C A P Í T U L O 4

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A cafeteria era, com toda certeza, um dos estabelecimentos mais atraentes que Esmeralda já tivera o prazer de visitar.
   Ela amara cada detalhe do lugar, especialmente o jardim de inverno, que graças à sua beleza imensurável e por ser altamente convidativo, se tornou a parte favorita dela.
   – É lindo – ela ofegou.
   Lorde Henry parecia partilhar da mesma emoção, mesmo não sendo a primeira vez que ia até lá.
   A educada Cookie não latiu e nem reclamou nenhuma vez sequer, graças as tardes que Esmeralda passou a educando.
   Eles se direcionaram as mesas e Esmeralda não parava de suspirar. O café era de uma elegância sem tamanho, e ela conseguiu entender o porquê do pai querer tanto ser parceiro de negócios do proprietário. Era evidente que tudo ia muito bem, e todos sabiam que o dono do Café era indecentemente rico.
   – Senhorita – Henry, num ato cavalheiresco, puxou a cadeira para que Esmeralda se sentasse.
   Ela agradeceu e se acomodou no assento confortável.
   Quando estavam distraídos com o menu e prestes a fazer o pedido, o Sr. Bragança se aproximou dos dois em passos largos.
   – Sr. Bragança, é um prazer desfrutar das maravilhas de sua cafeteria – Henry o cumprimentou.
   O proprietário sorriu para os dois, mas não durou mais que meio segundo. Quando viu a coleira agarrada a mão de Esmeralda e fitou o animal, o senhor quase quis desmaiar.
   – Meu bom Jesus! – Ele exclamou, levando a mão ao peito. – O que essa... coisa está fazendo aqui?
   Cookie estava prestes a latir e avançar em Sr. Bragança, mas Esmeralda a acalmou antes que fizesse isso.
   Henry se preparou para responder, mas a lady fez um gesto para que ele parasse. Ela levantou imediatamente e olhou nos olhos do homem.
   – Esta é a minha cadela, Sr. Bragança.
   Ela esperou até que ele fizesse uma objeção.
   – Sinto muito, jovem dama, mas a cadela não pode ficar.
   – Se refira a mim como Lady Esmeralda, por favor.
   Bragança retirou do bolso um lenço de seda e o levou a testa, secando as gotículas de suor que brotaram ali.
   – Oh, a senhorita é filha do duque!
   Ela confirmou e sorriu.
   Odiava ter que usar sua posição social para benefício próprio, e quase nunca o fazia, mas ela não iria permitir que Cookie fosse mandada para casa.
   – Bem... é claro. As semelhanças são infinitas – ele comentou depois de observá-la por um breve minuto. – Sendo assim, presumo que eu possa abrir uma exceção.
   Ela tinha consciência de que o homem havia dado sua permissão apenas por querer evitar criar mais problemas com o duque, mas fingiu estar surpresa.
   – É muito gentil da parte do senhor.
   Henry apenas encarava os dois com um sorriso no rosto. Estava achando aquilo tudo muito divertido, aparentemente.
   – Apenas garanta que ela não vai atacar os clientes ou... fazer suas necessidades aqui.
   Ele parecia desconcertado por falar sobre tais necessidades na frente de uma dama, mas Esmeralda não se importou.
   – Tem a minha palavra.
   Isso foi tudo o que Sr. Bragança precisou ouvir para deixá-los em paz.
   – Lorde Henry – ele sorriu para o acompanhante da lady e se afastou a passos largos.
   Todos sabiam que não era comum uma mulher desafiar alguém, principalmente um homem, mas a lady sempre ficara feliz em quebrar as regras.
   – Meus parabéns – Henry sorriu para ela. – Acaba de provar, mais uma vez, como é boa de briga. Virtude fundamental para o mundo dos negócios.
   Esmeralda revirou os olhos disfarçadamente para ele.
   – Apenas não poderia permitir que proibissem a presença de um animal incapaz de fazer mal a uma mosca, que é o caso de Cookie.
   Henry fingiu acreditar.
