C A P Í T U L O 5

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Henry encarava uma mulher linda. A mais linda que ele já tivera o prazer de conhecer.
   Os olhos ainda estavam um pouco molhados, os lábios inchados e a bochecha rosada. O seu cabelo estava levemente desgrenhado, as roupas amarrotadas devido a todo aquele contato físico que eles acabaram de ter, e ainda assim, ela conseguiu ficar mais linda do que todos os outros dias.
   Henry enxergou nela uma mulher real: que chora, que se aborrece, que tem opiniões, e que é frustrada. Não a mulher que todos tentavam padronizar, não a mulher que precisava estar sempre impecável e herdar a melhor educação. Henry admirava Esmeralda por se permitir chorar na frente de um homem, e se sentia honrado por ela ter escolhido a ele.
   – Devo agradecê-lo – ela começou enquanto alisava o cabelo e as saias do vestido – por... me confortar.
   – Não agradeça – ele sorriu. – Estarei aqui quando precisar de mim.
   – De qualquer forma, eu não vou precisar. Quero dizer... eu nunca choro, compreende? A última vez aconteceu anos atrás. Eu realmente não sei porque escolhi justo agora para chorar, quando você estava aqui para testemunhar a minha vergonha. Me desculpe, lorde Henry, mesmo.
   Ele balançou a cabeça no mesmo instante, negando.
   – Não deve se desculpar por isso, e não precisa continuar me chamando de lorde Henry. Acho que nós já ultrapassamos essa fase.
   Ela confirmou com um sorriso.
   – De fato.
   Ele ficou de pé e ofereceu as mãos para ajudá-la a se levantar também. Com toda aquela camada de roupas ele duvidava muito que ela conseguiria sozinha.
   – Jesus! – Sua expressão era de mais completo horror. – Eu estraguei os seus trajes... estão encharcados! Meu Deus.
   Henry olhou para baixo e achou graça do exagero dela.
   – Eu não estou encharcado.
   – Está! – Ela o contrariou. – Santo Deus, nem acredito que fui eu quem fez isso.
   Ele não conseguia parar de sorrir.
  – Pare de rir! – ela exigiu. – Isso é terrível. Nós... – ela tentou pensar em algo – tudo bem! – a cor voltou novamente ao seu rosto quando uma ideia clareou os seus pensamentos. – Nós precisamos pegar uma roupa do duque para você.
   – Não é necessário – ele garantiu. – Já estou indo embora. Lhe prometo que ninguém irá me ver indo até a carruagem, e se virem, não vão imaginar que isso é obra sua.
   Esmeralda levou a mão a testa, fazendo uma pequena cena.
   – Oh, Deus! Obra minha!
   Henry gargalhou do drama que ela acabara de fazer.
   – Você não precisa exagerar.
   – Eu preciso e vou, porque eu quero. Agora venha – ela agarrou sua mão e o puxou até as escadas – vamos invadir o quarto do meu doce e amável pai e lhe roubar algumas peças de roupa.
   Sentir o toque dela foi o bastante para o colocar em transe. Ele sabia que faria qualquer coisa que ela pedisse agora.
   – Invadir os aposentos do duque... isso me parece bem errado – ele teve forças para a contrariar.
   – Existem maneiras mais simples e lógicas para solucionar esse problema, mas o duque me fez chorar hoje, e eu não vou deixar isso barato. Roubar dele é o mínimo que posso fazer!
   Henry riu.
   – Eu não poderia concordar mais.

