Brasil, Março de 2015
Minha vida é perfeita! Tive uma infância maravilhosa, pais abençoados que me deram tudo que precisei e além. Nunca me faltou absolutamente nada. Minha família tem muitas posses, mas nenhum de nós gosta de ostentação. A maior parte do nosso patrimônio foi conquistada pelos meus pais, trabalhando juntos eles conseguiram chegar aonde estão, são meus exemplos em tudo. Eles se conheceram muito jovens e, apaixonados, resolveram se casar logo após a graduação, não muito tempo depois, eu nasci.
Dona Francesca Romano, minha linda mãe, nasceu em uma família abastada e, sendo filha única, foi criada com todos os mimos, mas nunca se sentiu superior a ninguém. Meus avós maternos são médicos respeitados, ensinaram-na valores, princípios, incentivaram seus estudos, contudo, deixaram a decisão sobre qual graduação fazer em suas mãos. Não queriam que a filha fosse só mais uma patricinha mimada e, a opção pela medicina, foi natural, jamais a pressionaram para isso.
Meus avós paternos viviam em uma situação completamente diferente. Doutor Anthony Morelli, meu pai, veio de uma família sem muitas condições financeiras, mas sua família vivia relativamente bem. Segundo ele, o essencial nunca faltou, apenas precisaram se privar de algumas coisas que, no fim, não fizeram tanta diferença. Ele sabia que se quisesse ser alguém, deveria se dedicar e correr atrás. Incentivo moral ele tinha, inteligência e capacidade também. Estudou muito e com determinação, conseguiu uma bolsa integral para cursar medicina e, por coincidência (ou destino), acabou na mesma turma que mamãe. Foi assim que se conheceram.
A história de amor deles sempre me fascinou. Eles contam que foi amor à primeira vista. Ele sabia que mamãe era de família importante e, por medo que os comentários maldosos pudessem chegar até meus avós, levando-os a pensar que ele só queria se dar bem às custas de um possível relacionamento entre os dois, papai dificultou as coisas para ela no começo.
Mamãe diz que precisou marcar em cima, que papai sempre chamou muito a atenção de toda a ala feminina da universidade, mas era muito na dele e não dava confiança para ninguém. Ela costuma nos lembrar sempre de como se conheceram:
— Seu pai era muito bonito. O homem mais lindo que eu havia visto até então e parecia que ele nem tinha consciência disso. Lembro da sensação quando o vi pela primeira vez. Nos esbarramos no corredor e a conexão foi instantânea, mas ele não sustentou o olhar por muito tempo, desviando suas piscinas azuis perfeitas, rapidinho. Cheguei a pensar que não havia chamado sua atenção.
— É claro! Como poderia manter o olhar se nunca havia contemplado tamanha perfeição? Fiquei bobo, não sabia como agir e decidi por bem me afastar antes de passar vergonha! — Papai sorri ao responder seu comentário.
— Precisei inventar um monte de coisas para ficar por perto, tentava fazer todos os trabalhos que não eram individuais com ele, mas Anthony não facilitava não. — Ela continua.
— Desculpa querida! — Papai diz enquanto a puxa para um longo beijo.
— Só desculpo porque ainda me atura depois de todos esses anos!
— Quem será que atura quem? — Ele rebate sorrindo.
— Te amo meu Thony.
— Te amo minha Tchesca.
Acabou que o medo do papai era infundado. Meus avós maternos ficaram tão encantados com ele que o adotaram como filho, incentivaram o romance dos dois e hoje, papai toma conta do hospital da família. Mamãe conta que vovô não via a hora que se casassem, pois de acordo com ela, ele tinha medo de que o papai desistisse do compromisso. Pelo comportamento deles, um possível rompimento jamais aconteceria.
Fui uma criança tranquila, alegre e, pelo que me falam, nunca dei trabalho aos meus pais. Cresci cercado de amor por todos os lados, ganhei dois irmãos que amo mais que tudo, nunca senti ciúme pelo nascimento deles. Sempre fui apaixonado pela ideia de ter um relacionamento como o dos meus pais, sonhava em criar uma família como a que tive, com muito amor e carinho, eternamente apaixonado pela minha esposa, recebendo o mesmo em retorno. Meu felizes para sempre, como nos contos infantis que mamãe lia para minha irmãzinha.
