A tensão no recinto é palpável.
Para a morada dos deuses, esse lugar precisa de uma boa limpeza astral.
Cutuco minhas costelas recheadas e as batatas cozidas, observando o peru recheado em exposição, que mais parecia um avestruz banhado pelo próprio sangue. Engulo a bile, enjoado, e minha atenção é atraída pelo estalar dos talheres de prata. Daemi parece apreciar a comida com ódio, encarando Loki do outro lado do recinto com tamanha raiva que me pergunto como que a coxa de frango no prato de Dae ainda não atravessou a testa do deus.
Já Loki parece dedicado a evitar a encarada mortal de Dae, mais bebendo do vinho asgardiano do que comendo. E como se não bastasse, ambos ainda fazem questão de demonstrar que algo está acontecendo entre eles com bufadas e longos suspiros.
— Já chega — diz Loki, levantando da mesa e limpando os lábios no guardanapo. Ele encara Daemi. — Dá pra você parar de respirar?
— Não, mas você pode enfiar a cara no seu prato e enfiar molho nas calças — rebate Dae, e vejo o corpo de Loki retesar, pronto para obedecer. Mas sou mais rápido e tiro o prato do alcance dele.
— Já chega vocês dois! Se não vão contar o que está acontecendo, ao menos finjam direito — exclamo, bufando e deixando o prato de Loki na mesa. — Onde está o Aleks?
— Provavelmente traumatizado depois de quase ter uma noite romântica com uma certa sósia minha — responde Daemi, apontando um dedo acusador para Loki. — E ele ainda tentou matar ele!
— Pena que eu não consegui — diz Loki, com um suspiro, me fazendo arregalar os olhos. Ele desdenha com a mão. — Aleksander vai superar.
— Você... E ele... — sinto minhas orelhas quentes. Balanço a cabeça, tentando espantar a visão. — Loki, isso é errado.
— Loki, isso é errado — rebate Loki, com uma versão debochada da minha voz. — Eu sou o deus da trapaça, criatura imunda.
— Não é por isso que pode fazer o que bem entende — a voz de Odin me assusta, e eu sinto como se um relâmpago tivesse estourado na sala. Sua voz é estrondosa mesmo quando seu tom é calmo. Ele não está em nenhum lugar visível. — Pare de agir feito uma criança mimada, os dois. Temos que conversar.
Odin aparece magicamente atrás de Daemi e toca o ombro da garota, que dá um pulo do assento e quase enfia uma coxa de frango no olho bom do deus.— Trago más notícias — continua o Deus, inabalado. — Jormunadr começou a se desvencilhar do ciclo com mais rapidez.
— Alguém já se perguntou como ela se soltou do ciclo? — pergunta Loki, em voz alta. — Não pode ter conseguido uma proeza dessas sozinha. Deve ter tido ajuda de um Deus. Um traidor.
— Ou de um gigante poderoso — rebate Odin, encarando Loki com seu olho bom. O deus da trapaça finalmente parece sem palavras.
— Não acha que...
— É uma suposição, mas Farbauti teria a força suficiente para isso.
Daemi olha entre um deus e o outro, aparentando estar completamente perdida. Suspiro e esfrego os olhos por baixo das lentes. Amadores.— Farbauti é o pai de Loki. Um gigante de Jotunheim — Daemi me olha desconfiada pela certeza de minhas palavras e eu me ajeito, limpando a garganta e arrumando os óculos. — Pelo menos nos livros de mitologia que eu li era assim...
— Não foge muito da realidade — admite Odin, me lançando um olhar orgulhoso. Estufo o peito e sorrio, olhando Daemi rapidamente com uma expressão convencida, mas ela encara Loki.
— E o que ele ganharia com isso? Você sabe de alguma coisa? — Daemi pressiona, mas Loki parece realmente pálido, abalado com a notícia.
— É o que vocês irão descobrir ao nascer do sol. Por isso, tratem de dormir — diz Odin, com autoridade, repousando as mãos nos ombros de Dae. — Se recolham, os despertarei no alvorocer.

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Almas Escuras {Loki}
FanfictionDaemi Munc é uma ladra compulsória que tem um trato com a polícia. Ela delata criminosos e eles livram ela dos pequenos roubos que comete. Sua vida de crime começa a perder a graça, até que Dae tem um sonho. No sonho, ela caminha pelo salão de Odin...