~

   Os dois estavam caminhando sorrateiramente pelo enorme corredor. Esmeralda continuava segurando a mão de Henry e o puxando lentamente pelo caminho dos aposentos do pai.
   – Espere – ela sussurrou, o soltando.
   Ele quase segurou sua mão novamente, por impulso. Sentira falta imediatamente de sentir o toque dela.
   – Não tem ninguém – ela informou – venha.
   Os dois entraram no quarto e observaram o lugar.
   Henry notou que o quarto era três vezes maior que o do seu falecido pai.
   – É... enorme – ele falou.
   – Eu concordo – disse Esmeralda, ainda encarando admirada todo o quarto. – Eu nunca tinha vindo aqui antes.
   Nunca? – ele se questionou mentalmente. – O duque nunca havia adoecido? Nunca havia precisado dos cuidados da esposa e da filha nem uma vez sequer?
   – Ele não permitia que ninguém além dele e dos criados que cuidavam da limpeza entrassem aqui – informou. – Nem mesmo a duquesa. Como eu, ela também nunca entrou aqui.
   – Nem mesmo a duquesa? – ele estava além de chocado.
   – Nem mesmo ela. Eles não tinham uma vida de casados, exatamente como nós quando assinarmos os papéis do casório. A diferença é que eles tinham encontros noturnos na esperança de procriar um herdeiro. Um homem. E eu, claro, frustrei a todos com o meu nascimento.
   Esmeralda sorriu, mas Henry sabia que ela não estava sendo sincera. Ela com certeza sentia tristeza pela forma como seu pai agiu durante toda sua infância e, agora, durante sua vida adulta. E com razão.
   – Longe de mim querer ofender o duque, mas ele é um cretino.
   Só percebeu que havia perdido a razão depois de ter exposto a ela os seus pensamentos diários. Mas sim, com certeza o pai de Esmeralda não merecia a filha que tinha.
   – Eu concordo com você – ela disse com um sorriso – um cretino sem coração.
   – Podemos adicionar à lista de defeitos dele uma infinidade de adjetivos, mas acho melhor fazer isso numa outra hora. Estamos correndo sérios riscos de sermos flagrados quebrando as regras do seu pai.
   A sua intenção era ser sarcástico, mas Esmeralda levou muito a sério. O seu olhar voltou a ficar em alerta novamente.
   – Você tem razão. Ande, vamos pegar algumas roupas e sair daqui.
   O duque não tinha um armário ou um quarto de vestir comum como a maioria das pessoas. Ele tinha uma sala inteira dentro do quarto apenas para suas roupas.
   Por que alguém precisaria de tudo isso?, ele se questionou.
   Os dois entraram dentro da sala e observaram todos aqueles trajes elegantes enfileirados por suas respectivas cores.
   – Quem diria? – Esmeralda questionou sorrindo. – O meu pai tem tempo o suficiente para ser um consumista sem limites, mas não tempo o suficiente para dar atenção para... – ela parecia estar tomada pela raiva, mas conseguiu se calar.
   Henry, no entanto, completou a sentença mentalmente: mas não tempo o suficiente para dar atenção para sua própria filha. A revolta de Esmeralda era mais do que compreensível.
   Ele esperava que o duque fosse um aristocrático sem coração, mas não tanto.
   – É um closet – ela falou para si mesma.
   – O quê? – Henry questionou, meio perdido.
   Ela suspirou profundamente antes de respondê-lo.
   – Invenção populosa apenas entre os membros da nobreza ou pessoas de alto poder aquisitivo. Um local fechado para ler, relaxar... e o duque também aproveitou para organizar os pertences pessoais, tais como suas roupas. Já ouvi meu pai comentando com um convidado anos atrás, mas não sabia que ele tinha um.
   Henry se manteve em silêncio por um tempo. Ele sabia o que era um closet, mas não sabia porquê a ideia de seu pai ter um a deixava tão chateada.
   Ela interrompeu os seus pensamentos quando disse:
   – Vou esperar lá fora para garantir que ninguém nos pegue sozinhos no quarto do meu pai. Seria bem embaraçoso.
   Ela lhe deu um olhar frio e deixou o quarto sem lhe dar direito de resposta. Ele sabia que tudo isso se deu pelos sentimentos que foram despertados quando o mundo dela se chocou com o do pai. É claro que ela mudaria completamente por ter ainda mais noção do desprezo do pai por ela. Além do mais, o que tinha de tão errado no quarto do duque para que ela não pudesse entrar nele?
   Nada. Não existia nada de errado lá, Henry sabia disso. O duque apenas não queria a presença da filha e da esposa lá, e aparentemente ele nunca escondeu isso.
   Cretino, desgraçado e imbecil. Adjetivos simples demais para descrever a péssima pessoa que o duque era.
   O lorde estava disposto a enfrentá-lo em breve, provavelmente na próxima vez que o encontrasse. Pois só se daria por satisfeito quando confrontasse o duque e deixasse claro para ele o que pensava a seu respeito. Ele não se importava se isso o deixasse zangado, e nem se importava se isso o fizesse perder o ducado.
   Ele desejava mostrar para o duque o quanto ele estava perdendo por excluir a filha de sua vida.
   Tudo em que ele conseguia pensar? Isso era simples. Nela.

Um Duque Para EsmeraldaOnde histórias criam vida. Descubra agora