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Suzane

Vim em pé no ônibus e cheia de ódio, engarrafamento hoje tava sincero e eu só querendo chegar em casa, tem que ter muita fé em Cristo pra sobreviver a uma parada dessa.

Fiquei parada na Brasil um tempão, desci no meu ponto e ainda andei um pouco pra chegar no acesso, a sorte é que um dos moto táxi é meu primo né !? Hoje o bofe tava disponível.

Bill - Tua sorte hein Suzi !? Já tava metendo o pé _ falou quando eu subi na garupa.

Suzane - Sorte nada, vou logo na direção da minha tia! _ respondi e ele riu.

Bill ainda deu um bom rolê comigo e depois me deixou aqui no portão.

Suzane - Valeu nego!

Bill - Valeu _ buzinou e saiu voado com a moto.

Entrei em casa, tudo arrumadinho, roupa cheirando a sabão em pó no varal, já comecei a estranhar, Leandro é do tipo de homem que se faz de dona do lar por interesse.

Leandro - É tu pretinha ?

Suzane - Uhum!

Vim filmando tudo, cada cômodo arrumadinho, perfumado, banheiro limpo do jeito que eu gosto.

Suzane - Quê que tu tá querendo hein !? _ falei com as mãos na cintura.

Ele riu e já veio todo cheio de artimanhas pro meu lado, fui logo me saindo porque sei que a facada vem agora.

Leandro - Aniversário da minha mãe hoje pô, quer ir comigo não ?

Suzane - Tu já sabe a resposta né !? _ falei e fui tirando a roupa pra tomar banho.

Leandro - Porra Suzi, minha mãe já até te pediu desculpa e tu tá nessa ? _ reclamou e eu resmunguei.

Nem dei confiança, virei de costas e fui tomar meu banho, tem hora que não dá não.

Meu lance com a mãe do Léo já vem desde quando a gente decidiu morar junto, tudo ela dava pra trás sabe ? Deu a entender que eu não era mulher pra ter uma coisa séria com o filho dela, que eu ia explorar o menino de ouro.

Mas namoral, que mulher em sã consciência explora homem pobre ? Vou explorar e encontrar o que ? Boleto ?

Ahhh, palhaçada!

Quem vê acha que o Leandro tem quinze anos e eu trinta, na boca dela eu viro uma papa anjo, mas na real eu sou mais nova que o filhinho querido.

Ele tem vinte e quatro, eu vinte e um, mas se juntar dá tudo a mesma merda. 

E com isso eu peguei um certo abuso dela, não destrato, só falo o básico e quando vem na minha casa trato logo de despachar.

Mas hoje eu não tenho pra onde fugir, se tivesse lembrado podia inventar um extra, um cerão de última hora, podia falar que minha mãe passou mal e eu vou ter que dormir com ela, só que não deu né !?

O jeito é se arrumar e ir, fico mal de negar as coisas pro Léo, porque as vezes eu nem falo e ele já tá lá fazendo por mim.

Então, eu me arrumei, tirei minha marmita da bolsa, lavei e saí com o Léo.

Laje da mãe dele não tinha lugar pra pôr um dedo, as tias deles todas aqui, um salseiro só.

Pai dele é meu fechamento, viu que eu cheguei e já preparou a russinha, seu Antônio é maravilhoso, fecha juntinho na hora de beber uma breja.

Bebi a cerveja e depois fui cumprimentar o pessoal, minha sogra ficou toda serelepe, montou minha marmita e a do Léo, puxou um assunto e eu respondi numa boa.

Nem deu pra gelar muito porque amanhã eu trabalho, bebi uns quatro latões e fiquei no meu canto, tava doida pra ir embora, mas fazendo cara de quem tava achando tudo maravilhoso.

Clarice - Tô muito feliz, filho criado, casamento bom, só faltou um netinho pra completar de vez! _ falou e o Léo riu.

Eu ri sem gosto né !? Vinte e um aninhos de maluca e ela quer parar meu trem ? Duvido!

Injeção em dia tá aí que não me deixa mentir, tenho todo um cuidado pra isso não acontecer agora, quero sim, mas num futuro distante.

Quando ele falou "vamos embora" eu só faltei pular, me despedi do pessoal, falei uma última vez com a minha sogra e saí de lá, eu, meu namorido e a marmita.

Suzane - Tu vai me pagar caro neguinho! _ falei e ele riu.

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23/07/2021

Ruínas - FinalizadoOnde histórias criam vida. Descubra agora