Áttunda

11 2 2
                                    

Sinto como se meu corpo fosse feito de penas e a luz é tão intensa que eu preciso fechar os olhos com força, sentindo o peso unicamente nas pálpebras.
Eu grito, tentando alcançar Dae e Sarah no espaço vazio, finalmente conseguindo me mover. Meu corpo ganha gravidade novamente e sinto como de estivesse caindo em alta velocidade. Deus, se for para eu morrer agora, que seja rápido. Sem coragem para abrir os olhos, apenas me debato inutilmente no ar, até que atinjo algo macio e terreno.

Tento recuperar o fôlego, sentindo como se meus órgãos fossem sopa dentro do meu corpo, e me sinto nauseado. Minha cabeça gira e me esforço para abrir os olhos, enquanto minha pulsação volta aos poucos ao normal. Encontro Dae e Loki já de pé, olhando ao redor, enquanto Sarah ainda está encolhido no chão, parecendo gritar sem voz. Toco o piso abaixo de mim, gelado e duro, ao contrário do que caí segundos atrás. Será que eu estou morto?

Tomo ciência dos meus arredores. Não estamos mais na rua Trivial, no orelhão amarelo, ou sequer no plano terrestre. O lugar a minha volta passa um ar de impotência, poder e magia. Ou talvez eu só tenha atingido a cabeça com força.

Colunas de cores metálicas variadas e padrões estranhos se erguem dos dois lados do corredor extenso onde estamos, segurando o teto que parece estar a quilômetros acima da minha cabeça, impossibilitando que eu veja com clareza os desenhos e formas. Painéis, que eu presumo serem de lã cosida com pele de animal, exibem cenas de luta e figuras majestosas e cobrem as paredes atrás das pilastras. O que parecem ser estátuas de divindades carregam panos pesados e escuros em frente ao que devem ser as janelas, tornando tudo mais escuro.
Bem à nossa frente, uma sutuosa escadaria leva até um ainda mais suntuoso trono, feito de chifres de veado colossais, com uma manta de pele cobrindo parte das costas e o assento, escorrendo até um pouco abaixo dos degraus. Duas estátuas de lobo-gigante descansam ao lado de ambos os braços da cadeira, e dois corvos estão em uma ramificação do encosto, crocitando suavemente. Pisco, ainda atordoado com tudo, e tento formular algum pensamento que faça sentido.

— O que...? Onde nós...?

— Loki é seu nome verdadeiro! — exclama Sarah, apontando um dedo acusador para Loki, já sentado, e ajeitando os óculos com a mão livre. — Estamos em Asgard!

— Vocês não estavam nos planos, midgardianos — diz Loki, olhando para nós por cima do ombro com escárnio. — Mas sim, estamos em Asgard.

— Olha só você, mal voltou para casa e já tem todo o gingado asgardiano — zomba Dae, sem tirar os olhos do trono.

— E como viemos parar aqui?

— Que plano? — pergunto ao mesmo tempo que Sarah, e levanto do chão, sentindo as pernas bambas.

— Não interessa, midgardianos — rebate Loki, voltando a olhar para a frente. — Esse salão nunca está vazio e quieto, e essas janelas nunca estão fechadas.

Dae ao lado dele parece concordar e se aproximar com cuidado do trono, como se esperasse uma emboscada. Arranjo forças para me erguer, quase caindo em Sarah, que levanta lentamente do chão. Alcanço Daemi e seguro seu braço antes que ela se afaste mais.

— Espera, Munc, que história é essa? — indago, nervoso. Minha voz ecoa pelo salão. — Onde estamos de verdade? Quem é ele?

— Aleksander, Sarah, eu vos apresento o digníssimo deus nórdico da trapaça e das mentiras, Loki Laufeyson — diz Daemi, soltando seu braço de meu aperto e fazendo uma reverência exagerada. Loki parece gostar da nomeação.

— Por que eles não estão me reverenciando e me aceitando como seu deus? — indaga Loki, olhando para mim e para Sarah com seu habitual olhar de desprezo.

Almas Escuras {Loki}Onde histórias criam vida. Descubra agora