C A P Í T U L O 13

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Esmeralda abriu os olhos quando sentiu Henry beijar sua bochecha.
   – Você infelizmente precisa ir – ele disse, com pesar.
   Ela concordou imediatamente.
   – Que horas são? – questionou antes de bocejar.
   – Sete e meia.
   Esmeralda praticamente pulou da cama.
   – Meu bom Deus! – ela disse e começou a se vestir. – Como a hora passou tão rápido? Eu... eu não costumo dormir assim, ao ponto de perder a hora.
   Quando ela se virou para olhá-lo, ele já estava de pé ao lado dela.
   – Acalme-se – pediu enquanto a ajudava com os botões do vestido. – Não está tarde, querida.
   – Não normalmente, mas irei provar o vestido às oito, e Srta. Helena já deve ter me procurado por toda a casa! Ela provavelmente...
   Esmeralda parou de falar quando Henry a calou com um beijo. E por mais apressada que ela estivesse para deixar o quarto, se permitiu acalmar os ânimos e abriu os lábios para ele, se deliciando durante cada segundo que o beijo durava.
   – Nos vemos no almoço? – ele questionou.
   Ela confirmou imediatamente.
   – Espero que Helena não faça planos para a tarde – sussurrou enquanto espiava o corredor pela fresta da porta, aguardando o melhor momento para sair.
   Henry se aproximou devagar e apoiou o queixo na cabeça dela, passou os braços por sua cintura e disse:
   – Eu também, mas pelo pouco que a conheço, acho realmente muito difícil.
   Esmeralda deu um sorrisinho.
   – Está vazio – informou. Ela virou-se para ele e deu um beijo rápido em sua boca enquanto abria a porta. – Até mais, milorde.
   – Até, milady.
   Esmeralda deu uma última olhada em sua direção e fechou a porta, com o coração martelando alto. Ela mal conseguia acreditar no que tinha acontecido. No que quase tinham feito. Porque Esmeralda sabia que, se não fosse pelo autocontrole de Henry, ela teria se entregado a ele de bom grado mesmo ali, na residência dos Jones.
   – Srta. Esmeralda! – Helena se sobressaltou ao cruzar com ela enquanto virava o corredor.
   Esmeralda empalideceu imediatamente.
   – Eu... eu posso explicar, Srta. Helena.
   Helena a encarou por terríveis, longos e torturantes segundos, mas depois a dispensou rapidamente.
   – Não se preocupe. Emily já me explicou tudo.
   Esmeralda a encarou perplexa.
   – Explicou? E você não está aborrecida?
   A mulher de meia idade negou, em uma atitude despreocupada.
   – Se fosse em qualquer outro dia, é claro que eu me zangaria por saber que você e sua prima passaram a noite em claro e dormiram até mais tarde – ela disse, e Esmeralda sentiu o alívio a dominar. – Mas hoje estou bem humorada, então vamos simplesmente deixar isso para lá.
   Esmeralda assentiu, e agradeceu aos céus por Emily existir. E, além disso, agradeceu também por qual – ou quem – fosse lá o motivo do tão raro bom humor da governanta.
   – E então, a senhorita estava me procurando para...?
   Srta. Helena, como nunca havia feito antes, entrelaçou o braço ao da lady e a acompanhou caminhando ao seu lado até o quarto, aparentemente animada.
   – Ah, sim – ela disse, com um suspiro. Um suspiro! – Vim buscá-la para a prova do vestido.
   A dama a encarou com uma expressão de dúvida.
   – Simplesmente não entendo, Srta. Helena! A modista não deveria ter pedido minha opinião antes de costurá-lo?
   A governanta a olhou com desdém antes de responder:
   – Devo lembrá-la de que o arranjo do seu casamento fora feito às pressas, sabe-se lá porquê – ela comentou, olhando de forma muito desconfiada para Esmeralda, que por sua vez apenas encolheu os ombros. – Além do mais, Madame Stella tem o ateliê mais requisitado pelas damas de toda Paris. Conseguir um vestido desenhado e costurado por ela é algo que muitas mulheres aspiram, e a maioria leva meses para simplesmente contatá-la! – Informou com os olhos brilhantes. – Acredite, lady Esmeralda, essa mulher veio de muito longe para cuidar única e exclusivamente do seu vestido de noiva, então trate-a bem e acate tudo o que ela falar, pois ela... ah sim, com toda certeza ela sabe o que faz – concluiu com um pequeno sorriso.
