C A P Í T U L O 7

49 8 7
                                    

Eram seis horas e os convidados estavam chegando a todo vapor. Um dos criados do pai de Esmeralda estava anunciando fazia um quarto de hora cada convidado que ali chegava.
   Esmeralda estava farta de ouvir sobre duques, marqueses, condes, viscondes, barões e suas respectivas esposas, mas manteve o sorriso enquanto os recebia.
   Esperava ansiosamente por Henry, para lhe contar sobre os eventos do dia.
   Para o seu alívio, não precisou apelar para a sugestão de Elisa e dizer para o pai que havia sido desonrada, pois durante o almoço, o duque apareceu para a garantir que o noivado iria acontecer e foi embora. Ela aproveitou e foi depressa para a cozinha comer com os amigos.
   – É claro que o seu pai não iria se arriscar a procurar outro para cuidar do ducado. Acha mesmo que ele encontraria alguém tão competente quanto Henry? – Luísa disse, enquanto devorava a sopa – eu lhe respondo, Esmeralda: não! Porque ele não seria tão idiota.
   Marisa a repreendeu imediatamente.
   – Chega desse vocabulário, menina. Eu não sei onde você anda ouvindo tais coisas, mas precisa parar.
   Ela abaixou a cabeça, respeitando a opinião da outra criada.
   – Não seja tão dura com ela, Marisa – Esmeralda disse, indo imediatamente em defesa da amiga. – É claro que Luísa é um pouco... sincera demais, mas devo lembrá-la de que ela não teve a mesma educação que nós tivemos.
   – Qual o problema em ser sincera demais? – ela questionou.
   Cecília resolveu intervir.
   – Não há problema nenhum nisso, apenas tome cuidado para não ser rude demais e acabar ofendendo as pessoas.
   Ela concordou com a cabeça, sem dizer nem uma palavra.
   É claro que Luísa deve ter tido alguém para educá-la, a lady imaginava, mas provavelmente não da mesma forma como Esmeralda, Marisa ou Cecília, que sabiam sempre como deveriam se portar.
   Esmeralda não achava que isso fosse um defeito em Luísa. No final das contas, ela estava mais certa do que todas as três por dizer sua verdadeira opinião, e a lady achava que tinha muito a aprender com ela.
   – Esmeralda... – Luísa começou, olhando em seus olhos. – Ninguém me pediu para fazer isso – esclareceu – mas eu realmente gostaria de pedir desculpa por sugerir que dissesse aquilo para seu pai. Eu não estava insinuando que você seria capaz de fazer aquilo... quero dizer, era só uma possibilidade. Sei dos seus princípios e...
   – Não seria o fim do mundo se eu realmente houvesse sido desonrada. E se estivesse em seu lugar, presumiria o mesmo. Então, francamente, não precisa se preocupar.
   Elas sorriram uma para a outra e continuaram a refeição.
   Esmeralda se sobressaltou quando percebeu que estava divagando demais e voltou a dar atenção para os convidados.
  Mas quando lorde Henry fora anunciado, o coração dela disparou em batidas irregulares.
   Eles se cumprimentaram como mandava a etiqueta antes de começarem a conversar.
   – Suponho que esteja tudo bem com o casamento, já que não fui desconvidado.
   Henry ofereceu o braço e Esmeralda aceitou de bom grado, indo caminhar com ele pelo enorme salão.
   – Está tudo certo – ela disse sorrindo. – Não graças a você, é claro.
   O lorde levantou uma sobrancelha antes de questioná-la.
   – O que planejava fazer se ele cancelasse tudo?
   Esmeralda não podia dizer a verdade. Ela não podia dizer que planejava fingir que teve relações íntimas com o lorde, porque além de humilhante, seria idiota.
   – Não tinha pensado muito – ela mentiu – mas com certeza pensaria bem antes de falar algo para ele, diferentemente de você. Ninguém nunca lhe disse que não se pode falar com absolutamente ninguém quando se está de cabeça quente? Isso pode lhe colocar em apuros!
   Ela continuaria trocando farpas com ele por quanto tempo mais fosse necessário se isso o fizesse entender que agir daquela forma não faria bem para ele, já que quase o fez perder o ducado.
   – Eu não estava de cabeça quente. Pensei muito bem antes de dizer aquelas coisas – admitiu.
   Esmeralda ficou sem fala. Ela se lembrava bem de ouvi-lo dizendo, duas luas atrás, que não se importava com o ducado se isso significasse defendê-la, mas depois de horas pensando sobre o assunto, a lady chegara à conclusão de que ele havia dito da boca pra fora, apenas para conseguir a confiança dela.
   E por mais difícil que fosse admitir, ela sabia que ele havia conseguido.
   – Eu.. bem... – ela se atrapalhou com as palavras quando se deparou com o olhar intenso do homem em sua frente.
