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Semanas depois

Leandro

Aos poucos a ficha tá caindo, tô começando a prestar atenção em tudo que aconteceu. Esse tempo que eu fiquei lá dentro, criei uma versão estendida da minha realidade tá ligado ?

Uma versão que me agradava, que me iludia de como as coisas seriam depois que eu saísse. Pensava na minha família, nos meus amigos, na minha ex, mas nunca no que seria a minha vida depois desse furacão.

Viver em função de uma coisa só o tempo todo sempre te fode no final, tô sem rumo, sem um norte.

Parece que foi ontem que eu tinha um destino todo traçado, ser engenheiro, casar, ter uns moleques, sair daqui do alto e levar minha família comigo.

Mas esses sonhos morreram com aquele Leandro. Ser fichado trouxe um outro lado meu, continuo vendo a possibilidade de uma vida honesta, mas não como antes.

Na real mesmo ? Sei nem por onde começar!

Lá dentro eu revivi os meus tempos de moleque, com muito menos recursos do que tinha aqui fora dava uma moral no cabelo dos caras pro dia de visita íntima, era simples, mas ficava aulas.

Acabei contando isso semana passada pro Darlan e ele se amarrou na ideia, e hoje ele falou que tava parecendo um mendigo e que ia trazer a máquina pra eu dar uma moral.

Tava de bobeira mermo, botei uma cadeira da cozinha aqui na varanda, peguei o espelho do quarto da minha mãe e sentei aqui no portão pra esperar meu compadre.

Veio ele e uma porrada de moleque da antiga, sabia que o Darlan tava fazendo aquilo pra me distrair, tava virando escravo da minha mente já.

Darlan - Dá um tapa aí parceiro!? _ sentou na cadeira e eu peguei a máquina.

Leandro - Qual corte cria ?

Darlan - Aquele americano de lei...

Darlan - Jaé...

Fui cortando, quando terminei levantei o espelho pra ele ver o resultado, ficou namoral, preto é chato e tem talento.

Minha mãe parecia que ia chorar, não tinha contado pra ela que tinha saído da vida ainda, tava procurando a palavra certa, mas quando dona Clarice chegou na varanda e viu várias cabeça esperando pra dar um tapa no corte não precisou nem de contar nada.

Foi um desenrolado firme, os caras não aceitaram muito bem não, me perguntaram várias vezes se era aquilo mermo que eu queria, que não ia ter mais volta e outras coisas.

Mas fui firme na minha decisão, a história deixou a muito tempo de ser só Léo, agora sou eu e a Esther, minha família, meu tudo. Fui egoísta no início, falei que não tinha nada a perder, mas ela tem, minha filha não pode crescer sem pai.

Entrar pro movimento é bem fácil, se tu tiver agilidade e disciplina logo tá portando arma, mas desapegar do status, da luxúria e do poder é bem difícil, é bem mais do que quem tá de fora imagina!

Darlan - Toma! _ botou vinte reais na minha mão _ Trabalho bem feito tem que ser pago, é ou não é rapaziada ? _ perguntou e todos responderam em uníssono.

Leandro - Precisa disso não filho da puta!

Marcinho - Precisa sim! _ botou o dinheiro na minha mão também.

Sei que nessa brincadeira eu ganhei um dinheiro bom, um novo recomeço.

Comprei até umas besteirinhas pra minha cria, pra trazer ela de lá da casa da vó materna foi um sacrifício, grudada com o pessoal de lá que só.

Vi a Natasha no caminho, ela mexeu com a Esther, mas comigo mesmo não falou e eu não insisti.

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04/09/2021




Ruínas - FinalizadoOnde histórias criam vida. Descubra agora