Sou o mais velho de três irmãos, tenho vinte e seis anos, sou clínico geral, mas pretendo me especializar em Pediatria. Meus irmãos Caio e Louise são gêmeos, tem vinte e quatro anos. Caio é Engenheiro Civil e Lou está terminando a faculdade de medicina, disse que vai optar por ginecologia e obstetrícia. Apesar de dois de nós termos seguido os passos da família, a medicina nunca foi uma imposição, foi realmente uma escolha, como aconteceu com mamãe.
Consegui levar minha vida toda certinha e cronometrada desde que me entendo por gente. Tenho uma namorada desde a adolescência, linda, perfeita aos meus olhos, que julgo me amar incondicionalmente, assim como a amo. Clarissa é a primeira e espero que seja a minha única namorada.
Quando a conheci, ainda no ensino médio, pensei: ela é o meu para sempre! Me imaginei, em um futuro próximo, realizando minha fantasia de relacionamento, por isso nunca me importei de sair acompanhado para tudo, eu a amo e sempre gostei de estar em sua companhia. Mesmo antes de conhecê-la, não costumava frequentar muitas festas ou baladas e depois, quando ingressei na faculdade de medicina, sabia que os estudos exigiriam total dedicação da minha parte, tornando isso praticamente impossível.
Nunca a vi se queixar da nossa falta de interação com os outros, em compensação Jeff, um dos meus melhores amigos, sempre reclamou da forma como eu conduzi minha vida social, dizendo que não aproveitei a melhor fase da minha vida, que só estudei e passei o pouco tempo livre que tinha com Clarissa. Nunca compreendi essa implicância entre os dois.
Meus pais não gostam da minha namorada, aliás, nunca gostaram, dizem que ela só está interessada em status e dinheiro. Os olhos não mentem filho, é o que minha mãe diz sempre que se encontra com Clarissa, quando, nas palavras de dela, minha namorada resolve nos presentear com sua presença em algum evento familiar. Mamãe diz isso porque Clarissa quase não aparece na casa dos meus pais, alega que dona Tchesca implica com ela gratuitamente.
Mamãe garante que a implicância não é gratuita pois presenciou, em inúmeras ocasiões, Clarissa sendo desagradável e desrespeitosa com algumas pessoas, além de se mostrar preconceituosa, soberba e mesquinha, atitudes que mamãe abomina. Honestamente? Não consigo imaginar minha Clarissa agindo dessa forma, tanto que cogito a hipótese de que minha mãe possa estar realmente de implicância.
Dona Francesca insiste que não enxergo a verdadeira essência da minha namorada pois a vejo com olhos de amor. Sei que Clarissa se mostra um pouco fútil as vezes mas, ainda assim, ela me ama e isso me basta, não concordo que eu esteja me iludindo por amor.
Assim que concluímos o ensino médio, optar pela medicina foi natural, pois, além de amar a profissão, queria seguir os passos dos meus pais e avós. Clarissa optou por fazer faculdade de moda, ela sempre se identificou muito com esse ramo, dizia que queria ser modelo. Até chegou a fazer alguns trabalhos, mas não emplacou na carreira, então a graduação nesse curso seria uma forma de estar inserida no glamour do meio.
Estamos juntos desde os dezessete anos e, por minha vontade, já teríamos casado, mas meus pais relutam dizendo que não é hora, que ainda sou muito novo, que deveria pelo menos fazer minha especialização antes de dar esse passo. Até concordo com eles, mas Clarissa não fica nada contente com isso, ela está impaciente para marcar a data desde a oficialização do compromisso, há quatro anos.
Optamos por não morarmos juntos antes do casamento, também não tenho tido muitas folgas devido aos plantões no hospital, mas sempre que posso, no caso, quando meus horários me permitem, ficamos juntos no meu apartamento ou na casa dela. Há alguns dias venho notando que Clarissa está diferente, agindo estranhamente, parece nervosa e ansiosa, mas não perguntei nada para não a aborrecer, não queria forçá-la, sei que em algum momento irá falar. Chego em casa com esse pensamento e me surpreendo, pois ela já estava me esperando.
— Precisamos conversar. — Clarissa diz me encarando seriamente.
— Diga minha linda, o que está te incomodando?
— Lucca, eu estou grávida!
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Assim é...Destino?
ChickLitAs pessoas não entram na vida da gente por acaso, cada uma tem um motivo para estar nela, e o tempo de permanência é determinado justamente pela razão que a fez entrar. Então faremos parte da vida de alguém enquanto essa pessoa precisa da gente ou e...