   Como sabia que não deveria contrariá-la, Esmeralda se calou. E ficara feliz com isso, pois quando chegou ao quarto e encontrou a madame segurando o vestido, seu vestido, o coração dela quase saiu pela boca. Era a coisa mais linda que ela já havia visto na vida.
   – Oh, lady Esmeralda! É um prazer conhecê-la – a mulher disse com um largo sorriso. – Ou devo chamá-la de Srta. Reynalds?
   – Apenas Esmeralda está bom – ela disse, cumprimentando-a.
   Helena, que entrou logo depois da lady, às encarou e questionou:
   – Bom dia. A minha presença é requisitada ou a privacidade entre a senhora e a senhorita é preferível? – questionou, dividindo o olhar entre a mais velha e a mais nova.
   Quando viu que Esmeralda não tinha nada a declarar, Stella respondeu:
   – Gostaríamos de um pouco de privacidade, por favor.
   Helena assentiu, fez uma pequena mesura e deixou o quarto em alguns segundos.
   – Sempre escolha a privacidade se tiver a chance, querida!
   Esmeralda deu um sorrisinho enquanto se sentava próxima a mulher.
   – O que fez a senhora deixar sua vida atarefada em Paris para vir até aqui, cuidar apenas do meu vestido?
   A mulher fez um último ajuste no vestido antes de entregá-lo a lady e sorrir para ela.
   – Seu pai e eu fomos... bons amigos durante uma época da minha vida, e eu devia alguns favores a ele; fora ele quem me deu o empurrão inicial para começar com o ateliê. Sabendo disso, sua governanta me escreveu uma carta requisitando a minha presença aqui, em nome do duque.
   Esmeralda soube, naquele momento, que amigo era um eufemismo muito grande para o que os dois haviam sido. Ela enxergava o brilho nos olhos daquela mulher, e a forma como ela falava era, de fato, culpada. Por Deus, Madame Stella havia sido uma das amantes do seu pai!
   – A senhorita se parece com ele – ela admtiu com admiração.
   – É uma pena – a jovem murmurou.
   A mulher ergueu uma sobrancelha.
   – Como disse?
   – Esqueça – Esmeralda pediu, sorrindo.
   E como ela era sua cliente e ainda por cima em breve se tornaria uma duquesa, madame Stella assentiu.
   – Não está reconhecendo? – ela questionou enquanto observava Esmeralda encarar com admiração o vestido em suas mãos.
   – Reconhecendo?
   Ela deu um sorriso.
   – Esse vestido pertenceu à sua falecida mãe, e antes à sua avó. Agora ele é seu!
   Esmeralda sentiu como se todo o ar fosse tirado dela. De repente, mil e umas sensações tomaram conta de seu corpo, e estava cada vez mais difícil respirar.
   – O q-que? Como? – ela questionou, gaguejando.
   Enquanto orientava Esmeralda a levantar e vestir a roupa, a mulher a explicou tudo.
   – Recebi o vestido em uma caixa juntamente da carta, querida. – Informou enquanto apertava o espartilho na cintura da lady. A mulher tinha tanta prática que Esmeralda mal notou quando ela estava tirando o seu outro vestido. – Apesar de ser um vestido antigo, ele estava em condições quase que perfeitas. As mudanças que fiz foram apenas para torná-lo adequado aos padrões de moda em que estamos habituadas. E, aparentemente, fui feliz em minhas escolhas, certo?
   Esmeralda concordou imediatamente.
   – Muito feliz – ela disse, com um enorme sorriso no rosto.
   Madame Stella deu um suspiro extremamente alto quando informou que a dama estava pronta.
   – Vá até o espelho – instruiu.
   Esmeralda atendeu ao seu pedido imediatamente, pois estava ansiando por isso desde que vira o vestido.
   Ao se colocar em frente ao espelho e encarar a si mesma, ela percebeu que estava chorando. Se sentia patética, é claro, mas não conseguiu evitar quando entendeu que estava usando algo que era de sua mãe.
   E, além de tudo, ela estava linda. O vestido que lhe caíra como uma luva parecia abraçar cada curva de seu corpo.
   – A senhorita está esplêndida! – elogiou. – Não é impressionante o fato de eu nem precisar ajustá-lo ao seu corpo?