   – A senhorita foi muito bem, aliás.
   – Obrigada – ela sorriu. – Eu pretendo fazer isso mais vezes – conseguiu admitir. – Gosto de chocar os homens.
   – Faria isso todas as vezes que participasse de reuniões e tivesse opiniões fortes como uma duquesa.
   Esmeralda o encarou seriamente.
   – Bobagem! Agora pare de me importunar com esse assunto.
   Lorde Henry assentiu, porque ele sabia dos limites.
   – Cookie, querida – ele chamou. A cadela foi até os seus pés no mesmo instante. – O que acha disso? – ele pôs um biscoito na palma da mão e direcionou até a boca dela. A cadela o pegou no mesmo instante. – Boa garota! – Disse acariciando-a.
   Esmeralda só se deu conta de que estava sorrindo quando Henry a observava.
   – O senhor é bom com animais – disse rapidamente, tirando o sorriso do rosto.
   – Aposto que ela é dócil com todos.
   – Diz isso porque não a conhece –
ela sorriu.
   Os dois permaneceram em um silêncio agradável até que os cafés chegassem. Até mesmo aquilo era estranho para Esmeralda: se sentir confortável na presença de outra pessoa até mesmo quando não precisavam fazer uso das palavras.
   No entanto, ela estava disposta a afastar aquele sentimento.
   – É uma bela tarde, apesar de estarmos no inverno. A propósito, o que acha dessa estação? – Ela questionou sutilmente enquanto colocava açúcar em sua xícara.
   Henry impediu uma gargalhada no último instante, para manter a compostura diante das pessoas nas mesas próximas.
   – Agora iremos falar sobre o clima?
   Ela assentiu.
   – Por que não?
   – Não combina com a senhorita. – Quando ela o encarou com uma expressão indagadora, ele disse simplesmente: – Falar sobre amenidades, quero dizer.
   Ela sentiu uma pequena pontada no peito.
   Henry parecia conhecê-la bem, mesmo não tendo encontrado com ela em muitas ocasiões. E aquela troca entre eles estava fazendo com que Esmeralda se assustasse.
   – E o senhor sabe o que combina comigo?
   Ela o encarava seriamente, implorando por uma resposta que a fizesse murchar por dentro.
   – Sei que combina muito com azul.
   Esmeralda olhou para baixo e encarou o vestido azul mais bonito que tinha.
   Um sorriso insistente repuxou os seus lábios.
   – O senhor é muito galanteador, Lorde Henry. Está mesmo tentando me seduzir?
   Porque está dando certo, ela pensou.
   – Estou tentando seduzi-la para um casamento.
   Ela baixou os olhos e respirou profundamente por um instante.
   – Temo que tenha conseguido – resmungou.
   O lorde não parecia surpreso.
   – Fomos feitos um para o outro – brincou.
   – É claro – ela confirmou, num tom mórbido demais. – O senhor e o ducado.
   Esmeralda nem terminou de bebericar o café e saiu andando com Cookie.
   Henry a acompanhou até a carruagem.
   – Já estamos indo? A senhorita mal tocou no café – comentou. – Precisa se alimentar melhor.
   Esmeralda riu da falsa preocupação do lorde.
   – Isso não é responsabilidade sua. Eu garanto, Lorde Henry, nós iremos nos casar nem que eu esteja inválida numa cama. Estou dando a minha palavra, então não precisa se preocupar.
   O lorde pareceu não entender porquê ela
havia dito aquilo, mas decidiu não incomodá-la com perguntas.
   Henry a ajudou a subir na carruagem e acomodou Cookie ao seu lado.
   Quando chegaram a casa, ela nem se preocupou em sorrir. Apenas disse, alto e claro:
   – Esteja aqui amanhã no horário de visitas. O senhor e o meu pai podem começar a tratar dos assuntos do casamento.
   Ela não deu chance para ele responder, e desceu da carruagem com ajuda do criado.

Um Duque Para EsmeraldaOnde histórias criam vida. Descubra agora