- Quem era ele?
- Não importa.
- Importa sim se ele for me perseguir pelo resto da vida por sua causa.
- Você vai morrer bem antes dele sequer pensar em te perseguir - sorrio para Loki, recebendo uma encarada mortal. Reviro os olhos e balanço a cabeça, andando mais rápido. - O Aleks não vai te perseguir, relaxa.
- O olhar que ele me lançou dizia que ele me buscaria no Hel se fosse necessário.
- Tudo bem, Loki. Já entendi que você quer o Aleks em cima de você. Agora só cala a boca e anda - ordeno, observando o céu alaranjado. Merda, e ainda está frio. Esfrego meus braços, ouvindo os resmungos incessantes de Loki. Bufo e reviro os olhos. - Fala, criatura.
- Primeiro, eu não quero que ele faça nada comigo. Segundo, pare de me dar ordens.
- Dê um tapa na sua própria cara - ele se estapeia e me olha, incrédulo. Rio e balanço a cabeça, me sentindo exausta momentaneamente. - Por que eu iria desistir de uma coisa dessas?! Nunca perde a graça.
- Te odeio - rosna Loki, e entramos na rua do prédio que procuro. Dou de ombros antes de reunir as últimas forças e entrar no edifício.
- Posso viver com isso - passo pelo porteiro sem o cumprimentar, e vejo Loki ficando para trás, encarando o lobby de entrada em êxtase. Bufo e o puxo para dentro do elevador, apertando o botão da cobertura.
- Onde estamos? Como você não foi barrada na entrada? O cara é cego?
- Sem mais perguntas - encosto contra a parede de metal do elevador, fechando meus olhos por alguns segundos e deixando o cansaço me levar. Mas então ouço a campainha, e percebo que estávamos no andar certo. Saio do elevador primeiro, não esperando Loki e torcendo para que os donos da casa não estejam.
Encosto na maçaneta e a porta destrava com facilidade. Solto o ar que não sabia que segurava. Balanço a cabeça para afastar pensamentos e adentro o duplex, acendendo as luzes automáticas. No hall de entrada, o mesmo tapete de pele de urso está estendido, branco e feio como sempre foi. A mesinha que carrega fotos e um vaso exageradamente grande agora possuí também um tapetinho do que deve ser a pele do filhote do urso sob meus pés. Péssimo gosto parece ser algo que não muda com os anos.
- E quem são esses? - ouço Loki perguntar, e viro a tempo de o ver pegando o porta retrato da mesinha. Arranco das mãos dele e o coloco no lugar, mas com a foto virada para baixo, seguindo em frente.
- Meus pais. Não estamos aqui para passeio, vamos.
- Seus pais?! Eu jurava que você tinha sido criada por cobras - reviro os olhos, mas o ignoro. - E essa, quem é? Ela é bonita - paro, viro na direção dele e vejo que está novamente com o porta retrato em mãos, apontando para Virsate. Reviro os olhos e tiro o quadro de novo da mão dele.
- Minha irmã, Virsate Duoq.
- Seus pais gostam de latim e anagramas e odeiam nomes bonitos - zomba Loki, passando o dedão no lábio inferior. - "Seja verdade", em latim. E Daemi Munc, "mentira" - reviro os olhos novamente.
- Agora todo mundo é especialista em anagramas e latim - desdenho, colocando o porta retrato na gaveta do móvel e sigo para a sala.
- Considerando sua forma de falar, você não se dá bem com a sua família - ele sorri de uma forma maldosa. - Bom saber.
- Não é que você é um gênio!? - rebato sarcasticamente, vendo mais quadros de Virsate espalhados pelas paredes, com todos os seus troféus de ouro e certificados. Paro em frente a um, onde minha irmã recebe o prêmio de miss simpatia. - Meus pais queriam uma coisa para nós duas, e eu fui esperta o suficiente para dizer não. Já minha irmã é burra, obedece feito um cachorro. E os cachorros são sempre mais amados que os gatos.
- Uh, problemas com o irmão privilegiado. Sei bem como é - sinto Loki ao meu lado, e vejo que ele observa o quadro comigo. - Ela parece ser mesmo o lado da família que deu certo, já você...
- Não é isso - ignoro o que ele diz, sem tirar meus olhos dos da minha irmã. - O mesmo foi oferecido para nós duas, mas eu prefiri seguir o meu próprio caminho. A estupidez dela me irrita - vejo pelo canto do olho Loki me olhar, incrédulo.
- Você poderia ter tido tudo isso aqui e, por birra, disse não?! - exclama.
