C A P Í T U L O 12

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Por fora Esmeralda parecia perplexa ou até mesmo irritada, mas por dentro estava soltando fogos de artifício. Henry era tudo o que lhe faltava para tornar esta visita especial.
   – O que... como...? – ela gaguejou quando os dois ficaram a sós.
   Henry sorriu timidamente antes de começar a explicar.
   – Fui até sua casa e questionei alguns de seus criados sobre o endereço de sua tia, e por sorte, uma jovem adorável me deu todas as informações de que eu precisava. – Horas mais tarde, ao pensar novamente sobre esse diálogo, Esmeralda não teve dúvidas de que se tratava de Luísa.
   – E depois? – ela ainda estava com muitas dúvidas.
   Henry deu de ombros.
   – Depois eu comprei uma passagem de trem e, bem... aqui estou eu – ele sorriu, mas depois fez uma careta. – Junto do intrometido do meu irmão, infelizmente.
   Esmeralda finalmente sorriu.
   – Apesar de não ter parecido, eu gostei dele. É divertido.
   – Duvido que continue com essa opinião sobre ele quando o conhecer melhor, então aproveite enquanto dura. – Enquanto dizia aquelas palavras, Henry se aproximava cada vez mais, até estar tão perto da dama que podia quase ouvir as batidas incontroláveis do seu coração. – Como você está, meu amor?
   Aquilo era tudo que Esmeralda precisava para desabar. Ela se jogou contra ele e lhe deu o abraço mais sincero que já havia dado em alguém em toda sua vida.
   – Eu senti sua falta – ela sussurrou.
   Henry deu um suspiro de alívio.
   – Eu também, querida. Muito – murmurou no cabelo da dama.
   Esmeralda aproveitou cada instante daquele abraço. Aproveitou o calor que emanava dele, aproveitou-se do toque de Henry... ela aproveitou principalmente a sensação de tê-lo tão perto.
   – Está ciente de que Helena vai querer sua cabeça amanhã, quando tiver recobrado as energias, não está?
   Ele deu um sorriso torto.
   – Acho que posso lidar com uma simples governanta – garantiu. – De todo modo, não fará diferença se eu estiver com você.
   Esmeralda sorriu, mas estremeceu um pouco ao entender o que aquilo significava.
   – Convidei tia Melissa e Emily para o nosso casamento; há algum problema? – ela questionou enquanto se afastava.
   Ele balançou a cabeça.
   – Mas é claro que não, elas são sua família. E você pode convidar quem tiver vontade, Esmeralda.
   Ela concordou.
   – Eu sei, mas senti que deveria avisá-lo.
   Henry assentiu.
   – Você já tem planos para amanhã?
   A jovem mordeu o lábio inferior enquanto assentia.
   – Irei provar o vestido de noiva – contou. – Sinto muito que tenha vindo até aqui, pois quase não teremos tempo a sós.
   Quando ele sorriu para ela, a dama sentiu-se completa. Como se não precisasse de mais nada.
   E aquilo a assustou.
   – Apenas esse curto tempo em que conversamos já fez tudo valer a pena.
   Esmeralda pigarreou.
   – E então... você não tem intenção de voltar logo?
   O sorriso dele se esvaiu num instante.
   – Desculpe – foi tudo o que ele disse enquanto dava alguns passos para trás.
   Ela franziu o cenho.
   – Por quê?
   Ele balançou a cabeça.
   – Eu sinto muito por não ter percebido logo... – sua voz falhou por um milésimo de segundo. – Voltarei para Londres o mais breve possível.
   E quando ele disse aquelas palavras, o coração de Esmeralda pareceu quebrar. Não era isso que ela queria.
   – Por quê? – ela questionou mais uma vez.
   – Porque só agora consigo perceber – ele sussurrou – que essa viagem é sua fuga. Está fugindo do seu futuro aqui. De mim.
   E ela nunca iria se esquecer da expressão de dor que ele tinha no rosto enquanto deixava o cômodo.

