C A P Í T U L O 15

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Quando Esmeralda acordou, encarava uma janela diferente daquela da noite anterior. Não haviam árvores do lado de fora; da janela daquele quarto ela só conseguia enxergar, ao longe, as flores que sua tia plantava na estufa.
   Como Henry conseguiu tirá-la da cama e levá-la até o quarto sem serem pegos e sem acordá-la, ela não sabia.
   Ou melhor, sabia sim. Henry era um homem cuidadoso, e além disso, jamais colocaria a reputação de Esmeralda em risco. Se ele havia levado ela para o quarto, deveria ter sido quando todos ainda continuavam dormindo. E quanto a Esmeralda, ela sentia que nada no mundo a acordaria enquanto estivesse aninhada nos braços do noivo.
   – Bom dia! – Esmeralda se assustou quando Emily surgiu na porta.
   – Você quase me matou, sua baderneira – ralhou.
   Emily ignorou totalmente o comentário.
   – Apesar disso, você parece ótima. Está brilhante.
   Esmeralda podia apostar – se pudesse frequentar uma dessas casas noturnas – que o sorriso que abriu naquele momento também brilhava.
   – O que posso dizer? – ela deu de ombros. – Tive uma noite ótima. Dormi muito bem.
   Emily parecia chocada demais para falar.
   Esmeralda aproveitou o silêncio da prima para levantar da cama e escovar os cabelos rebeldes.
   – Você e Henry? De novo?
   Esmeralda corou.
   – Não estou julgando, querida! Mas e o risco de serem pegos? Isso não a amedronta?
   Ela nem precisou pensar numa resposta.
   – Essa é a melhor parte! – disfarçou um sorriso quando a prima arregalou os olhos. – Vamos, Emily, você sabe do que estou falando.
   Emily rapidamente fugiu do comentário e estava prestes a mudar de assunto se Esmeralda não a interrompesse.
   – O Sr. Lawrence não a beija quando há pessoas em cômodos perto? Perto o suficiente para vê-los, delatá-los e serem sua testemunha de casamento em uma semana?
   Emily bufou, derrotada.
   – Acho que você tem razão. Toda essa tensão é... estimulante, por assim dizer, já que é isso o que quer ouvir.
    Esmeralda deu um sorriso triunfante.
    – Sim. Era exatamente isso.
   Sua prima revirou os olhos.
   – Por mais que eu queira muito discutir os detalhes da sua noite, vim até aqui por outra razão.
   A lady ficou em alerta.
   – Como assim?
   Emily permaneceu em silêncio e fitou o chão.
   – Emily, por favor! Ande logo com isso.
   Depois de alguns segundos, ela reuniu coragem o suficiente para contar.
   – O seu pai... – murmurou. Ao ouvir sobre o pai, Esmeralda ficou imediatamente tensa. – Ele sabe que você está aqui. Ele enviou um de seus criados até aqui com duas ordens para você.
   O quarto parecia menor naquele momento, e nem mesmo a janela aberta parecia adiantar de alguma coisa, porque o ar parecia ter sumido. Esmeralda se esforçava para respirar.
   – Esmeralda, sente-se agora – Emily ordenou. – Por favor, acalme-se.
   – Quais foram as ordens? – ela questionou com dificuldade.
    Emily parecia não tê-la escutado.
    – Prima, você está pálida...
    – Emily, QUAIS FORAM AS ORDENS?
   A loira respirou fundo e encarou Esmeralda. Não era fácil ser a portadora das más notícias.
   – Você deve voltar para Londres imediatamente – contou, comprimindo os lábios. – E a Srta. Helena será demitida por levá-la sem a permissão dele.
   Esmeralda encarou o chão por alguns segundos, aérea, até finalmente erguer o rosto até a prima e gargalhar.
   – Isso só pode ser brincadeira! Meu pai nunca se importou comigo. Ele... ele apenas fez isso para me afastar de vocês. De novo!
   Emily já tinha lágrimas nos olhos.
   – Eu sei.
