Brasil, Novembro 2015
Clarissa entrou na 39ª semana de gestação, daqui a pouco terei minha princesinha nos braços! Estou na cidade desde ontem à noite e não vejo a hora de chegar ao hospital e encontrar minha boneca, poder conversar com ela e, quem sabe, tocá-la como tenho sonhado há meses!
À tarde pretendo ir falar com o RH para ver a respeito do encerramento do meu contrato. Se tudo correr bem, fico somente até resolver as coisas com minha pequena. Meu tempo de permanência aqui vai depender da nossa conversa.
Quando chego em meu consultório, noto que tem algo diferente no ar, não sei explicar o que é, apenas sinto. Vanessa está em sua mesa, percebo que há poucas pessoas esperando na recepção. Dou bom dia a ela e sigo direto para minha sala. Tudo está exatamente como havia deixado no dia que saí.
Pela manhã resolvi alguma coisa burocrática que havia ficado dos dias em que estive fora e atendi alguns pacientes. Confiro com Aline a agenda da tarde e como não tenho ninguém marcado para agora, decido ir ver o pessoal da turma antes de ir para o RH.
— Boa tarde enfermeira Cláudia, como tem estado? — Ela parece tão concentrada que chega a dar um pulinho quando ouve minha voz.
— Doutor Lucca! Que bom que voltou!
— Não será por muito tempo, mas é bom estar de volta!
— Não veio para ficar? Está com algum problema? — Pergunta preocupada.
— Problema nenhum. Na verdade, meu contrato era temporário, falta pouco para encerrar, mas ainda estou decidindo se ficarei até o final.
— É uma pena perdê-lo também! — Ela diz parecendo triste e de imediato não entendo o porquê, mas resolvo parar de enrolar e perguntar o que me interessa.
— Cadê o restante do pessoal? Melissa, Jordan, Catherinna? — Termino de falar e ela fica com os olhos marejados. — Está tudo bem Cláudia? Aconteceu alguma coisa com algum deles? — Deus, que não tenha sido nada com a minha pequena!
— Desculpe Doutor Lucca, ainda fico um pouco chateada com o assunto. Quanto à sua pergunta, sim e não. Sim aconteceu algo, mas não foi nada de grave. Melissa passou no vestibular e saiu do hospital há umas semanas, foi passar uns dias na casa dos pais e depois vai para a universidade. Jordan e Eloisa estão medicando os pacientes, daqui a pouco retornam ao postinho. Quanto a Cathy, ela foi embora semana passada.
— Embora? Por quê? Ela parecia gostar tanto daqui. Ela também foi estudar? — Não posso acreditar que ela se foi!
— Houve um mal-entendido com a turma do noturno e Cathy pediu demissão. Ela faz muita falta! — Diz emocionada.
— Chorando de novo Clau!? Olá, Doutor Morelli, que bom que está de volta! — Eloisa fala indo abraçar Cláudia e me dando um aceno de cabeça.
— Para com isso chefinha, senão vou chorar também! Sinto tantas saudades da minha deusa. — Jordan, que entra no posto com uma bandeja de medicamentos, fala suspirando.
— Mas a gente vai poder ver ela no casamento, ou vocês não vão? — Eloisa diz e eu fico em alerta. Que casamento?
— Claro que vou, pela Cathy, eles são família! — Cláudia diz.
— Eu vou claro... Além de poder rever a minha deusa, jamais perderia a oportunidade de ver aquele gato do Luigi vestido de noivo! — Meu mundo desaba quando ouço o nome do noivo. Ela vai se casar? Cheguei tarde demais! Perdi o amor da minha vida...
Depois de ouvir isso, não consegui mais ficar por perto deles, pensei que iria desabar ali mesmo. Estou sentindo dor física pela notícia, me despeço deles e sei que o que resta é somente falar com a senhorita Denise. Vou ficar até o final de semana, depois encerro meu contrato, não tenho mais razão para permanecer aqui.
A semana passou arrastada. A notícia do casamento da minha boneca me abalou de tal forma que não consigo raciocinar direito. Preciso falar com o Enzo, contar o que aconteceu. Aproveito que estou com minhas coisas organizadas para o meu retorno à capital amanhã e tento, mais uma vez, ligar para meu amigo.
— Fala bro! Se acertou com a gata? — Ele me pergunta, antes que eu fale alguma coisa.
— E aí cara, que bom que atendeu! Quem dera essa fosse a notícia que tenho para te dar.
— Que foi mano? Ela não correspondeu?
— Pior...ela foi embora, vai se casar. Perdi o amor da minha vida! — Meus olhos ardem pelo choro contido, ainda que meu amigo não possa me ver, sei que ele sente minha dor.
— Sinto muito irmão! O que pretende fazer?
— Estou voltando para a Capital amanhã, não tenho mais motivo para adiar meu retorno. Daqui para frente, vou me dedicar à minha princesa.
— Quem sabe você vem para minha cidade natal? Eu não posso ir até você agora porque meu irmão se casa amanhã, mas tenho certeza que todos ficariam felizes em conhecer meu melhor amigo, fora que iria te fazer bem mudar um pouco o cenário. — Sei que ele quer me ajudar e deve estar aflito por não poder estar por perto, mas o que menos preciso no momento é participar de um casamento.
— Obrigado pelo convite cara, mas não estou no clima. Quando você voltar a gente se fala, pode curtir sua família tranquilo, vou ficar bem!
— Tem certeza de que não quer vir? Te apresento minha pequena. Coincidentemente ela também perdeu a paixonite dela por medo de se abrir.
— Então posso imaginar como ela está se sentindo. Cuida bem dela, porque mesmo que seja só uma paixonite, dói muito!
— Vou cuidar irmão, pode deixar! Fica bem, nos vemos na segunda!
— Até segunda, Enzo.
Dezembro de 2015
Minha princesinha nasceu na semana passada, quarenta e uma semanas de gestação. Olivia Barilli Morelli, minha pequena Liv, tão perfeita! Parece uma boneca, como a minha Cathy. E por Deus, eu gostaria que ELA fosse a mãe da minha bebê!
Clarissa não possui um osso materno em todo seu corpo, dá alguma atenção à pequena somente quando estou por perto, ela ainda acha que vai me ludibriar novamente. Quanta ilusão! Se não posso estar com minha Cathy, então, a única mulher na minha vida de agora em diante será minha pequena Olivia, meu coração pertence somente as duas.
Não está sendo fácil manter a fachada, parece que estou sempre atuando para não transparecer o quão abalado ainda estou por ter perdido minha boneca. Minha mãe disfarça bem, mas sei que está muito preocupada comigo, não tenho como enganá-la, ela é mãe afinal. Quem mantém a minha sanidade é a Liv, não fosse por minha filha, tenho certeza de que já teria sucumbido de alguma forma.
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Assim é...Destino?
ChickLitAs pessoas não entram na vida da gente por acaso, cada uma tem um motivo para estar nela, e o tempo de permanência é determinado justamente pela razão que a fez entrar. Então faremos parte da vida de alguém enquanto essa pessoa precisa da gente ou e...