~

  – Um minuto, por favor! – Esmeralda ouviu depois de dar leves batidas na porta.
   Alguns segundos depois, Emily apareceu e a encarou preocupada.
   – Venha, querida – ela levou Esmeralda para dentro. – Você não parece bem.
   A dama concordou imediatamente, mas sem dizer uma palavra. Ela sentia que se dissesse qualquer coisa, acabaria chorando.
   – Agora, por favor, conte-me o que está afligindo você – Emily pediu depois de acomodá-la na cama.
   Esmeralda respirou fundo antes de dizer:
   – Preciso lhe contar algo sobre Henry e eu.
   Emily ficou em silêncio, esperando até que sua prima estivesse pronta.
   – Lorde Henry e eu também temos um acordo, assim como você e o Sr. Lawrence.
   – Acordo? – Emily a encarou perplexa, quase sem acreditar. – Que acordo?
   – Nós... – Esmeralda se preparou para contar. –
Nós-nos-casaremos-e-Henry-ficará-com-o-ducado-enquanto-eu-fugirei-de-Londres! – Contou apressadamente, sem respirar nem mesmo por um segundo.
   Emily precisou de tempo para assimilar o que havia ouvido, e Esmeralda aproveitou cada milésimo dele para se recompor.
   – Por que você daria o ducado pra ele?
   Esmeralda deu um sorrisinho.
   – Esse é o menor dos meus problemas, querida. A essa altura eu confiaria qualquer coisa a Henry; sei que ele é capaz de cuidar e proteger o que eu lhe pedir.
   Emily segurou sua mão e a olhou nos olhos.
   – Então, diga sinceramente, qual é o problema?
   Esmeralda limpou a garganta, tentando prolongar o momento.
   – Eu acho que... acho que não quero deixá-lo – confessou. – Só a ideia já parte meu coração.
    Sua prima lhe deu um pequeno sorriso, e pediu:
   – Pode me contar toda a história, por favor?
   – Claro – ela assentiu.
   Esmeralda contou tudo a prima, deixando de fora apenas pequenos detalhes, como os beijos e amassos que aconteceram entre os dois.
   Quando encarou Emily, ela a encontrou com uma expressão indecifrável.
   – Esmeralda, você não pode abandoná-lo.
   A dama se surpreendeu ao ouvir aquelas palavras da prima.
   – Jamais esperaria ouvir isso de você. Pensei que não apoiasse casamentos puramente arranjados, como um negócio.
   Emily concordou imediatamente.
   – E não apoio, nem jamais apoiaria. – Ela respondeu, deixando Esmeralda ainda mais confusa. – Acontece, prima, que não é assim que enxergo vocês dois. O olhar que vocês trocaram quando chegamos do passeio, ele foi... – ela suspirou – mágico. Pareço uma tola falando assim, eu sei, mas todos ali sentiram as faíscas.
   Esmeralda se calou. Seria mesmo possível que todos percebessem algo entre os dois?
   – O ponto é – Emilly deu continuidade – que vocês podem não ter começado da maneira correta, mas ainda assim estão claramente apaixonados. A ordem dos fatores não altera o produto, certo? – argumentou.
   A lady piscou várias vezes antes de respondê-la.
   – De todo modo, Emily, de nada adianta descobrir que estou apaixonada por ele. Eu não posso desistir de uma independência que está quase em minhas mãos! Você entende isso?
   Emily assentiu.
   – Claro que não pode! Não estou lhe dizendo para se tornar dependente do Lorde, isso jamais! Estou apenas aconselhando-a a ter as duas coisas.
   Esmeralda riu do que ouvira.
   – Isso é uma piada? Porque parece.
   Emily respirou fundo, mas não conseguiu manter a calma.
   – Por que você não pode ter as duas coisas?
   Esmeralda disse, muito séria:
   – Porque minhas prioridades mudariam totalmente se eu decidisse ficar. Henry esperaria um filho, você sabe – ela fez uma careta. – Além disso, iriam exigir que eu, como uma mulher casada, planejasse festas, preparasse jantares, bailes, e outros eventos sociais tão exaustivos quanto. E aí vem o mundo aristocrático, do qual fujo desde que conheci Arthur, filho de um conde...
   – Esmeralda – disse Emily, interrompendo-a num tom grave. – Você está colocando empecilhos demais em algo tão simples. Eu peço, por favor, que esqueça tudo o que me disse e responda sinceramente: você realmente não se vê exercendo o papel de duquesa?
   Esmeralda engoliu em seco.
   – Diga! – ela exigiu. – E sem pensar muito.
   A dama obedeceu.
   – Na verdade, sinto que até poderia lidar bem com os negócios caso fosse treinada para isso; tenho esse sangue nas veias, você sabe. O problema são as pessoas: elas iriam querer que a duquesa tivesse tantas responsabilidades quanto o duque?
   Emily pensou um pouco antes de respondê-la.
   – Minha querida, a sociedade vai sempre almejar ver mulheres em posições inferiores aos homens, seja onde for. Mas nós estamos aqui para revolucionar, não estamos?
   – Sim! – Esmeralda sorriu para ela com os olhos marejados. – Penso exatamente assim.
   A prima lhe devolveu o sorriso.
   – Mas há um problema, é claro: aos olhos da lei, tudo o que você decidir fazer precisará da permissão de seu marido, e todo o dinheiro que você receber será automaticamente dele. Isso, infelizmente, não poderemos mudar tão rapidamente. As pessoas não mudam a forma de pensar de uma hora para a outra, essas coisas levam tempo. Mas se você confiar em Henry, se tiver certeza de que ele jamais lhe controlaria nem faria qualquer coisa contra sua vontade, então fique. Arrume um jeito para permanecerem juntos, Esmeralda!
   Ela se calou. Era muita coisa para pensar.
   – E quanto ao seu talento – Emily lhe deu um pequeno sorriso – pode aprimorá-lo. Quando achar que está pronta o suficiente, deveria expor em galerias de artes. O que acha disso?
   Esmeralda concordou.
   – Parece bom.
   – Não estou tentando manipular você, querida. Nem peço que siga os meus conselhos, apenas quero que os escute com atenção. O amor é algo arrebatador. Convivi com ele durante toda a minha vida; vi isso no casamento dos meus pais. E escutei, durante muito tempo, que ele é raro e extraordinário. Você e Henry têm isso, então por favor, não deixem que ele escape.
   Esmeralda deixou o rosto cair nas mãos.
   – Não sei o que fazer, Emily.
   – Não precisa se afligir por agora, minha querida – Emily disse enquanto a puxava para um abraço. – Você tem dois meses para decidir sobre o casamento.
   Esmeralda assentiu com tudo o que tinha; ela iria se agarrar àquilo até o último momento.

Um Duque Para EsmeraldaOnde histórias criam vida. Descubra agora