   – E quanto a Srta. Helena? Da forma que ele fala, até parece que não a deixou responsável por mim. E ela o mandou uma carta, Emily! Ela não me trouxe aqui exatamente escondido.
   Por mais difícil que fosse, Emily liderou a situação. Acalmou Esmeralda como pôde, o que não significou muito.
   – Ele não pode mandá-la embora, Emily. Não pode!
   – Você tem razão – ela acariciou o cabelo da prima. – Ele não deveria fazer isso.
   Naquele momento, sua preocupação sobre demonstrar sentimentos era irrelevante. Esmeralda não poupou o choro nem por um minuto, porque sentia que se ousasse fazer isso, apenas se sentiria pior.
   – Ele não vai me separar de vocês novamente! – ela chorava e gritava. – Ele não vai.
   Emily apenas a abraçou, esperando que isso fizesse a dor de Esmeralda amenizar.
   – Nós não deixaremos você para trás. Ouviu?
   A lady assentiu, se agarrando o máximo que podia a essa promessa.
   – Emily, você poderia chamar...
   Antes que ela pudesse terminar de falar, a porta foi violentamente aberta por Henry.
   Ele correu na direção de Esmeralda e segurou o seu rosto.
   – Como você está? – ele parecia tão desesperado e preocupado naquele momento.
   – Ele quer me afastar da minha família, Henry. Quer me afastar delas – ela soluçou.
   Henry respirou fundo.
   – Emily, será que nós poderíamos conversar a sós?
   A loira parecia ter levado um choque.
   – O quê? Não! Eu sei que já estão noivos, mas ficarem num quarto sozinhos em plena luz do dia é outra coisa. Isso é...
   Esmeralda a encarou e implorou com os olhos.
   – Por favor – ele pediu.
  Por mais que quisesse negar, ela assentiu. Afinal, ele parecia ser o único capaz de acalmar a sua prima.
   – Estarei na porta – avisou.
   Emily encarou os dois mais uma vez com tristeza e por fim os deixou sozinhos.
   – Venha – Henry chamou, apontando para a cama.
   Aninhou Esmeralda em seus braços e deixou que ela deitasse a cabeça em seu ombro.
   – Você entendeu? – ela chorou. – Ele vai tirá-las de mim como fez com minha mãe! Igualzinho, Henry. Ele vai...
   – Ele não vai. Eu garanto que não – ele prometeu.
   Henry acariciava com tanto carinho e cuidado o cabelo de Esmeralda, como se temesse que ela quebrasse. Ele nunca a tinha visto tão frágil. Isso apenas despertou ainda mais um instinto protetor que ele nem sabia que existia.
   Henry não queria soltá-la mais. Queria protegê-la de tudo e todos, para que ela nunca mais passasse por algo parecido.
   – Elas estavam gostando de mim, não estavam? – questionou, com um pequeno sorriso. – Eu senti que elas podiam me amar. Ele vai tirar isso de mim, Henry. Porque ele não me deixa ser amada. Ele nunca deixa.
   Nos braços de Henry, Esmeralda chorava tanto que tremia.
   – Elas já amam você, Esmeralda. Sua mãe amou você, e...
   Ela o encarou, séria por um instante.
   – Não deixe que ele fira você. Porque acredite em mim, você foi e é amada.
   Ela sorriu timidamente.
   – Você acha?
   Ele assentiu.
   – Eu tenho certeza.
   Esmeralda finalmente voltou a respirar com calma. Alguns minutos depois, suas lágrimas haviam secado e ela já não tremia mais.
   Suas mãos apertavam fortemente a de Henry, e ela aproveitou como pôde aquele momento. Sentia-se forte. Sentia que não importava o que o pai tentasse fazer, não iria mais afetá-la. Ela não podia deixar que ele fizesse isso com ela.
   Pela primeira vez na vida, ela não se sentia sozinha. E isso fez toda a diferença.
   – Vamos? Nós temos um trem para pegar.

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⏰ Última atualização: May 19, 2021 ⏰

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