Capítulo Dois

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Viviane

Último dia da semana era coisa linda, nunca vai ter alguém que prese mais por uma sexta do que eu rs.
Dia de entregar minhas atividades da faculdade, que graças ao bom Deus já estou no último ano.
Curso pedagogia, já que amo ensinar e adoro uma criança.
Para conseguir pagar minha faculdade, investi num curso de manicure. Aprendi a fazer cada unha de gel, agrigel e pó de fibra que fica babado puro. Papai do céu vem abençoando e já tem quatro anos que possuo meu espaço. Localizado em uma das maiores favelas do Rio de Janeiro a grande Penha, O aluguel é bem em conta e não fica longe de casa já que moro na pista. Infelizmente ainda não é um Leblon né amor, porém Deus ajude que seja um destino próximo rs! Minha casa fica apenas vinte minutos a pé de lá, então tudo fica mais "tranquilo" digamos assim.
Minha rotina? É aquela correria. Acordar, ir pro salão, na hora do almoço venho da uma ajudinha pra minha mãe, já que minha irmã se mudou pra Penha e agora só ficou eu e a dona encrenca. Após o almoço volto pro salão e fico até umas cinco e meia da tarde. Desço o morro correndo, me arrumo e vou pra faculdade, tempo é a palavrinha que Viviane Pimentel desconhece rs.

Por isso amoo um final de semana. Pego ele todinho pra folgar e resenhar com minhas faixa. Só trabalho caso seja uma das minhas clientes fiéis, aí sempre abro uma exceção.

Reparo que já são oito e meia, porra tô mais que atrasada. Cliente marcou nove horas, e o despertador só ouvi tocando oito e meia. Mando uma mensagem informando que vai acontecer um pequeno atraso.
Tomo um banho rápido, coloco um shorts pois só quem vive nesse estado, sabe o calor dos infernos que faz aqui pela manhã. Calço meu chinelo, arrumo um top no corpo, espirro perfume e me hidrato com meus bebezinhos, arrumo minhas madeixas em um coque. Nesse calor que faz aqui, quem tem cabelo grande e cacheado sofre rs.
Saio do quarto, passando pela sala dando bom dia pra dona Helena.

- Vai sair sem tomar café minha filha?- minha mãe pergunta quando vê eu pegando minha bolsa.

- Atrasada abeça mãe, vou ter que ir, bença.- digo e saio.

Começo a ir caminhando toda destraida, estômago ronca e decido que vou passar na padaria que tem no morro. Sou apaixonada demais ali, x-salada deles não tem pra ninguém. Passo pela contenção comprimentando os homens da barreira e vou subindo. Parei na padaria que era bem próximo do salão e fiz meu pedido, já pedi logo dois por que não sou obrigada a passar vontade de nada eu hein. Comprei uma coca também e algumas besteiras pra por no salão, pras clientes ficar comendo enquanto fofoca, por que eu amo haha. Assim que saio olho para os dois lados e vejo só um carro, quando ele passa e vou atravessar,  escuto uma freada brusca em cima de mim que fez minhas pernas bambear e eu cair com minhas sacolas.
Respiro fundo antes de olhar pra cara do infeliz.

- Presta atenção mina, quer se matar é? - Uma voz grave soa nos meus ouvidos, pego minhas sacolas e me levanto respondendo.

- Calma, não tinha te visto. Entra na frente dos outros e ainda quer tá certo?- Questionei encarando o mesmo e erguendo minha sombrancelhas, ele devolve meu olhar numa intensidade maior. Ficamos assim, até ele quebrar nosso contato visual.

- Ih garota ta pegando viagem é, me encarando a troco do que mesmo?- Veio todo cheio de marra pra cima de mim, logo de mim? Quis "guerra"  com a pessoa errada, eu boto logo no lugar rapidinho, nunca nem foi visto.

- Se fecha bofe, eu hein , fui.- digo e nem olho mais.

Odeio essa laia que só por ser bandido, que com certeza ele é. Quer ficar vindo meter bronca pra cima dos outros, ele que tá errado e quer se crescer?  Sei que tenho que ter respeito, mais até parece que vou escutar calada algo que eu sei que tô certa, bofe estranho, xocotó. 