   Esmeralda assentiu alegremente.
   – Tem a mesma silhueta de sua mãe – ela continuou.
   Parecia errado que aquela mesma mulher que se deitara com o duque quando ele já estava casado e tinha uma filha, sorrisse enquanto falava da mulher que ela ajudou a trair.
   – É uma felicidade – Esmeralda conseguiu dizer, fungando. – Eu sempre a achei uma mulher muito bonita, pelo que me lembro.
   Stella concordou.
   – Ela era, sim. A Duquesa era a mulher mais bonita e admirada por todos os moradores de Londres.
   Esmeralda deu uma risada amarga.
   – Menos pelo próprio marido.
   Madame Stella pousou a mão delicadamente no ombro de Esmeralda, uma tentativa inútil de confortá-la.
   A lady se sentia uma traidora ainda maior do que o pai por permitir que aquela mulher presenciasse um momento que deveria ser de sua mãe. Esmeralda estava brava por perceber que muitos momentos importantes foram tirados da duquesa, e diante daquilo, apenas sentia uma necessidade incontrolável de despejar suas frustrações em qualquer um.
   – Ele a admirava – Stella disse baixinho. – Mas era um duque, e não poderia demonstrar isso para o mundo.
   Esmeralda a fuzilou com o olhar, e questionou severamente:
   – E por quê?
   A mulher deu um sorriso sarcástico antes de respondê-la.
   – Porque emoções são uma fraqueza para os homens, e duques não poderiam fraquejar.
   Esmeralda sussurrou um palavrão.
   – Isso é tolice – disse para a mulher.
   – Homens são tolos.
   Esmeralda sorriu. Nisso ela precisava concordar.
   – Senhorita... – Stella pigarreou. – Eu sinto muito.
   A lady não havia entendido suas palavras até olhar para o espelho e ver sua expressão derrotada.
   – Sente? – ela lhe deu um olhar gélido. Não aceitaria a pena dela. – Sente mesmo?
   Stella assentiu.
   – Você sabe o que eu fiz, não sabe? – ela perguntou baixinho.
   – O que? – Esmeralda questionou, virando-se para ela. – Se refere ao fato de ter se deitado com um homem casado? Com o meu pai? Com o marido de uma mulher morta?
   Stella parecia tão desconfortável naquela situação, e a sua reação só fez com que Esmeralda tivesse mais vontade de chorar.
   – Eu... – ela disse, encarando o chão. – Realmente sinto muito, querida. Eu era uma jovem inocente na época, tão ignorante e burra... não fazia ideia que o duque tinha uma filha – confidenciou. – Eu assumo a culpa pela traição à duquesa, pois reconhecia sua existência, mas o seu pai me prometeu o mundo, Esmeralda. E tudo o que ele me pediu foi um herdeiro, pois dizia com todas as letras que sua mãe era incapaz, que ela era...
   Esmeralda se afastou imediatamente.
   – Pare! – ordenou. – Por favor, apenas... pare.
   Mas a mulher não a ouviu.
   – Depois de algumas semanas, eu finalmente entendi que aquilo não vingaria. Primeiro porque, por ironia do destino, o duque era o único incapaz. Ele ter conseguido engravidar a duquesa uma única vez... o fato de você ter nascido, Esmeralda, fora um milagre. Um milagre que não se repetiu. E segundo, eu não poderia viver com a culpa de arruinar uma família. 
   Esmeralda encarou a mulher em sua frente e enxergou a verdade em suas palavras. Ela era uma menina ingênua na época, mas é claro que era mais fácil culpá-la por tudo em primeira instância. Não era isso o que a sociedade fazia com todas as mulheres?
   – Me perdoe, senhora – ela pediu, envergonhada.
   Stella negou imediatamente.
   – Eu lhe devo desculpas e não o contrário. Você apenas agiu como qualquer outra pessoa agiria.
   Mas mesmo diante daquela declaração, Esmeralda insistiu.
   – Eu não costumo ser tão... explosiva. Só precisava culpar alguém.
   Stella se aproximou e acariciou com ternura sua mão.
   – Apenas entenda uma coisa, querida: se precisar culpar alguém, culpe o seu pai.
   Ao ouvir aquelas palavras, ela concordou com veemência. Faria aquilo como nunca antes.

Um Duque Para EsmeraldaOnde histórias criam vida. Descubra agora