sua inconsciência. Isso precisa de tratamento, viu?
Eu me sentei sobre a cama vendo a mulher me olhar meio preocupada e, ao mesmo tempo, assustada. Seu nome era Maggie. Ela havia me recebido ali há pouco mais de duas semanas depois de eu ter caminhado exaustivamente em qualquer direção até desmaiar nos degraus da varanda de sua humilde casa. Ela tinha uma filha que já tinha seus 30 e poucos anos e que a ajudou a me levar para dentro. Me deixaram ficar o quanto fosse necessário, mas a verdade é que eu não tinha para onde ir… Eu não tinha nada.
- Bem, levante-se. Você precisa comer.
Ela saiu do quarto, mas me deixou sozinha perdida em pensamentos, ou melhor, em lembranças. Não conseguia me livrar daquelas imagens que se infiltravam sempre que podiam na minha mente. Mas me levantei, tomei meu café e deixei a casa para andar pelo vilarejo em busca de algo que pudesse fazer.
- Só cuidado para não se perder. Se bem que não dá para se perder nesse lugar pacato.
Ouvi Maggie falar enquanto eu deixava a casa.
De fato, aquele local era pacato demais: havia um número reduzido de moradias mais ou menos próximas umas das outras, as pessoas todas se conheciam, havia uma única escola regida por freiras e um único prédio que funcionava tanto como posto de saúde como departamento de polícia. A rua não era asfaltada, pelo contrário, o asfalto estava há quilômetros dali. Onde eu estava? Um vilarejo chamado Fairfield.
"Por quanto tempo mais ficarei aqui? Não posso continuar postergando isso ou evitando encarar…"
Ouvi um latido de cachorro e instantaneamente despertei do transe em que meus pensamentos haviam me colocado. Um cachorro enorme da raça pastor alemão vinha correndo em minha direção e eu não conseguia me mover. Iria virar comida de cachorro naquele momento, porém, uma voz de mulher, mas ainda assim, alta e autoritária, soou nos meus ouvidos:
- Artie, não! Pare! Aqui garoto.
Imediatamente o cão parou, mas não correu em direção à mulher, pelo contrário, ele se posicionou há menos de um metro de distância de mim em posição de ataque e permaneceu rosnando. Permaneci imóvel e então vi uma mulher correndo em minha direção e prendendo o cachorro pela coleira.
- Sabia que não devia ter te soltado. Mas que cachorro fujão! - Ela falou passando a mão sobre a cabeça do animal e então se lembrou que eu estava ali ainda inerte. - Oi, moça, me desculpe. Eu não achei que ele fosse fugir. Normalmente ele não ataca, está acostumado com todos. Não sei o que aconteceu.
- Não sou daqui. - Respondi rapidamente e deixei com que uma irritação tomasse conta de mim. - Deveria tomar cuidado com esse cachorro. E se ele tivesse me machucado? Olha o tamanho disso! Mantenha-o preso!
Não dei oportunidade de resposta à mulher. Saí com passadas pesadas e furiosas, mas, ainda assim, ouvi ela murmurar um "era só o que nos faltava, Artie!".
"Garota estúpida! Cachorro estúpido! Garota estúpida!", pensei eu.
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Para aqueles que já me conhecem, esse é só o começo. Logo tudo fica mais compreensível. Até mais.
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(In)Finito [Hailee Steinfeld/You]
Fanfiction(Não finalizada e sem previsões de continuação no momento). Nem sempre existem caminhos de volta, ainda que continuemos insistindo que queremos voltar. Talvez essa seja uma jornada que não possamos terminar e, por isso, damos um fim a ela e ao percu...