- Me diga, Loki. Você gostaria de ser rei de Asgard se isso significasse nunca poder levantar o traseiro daquele trono? Seria rei se isso significasse que terá correntes nas suas mãos e pés para o resto da vida, seguindo as ordens de seus pais? - encaro ele, mas logo volto a olhar nos olhos verdes de minha irmã. - Eu quero ser grande, maior que eles. E não é os imitando que eu conseguirei isso.
Noto pelo canto do olho que ele me encara, em silêncio. Chuto a parede, deixando uma marca do meu solado, e saio andando em direção a sala de leitura. Merda, por que fui dizer tudo aquilo?!
- Sabe - começo, pensando lentamente, graças ao sono, em um assunto. - Eu pesquisei sobre você e gostaria de dizer: nojo.
- Achei que gostasse do charme de bandidos, assassinos e mentirosos - ele ironiza, revirando os olhos.
- Não quando eles transam com cavalos e têm potros de oito patas. Ou cobras e lobos gigantes como filhos. Sério? Não podia manter ele dentro das calças nem perto dos animais? - isso parece ofender ele, já que inspira tanto ar que penso que desmaiará.
- O que?! Que absurdo! Quem espalhou essa calúnia? - ele berra, com os olhos verdes brilhando como esmeraldas.
- Está tudo na Wikipédia, seu doente - rebato, cruzando os braços. Ele me lança um olhar descrente, e então fica inexpressivo.
- Claro que você pesquisou na internet. Por que seria diferente? - ele ajeita as mangas do terno, abotoando as pontas, cujas botoeiras percebo serem de ouro vermelho. - Não sei porquê pensei que você, uma mera mortal, teria ido atrás dos saberes antigos das disir, ou pedido emprestado a sabedoria do olho que tudo vê de meu pai, ou até mesmo usado um pedaço do cérebro de Frigg para enfiar nessa sua cabeça oca.
- Primeiro, pare de desvalorizar a raça humana. Sem humanos, sem pessoas para enganar, para roubar e para machucar - jogo meu cabelo por cima do ombro e o encaro. - E eu não existiria, ou seja, sua vida continuaria sendo monótona e infeliz.
- Na verdade, eu poderia muito bem fazer tudo isso sozinho - rebate Loki, passando as mãos pelo terno e o alisando. - Se eu quisesse.
- Não, não poderia. Segundo, se essas disir aí têm Instagram, me passa o @ delas para eu adicionar e nós trocamos uma ideia. Não gosto do gosto de cérebro com café.
- Você é realmente...
- E terceiro, todo o seu ó tão poderoso saber antigo, ao menos o que pode ser encontrado aqui na Terra, foi escrito por uns doidos de pedra que cheiraram algumas plantas e juraram que viram e ouviram vocês. E esse conhecimento foi reunido e passado para a nossa tão subestimada internet.
- Mas está errado. Eu não transo com animais - ele diz com a voz grave e séria, como se isso fosse fazer eu acreditar mais. - Não que eu lhe deva alguma explicação, já que esse seu cérebro mole de mortal não pode entender a magnitude dos poderes de um ser divino como eu - reviro os olhos e faço barulho de vômito, vendo os cantos de seus lábios tremerem. - Meus filhos partiram de maldições ou intenções sombrias que deram errado. Por exemplo Sleipnir. Apenas amaldiçoei um dos melhores corcéis para que ele servisse a mim e corresse mais rápido. Mas minha magia se voltou contra mim e ele ficou com oito pernas. É esse tipo de sorte que eu dou para as pessoas.
- Alivia meu coração saber que não estou trabalhando com um abusador de animais - coloco as mãos dramaticamente sobre o peito. - E espero não acordar com oito pernas quando te irritar - jogo uma almofada da poltrona para ele. - Se acomode no sofá. Vou procurar umas roupas para você dormir e não saia dessa sala - ele me olha como se eu tivesse sacado oito pernas para fora do vestido de repente.
- Eu sou um ser divino! Um deus imortal! Eu não durmo em sofás!
- Que bom, assim você vai sair com essa sua coluna divina dolorida e vai aprender a ter um pouco mais de gratidão - pisco para ele e saio balançando os quadris suavemente na direção do meu quarto.

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Almas Escuras {Loki}
FanfictionDaemi Munc é uma ladra compulsória que tem um trato com a polícia. Ela delata criminosos e eles livram ela dos pequenos roubos que comete. Sua vida de crime começa a perder a graça, até que Dae tem um sonho. No sonho, ela caminha pelo salão de Odin...