   Só então parou para observá-lo. Henry parecia tão mais novo do que realmente era usando aquelas roupas que, de fato, realçavam sua beleza física. Esmeralda quase perdeu o ar.
   Quando o lorde notou o olhar da dama o estudando, resolveu fazer o mesmo.
   Esmeralda estava usando um vestido que fora deixado horas mais cedo em seu quarto, provavelmente a mando do pai. É claro que ele não seria envergonhado na frente dos seus convidados, pelo menos não pelo traje da filha.
   Ela vestia um vestido com mangas bufantes e rendas e babados, mas não em grande quantidade. Havia também um decote sutil, e Esmeralda sabia que só aquela pouquíssima pele exposta já seria motivo para comentários maldosos.
   – Azul, então... – ele disse depois de observá-la. – Como já havia dito antes, lhe cai muito bem.
   – Não havia notado – ela resmungou fingindo indiferença enquanto os dois se sentavam em assentos confortáveis.
   É claro que ela notara desde o momento em que o viu. Tudo o que conseguia pensar era em quanto tinha sorte por ter um vestido agradável e com uma bela cor para usar durante a noite, quando Henry a veria.
   – No convite dizia que seria um modesto jantar... – ele comentou quando percebeu os casais se reunindo no salão para dançar a valsa.
   – O duque não quis economizar. Decidiu que o evento seria um pouco mais sofisticado, pois traria maior credibilidade ao anúncio.
   – De fato – o lorde concordou.
   Esmeralda acomodou-se ainda mais no elegante sofá, com uma distância segura de Henry, para evitar ser alvo das mexeriqueiras ali presentes.
   – Me concede o prazer de conduzi-la à uma breve dança? – Henry questionou, forçando o sotaque para parecer ainda mais cavalheiresco.
   Ele se pôs de pé e ofereceu a mão para ela.
   – Deixe de bobagem – ela afastou sua mão sutilmente. – Nós não precisamos fazer isso, não ainda.
   Ele sorriu com todos os dentes incrivelmente brancos para ela.
   – Mas eu quero dançar com você. Além disso, você está realmente bela hoje, e seria um pecado desperdiçar tanta beleza sentada nesse sofá pelo resto da noite.
   Esmeralda corou com o elogio.
   Era a segunda vez no mesmo dia em que sentia o rosto esquentar, e não estava acostumada com isso. Por isso, apenas por isso, ela aceitou a mão de Henry e o acompanhou até o centro do salão para não prolongar o seu constrangimento.
   Toda aquela proximidade entre eles só a fez lembrar do acontecimento no closet do pai. Ela se sentia melhor por estarem em condições diferentes, pois agora poderia aproveitar o momento com mais calma.
   – Sabe, Esmeralda? – Henry chamou sua atenção, falando perto demais de sua orelha. – Eu nunca vou me cansar de dançar com você nos eventos sociais que formos convidados durante o casamento. Na verdade, essa vai ser a melhor parte.
   Ela sentiu o sorriso dele sendo formado em seu pescoço e tratou de limpar a garganta antes que seu arrepio na nuca – e por todo o corpo – fosse ainda mais aparente.
   – Só vai durar alguns meses – o respondeu, tossindo levemente para disfarçar a voz tão rouca.
   Para a surpresa da lady, a voz de Henry saíra realmente séria quando disse:
   – Pois serão os melhores meses da minha vida.
   Ela não conseguiu evitar o suspiro.
   – Você precisa parar de dizer essas coisas. Sabe que não são verdade, e não é certo dar falsas esperanças para uma dama.
   – Não são falsas esperanças – ele disse, com a voz mais sedutora do que o normal. – É a verdade.
   Eles continuaram dançando a valsa lentamente, apenas apreciando o cheiro um do outro e sentindo as respirações em suas nucas.
   – Bem, de todo modo, só vai durar dois meses – o informou, e quando ele ficou em completo silêncio, resolveu lhe dar mais detalhes. – Pensei sobre isso e decidi que será melhor para nós dois se eu apenas o ajudar com a instalação na casa e partir, dois meses depois, alegando uma doença que só pode ser tratada no exterior. Irei para uma cidade onde ninguém me conhece e refarei minha vida lá.
   Henry afastou o rosto do dela e a encarou no mesmo instante.
   Esmeralda podia jurar que sua expressão indicava susto por um curto momento.
   – O quê? – ele questionou, incrédulo. – Refazer sua vida?
   Esmeralda não teve tempo para mais explicações, pois no instante seguinte ao fim da música, um cavalheiro pediu sua mão rapidamente para Henry, que assentiu.
   Quando o loiro a conduziu para outra dança, o lorde continuou plantado ali por alguns instantes.
   Ele encarou os dois rapidamente, com um olhar dolorido, como se houvesse sido traído e começou a andar para longe dali.