Chego no salão e minha cliente já tá lá, olho meu joelho que tá ardendo abeça e me estresso mais ainda.

Faço a unha da mona dando meu nome, e ela me paga já deixando marcado a manutenção.
Tem ciência que é foda conseguir um horário aqui, como eu disse Deus honra muito meu talento.
Ligo pra minha irmã e mando vim pra cá e trazer duas gazes e um remédio pra poder colocar.

- O que aconteceu em, fico tempo demais ajoelhada e abriu esse cu aí?- Larissa vem me gastando, só fecho a cara pra ela.

- Um bofe quase me atropelo quando tava saindo da padaria e ainda quis meter marra acredita? Já dei logo uma trava, eu hein, pago pau pra ninguém pioro pra bandido.- Respondo, enquanto passo um remédio antes de por a gazes.

- Se aproveita né Viviane.- fala me ajudando.- Sabe quem ninguém é doido de por a mão em tu, nem mora aqui e tem moral com todo mundo.- ela diz e eu mostro a língua.- não é atoa que o Tucano é caidinho por você, não só ele né.- fala e começa a rir, eu dou risada negando com a cabeça.

Pior erro da vida foi esse Tucano, dei um beijinho uma vez a décadas atrás e até hoje ele fica no meu pé. Levo ele na amizade por que curto demais meu amigo, mais as vezes falta paciência. Quer ter ciúmes de algo que jamais foi dele, aí complica né.

- Nem me fala, você viu a ação social que eu disse? Tem que vê com algum de frente do morro o dia certo da festinha das crianças. Vou deixar claro que não quero que me paguem por nada, vou tirar do meu bolso. Porém, quero vê a mulherada daqui feliz sabe? Muitas mães de família que tira da própria boca pra botar na de filho/marido ou neto. Elas merece um dia de princesa também.- afirmo e Larissa concorda.- Você é cabeleireira, tem que arrumar pelo menos mais três manicures e cabeleiras também. Fora os barbeiros mais isso eles vê né, tô dando já o cú pedir todo raspado já é demais.- Falo e ela gargalha.

- Amei demais a ideia, que Deus abençoe esse seu coração bom. Com toda a certeza sempre será isso que eu vou admirar em tu.- ela avisa e dou um beijo nela.- Tava pensando no que você disse Vi, e vou querer sim, nada melhor que abrirmos nosso espaço juntas. Como peguei meu certificado agora e você tem bastante cliente, bom que já consigo algumas também né.- diz e eu concordo.

Minha diferença pra Larissa nem era muita, eu tinha vinte e dois aninhos e ela acabou de fazer vinte. Só que diferente de mim ela não pretendia fazer faculdade nem nada, apenas o salão dela era o foco.

- Nem te contei o babado né, pelo visto tá chegando gente nova por aqui.- avisa e bebe uma água.- Vi três carros parado nas casas que estavam pra vender. E pela ruas do morro ouvi boatos que é alguns homens da rocinha.- acrescenta.

Minha mente automaticamente foi pro homem de mais cedo, não podia negar que era um gostoso. Porém, Deus que me livre de envolvido. Gosto de passar bem longe, amo meu cabelo na cabeça e meus dentes no lugar aonde Deus colocou.

- Tá pensando em que hein garota? Essa cara de safada no rosto!- Larissa pergunta rindo e eu nego com a cabeça.

- Que cara de safada tá maluca?- faço a desentendida.-Mais acho que foi um desses aí, que quase me atropelo hoje de manhã.- finalizo rindo.

-Hmmm, já cruzou o caminho de um né safada, hoje quase foi morta pela moto. Amanhã é pelo enforcamento, se é que entende.- Fala e sai do salão gargalhando, antes do meu chinelo acertar ela.

Larissa era maluca de achar que eu me envolveria. Mais afinal isso tá rondando na minha cabeça por que mesmo?- afasto esses pensamentos malucos e ajeito as coisas pra próxima cliente.
Hoje ia ser aquelas cenas, sextou bebê.


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