"O júbilo que me inundava o coração era forte demais para que pudesse contê-lo. Ardia de desejo de dizer uma palavra, uma única palavra, à guisa de triunfo, e também para tornar duplamente evidente a minha inocência." - O Gato Preto, Edgar Allan Poe.
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[Hailee]
Mal a Hartmann me deu as costas, também deixei o ponto do espaço que compartilhávamos e segui até o interior do Saint School, contudo, tampouco havia eu passado pela imensa porta amadeirada do edifício, a Madre Margareth surgiu de trás da porta fazendo com que eu tivesse um leve sobressalto.
- O que conversava com aquela moça? - Ela veio logo perguntando sem fazer rodeios, sem pensar duas vezes, sem se importar que buscava satisfações sobre a vida alheia.
Eu, é claro, se não houvesse ficado amuada naquele instante, teria respondido que meus assuntos pessoais não cabiam a ela, porém, ela havia sido generosa demais comigo e, além disso, sua postura tão austera e inflexível não me deixariam, ainda assim, dar qualquer resposta mais áspera ou, na melhor das hipóteses, mais sensata, ou, ainda melhor, me calar. Bem, por isso ali estava eu dando explicações como se fosse qualquer um dos alunos daquela escola.
- Ela apenas queria evitar Anne, então, eu...
- E para isso precisavam andar de mãos dadas?
- E há algum problema nisso? - Questionei surpresa.
A mulher suspirou pesadamente, negou algum pensamento com a cabeça e depois me fitou intrigada. Serei bastante sincera ao dizer que não esperava - jamais havia cogitado tal situação - a pergunta que lançou a mim:
- Olha, senhorita Steinfeld, somos todas criaturas feitas por um único e mesmo Deus e sabemos, pelo menos eu sei, que amor é amor, é um sentimento bom, correto? - Assenti com a cabeça em resposta porque ela não esperava, de modo algum, que eu abrisse a boca. - Então, me corrija se eu estiver errada, mas a senhorita é adepta ao homossexualismo também? Porque se for...
- Margareth.
- Madre Margareth, é assim que você deve me chamar, principalmente na frente das outras pessoas, afinal, você é uma das minhas funcionárias. - Ela falou e sorriu sarcasticamente e reluzentemente amarelo.
Engoli em seco e encarei aquela senhora extremamente religiosa com uma incredulidade que julgo ter sido impossível de ter passado despercebida pela mulher que aguardava que eu prosseguisse nosso diálogo.
- Madre Margareth, se me permite a correção, acho que o termo certo é homossexualidade e não homossexualismo e, além disso, não acho que tenha como ser adepto a isso, acredito que isso é algo que nasce com a pessoa e ela só vai aprendendo e compreendendo como isso a afeta conforme vai amadurecendo, quando passa a entender como se sente em relação ao próprio corpo e seus sentimentos por outras pessoas...
Eu quis terminar meu raciocínio, mas ao que parece, a maioria das conversas com as pessoas residentes da cidade, essa tal de Fairfield, era feita de muitas pausas, interrupções e reticências, era quase como se não houvesse espaços para fala, nem mesmo sussurros, porque todos ali pareciam vulneráveis demais a qualquer sentença dita inconvenientemente por mero descuido ou, na pior das hipóteses, frases bem formuladas e pensadas eram como uma arma perigosíssima, como uma bola de demolição capaz de destruir parede por parede, edifício por edifício e levar tudo à ruína. Ela não me deixou falar, pelo contrário, ainda mais incomplacente e intimidadora, refez a pergunta:
- Sem rodeios, Hailee. É uma pergunta simples de sim ou não. Você é homossexual?
- Não. - Respondi de modo rápido, quase automático como se a resposta já estivesse sempre ali e eu apenas precisasse ser coagida a dizê-la, o que de fato fui.
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(In)Finito [Hailee Steinfeld/You]
Fanfiction(Não finalizada e sem previsões de continuação no momento). Nem sempre existem caminhos de volta, ainda que continuemos insistindo que queremos voltar. Talvez essa seja uma jornada que não possamos terminar e, por isso, damos um fim a ela e ao percu...