   Esmeralda sentiu um aperto forte no peito como nunca sentira em toda sua vida, e tudo o que mais desejava naquele momento era chorar.
   – Srta. Esmeralda Reynolds, que prazer desfrutar de sua companhia – o rapaz disse, tentando ganhar sua atenção.
   – Digo o mesmo sobre o senhor. – Ela o respondeu, mas continuava olhando por cima do ombro dele, a procura de Henry.
   Quando o encontrou sentado no sofá, notou que ele estava pensativo demais e não pôde evitar a preocupação que sentiu.
   Afastou um pouco o olhar e viu três damas, provavelmente um ou dois anos mais jovens do que ela, todas encarando o lorde com olhares e sorrisos de admiração. A lady sentiu um sentimento de raiva lhe invadindo, e quando pensou sobre isso mais tarde, concluiu que talvez fosse ciúmes. Ela implorou a Deus em suas orações para que ninguém houvesse percebido nada.
   – Imagino que não deva se lembrar de mim – ele comentou, com um sorriso presunçoso, esperando que ela o contrariasse.
   – Tem razão. Não me lembro – disse sem olhá-lo nos olhos.
   Ele ousou tocar levemente o queixo dela e virar sua cabeça de uma forma sutil, até os olhares dos dois se encontrarem.
   – A senhorita pode olhar para mim?
   Ela o fez, e sentiu toda a cor fugir do rosto no mesmo instante. Poderia jurar, para qualquer um que a questionasse sobre isso depois, que sua pressão realmente havia caído.
   Quando prestou atenção no homem, lembrou-se imediatamente de onde o conhecia; o cabelo claro como o sol e os olhos escuros como a lua eram inconfundíveis.
   – Sou filho do conde de Ashbourne – ele a informou, como se ela já não tivesse notado. – E caso não lembre disso também, nós dois ficamos um tanto íntimos durante o curto período de tempo em que a visitei.
   Íntimos?, ela se questionou mentalmente. Era uma grande hipérbole. Eles só haviam se beijado uma única vez, e Esmeralda nem havia achado grande coisa.
   – Arthur – ela disse, perplexa. – O que o senhor faz aqui?
   – Recebi um convite do duque, seu pai. E devo lhe contar que pretendo ficar por algum tempo.
   É claro que havia sido um plano do pai. Ela se perguntou se ele realmente esperava que Esmeralda resolvesse trocar de noivo como quem troca de roupa?
   A lady já sentia o coração martelar, e a sua respiração já estava mais rápida. Quando o desespero começou a tomar conta dela, disse ligeiramente sem conseguir se controlar:
   – Aconteceu há quatro anos! Nós dois éramos crianças e concordamos que aquilo não daria em nada. Não é possível que o senhor exija que eu...
   – Quero que seja minha esposa. – O homem proferiu com um sorriso perverso no rosto.
   Esmeralda o encarou seriamente e continuou a tagarelar, completamente tomada pelo desespero.
   – Eu não quero me casar com o senhor! Eu estou prestes a anunciar um noivado, seu... seu grosseirão! Não pode exigir tal coisa.
   – Mas ainda não anunciou. E nós nos beijamos, lady Esmeralda. Todos, inclusive seu pai, vão sugerir casamento.
   Ela o encarou com desdém.
   – O senhor não sabe o que fala! Os anos que se passaram já devem ter anulado o acontecimento. Além disso, ninguém estava presente para garantir que o que fala é verdade. O senhor não pode provar, e por isso não poderá manchar a minha honra, principalmente por um simples beijo.
   Ele gargalhou baixinho e aproximou a boca do ouvido da lady, sussurrando:
   – E se eu afirmar que tivemos relações íntimas que vão bem além do beijo, em quem a senhorita acha que iriam acreditar? Em uma mulher? Chega a ser engraçado.
   Quando Esmeralda se manteve calada, ele continuou: 
    – A senhorita tem muita fé, afinal. Mas eu no seu lugar não esperaria por tanto.
   Nenhum sentimento foi despertado no corpo de Esmeralda que fosse além de nojo. A repulsa que sentia pelo homem em sua frente era tão grande que se negava a aceitar os fatos. Ela não podia acreditar que aquele aparente cavalheiro estava a chantageando.
   Ele queria o seu ducado, e aparentemente iria fazer o que estivesse em seu alcance para consegui-lo, mesmo que isso significasse mentir, fingir e manipular as pessoas. Mas Esmeralda sabia que o ducado só podia ser de uma pessoa, e ela não era Arthur.
   – Sorria – ele murmurou – as pessoas estão olhando.
  Ela se convenceu de que não seria tola ao ponto de demonstrar seu descontentamento com aquela situação. Então encarou o cavalheiro em frente, sorriu para ele e continuou a dançar.

Um Duque Para EsmeraldaOnde histórias criam vida. Descubra agora