P R Ó L O G O

75 11 9
                                    

Inglaterra, Londres
1851

Um trovão cortou o céu e clareou o quarto no momento em que a duquesa deu o seu vigésimo grito.
– Respire, senhora! – a parteira pediu, completamente exasperada. – Seu bebê está a caminho. Está quase lá, eu prometo.
A duquesa, Elisa, apenas meneou a cabeça.
– Eu não consigo mais. Não consigo – disse entredentes.
Mas a mulher ao seu lado não se convenceu. Sra. Roberts estava quase sempre presente auxiliando a maioria dos partos da nobreza que aconteciam em Londres, e nada parecia abalá-la.
– Apenas um pouco mais, certo? A senhora consegue, sim.
E por mais cansada e dolorida que se sentisse, ela assentiu com firmeza e se pôs a fazer força mais uma vez.
O médico da família continuava empenhado em puxar a cabeça daquela criança e tirá-la de dentro de Elisa, mas nada parecia colaborar. Sra. Roberts, no entanto, não parecia tão afetada e cansada quanto ele. Ela apenas pressionou uma toalha na testa de Elisa graciosamente, secando todo o suor que surgia lá de tempos em tempos.

~

Vinte minutos torturantes já haviam se passado desde que Elisa quase desistira de tudo. Quase, ela repetiu mentalmente. Julgara, mais tarde, como um momento de tolice, mas sabia no fundo, por mais dura que fosse consigo mesma, que não foi sua culpa. Qualquer pessoa no lugar dela faria o mesmo estando no ponto alto da exaustão.
A parteira continuou murmurando palavras positivas e incentivos que fizeram a duquesa dar algo próximo de um sorriso como resposta. O médico continuou puxando, puxando e puxando. E a duquesa, muito ofegante, nada fazia além de rezar.
Que seja um menino. Que seja um menino. Que seja um menino.
E quando sentiu que todas as suas forças haviam se esvaído e que de fato não conseguiria, um choro estridente e forte ressoou no quarto.
– É uma criança saudável! – o médico anunciou.
O alívio que a duquesa sentiu pelo bebê finalmente ter se separado do cordão umbilical não durou muito, pois ela logo se viu murmurando de novo.
Que seja um menino. Que seja um menino. Que seja um menino.
– Doutor? – chamou, já impaciente.
Ele entregou o bebê para a enfermeira limpá-lo e a encarou sério.
– É uma menina – murmurou com pesar, já sabendo qual era a pergunta antes mesmo dela pronunciá-la.
Seus olhos e seu sorriso forçado delatavam tudo; ele sentia pena dela.
Mas quem podia culpá-lo quando ela mesma se sentia assim? Ela sabia que o marido ficaria decepcionado. Decepcionado, não. Pronto para matar alguém.
Uma menina? Isso não era bom.
O duque levou longos seis anos para finalmente engravidá-la e, no final de tudo, se tratava apenas de uma menina. Isso definitivamente não era bom.
A duquesa tinha plena convicção de que nem tudo estava perdido, pois o ducado continuaria fazendo parte da linhagem de Sam Reynolds e não iria para um primo distante, se a sua filha se casasse com um homem da nobreza que assumisse o ducado, mas ainda assim...
Ainda assim, Sam não teria quem ensinar aristocracia. Não daria suas tão sonhadas aulas de equitação para o seu garoto, nem o ensinaria a como se portar na sociedade, pois esse garoto não existia. Era uma mulher, e a última coisa que Sam queria era ensinar alguém a como fisgar um bom marido.
Elisa já sentia os olhos ardendo, implorando para derramar as lágrimas contidas, quando a parteira virou-se para ela e questionou sorrindo:
– Quer segurá-la?
A duquesa assentiu com tanta pressa que o sentimento a assustou. Sabia que não era o seu tão desejado menino, mas ainda era o seu bebê. Aquela criança era sua filha, e nada no mundo a faria amá-la menos.
Mas ela não estava preparada para o sentimento que a atingiu quando aninhou aquele bebê em seus braços.
E quando encarou a menininha de olhos cor de esmeralda, soube que tudo ficaria bem.

Um Duque Para EsmeraldaOnde histórias criam vida. Descubra agora