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Leandro

Ontem passei o dia com a minha filha, melhor forma com a bolota. Sempre passo meu tempo com ela, dou carinho, porque eu nunca sei qual vai ser a última vez que a Esther vai me ver.

Tô partindo pra missão hoje com o coração apertado, nem falei nada com a minha mãe, contei só pro meu pai e pronto, coroa é mais resistente pra essas coisas.

Fabinho tá todo escaldado, acabou de descobrir que vai ser pai, mano tá todo feliz, maior love com a mulher dele.

Por um momento eu lembrei da Suzi, imaginei como seria se a nossa história tivesse sido diferente, sempre vejo ela nos meus sonhos com um barrigão sabe ? Bagulho louco mermo.

Dia nem amanheceu e eu já tô na rua, negócio vai ser cedo pra não ter suspeita.

Fabinho - E aí ? _ fez toque comigo _ Tô nervosão mané!

Leandro - Fica tranquilo pô, vai dá certo!

Fabinho - Tu já entrou nessa com o sangue frio pô, consigo não.... _ falou e eu ri.

Leandro - É só não pensar muito nessas paradas, pensa só na missão! _ falei e ele assentiu.

Puxei o terço de dentro da blusa e fiz minha oração, Fabinho fez a dele também.

Leandro - Tu só não pode demonstrar nervoso lá na pista, se a polícia parar a gente tu tem que ficar tranquilão.... _ dei conselho.

Fabinho - Jaé pô, minha mina tá grávida, só penso nela....

Leandro - Tu não acha que eu não penso na minha filha não ? Ó ela aqui! _ levantei a blusa mostrando a tatuagem com o nome da minha filha no peito _ Tá marcada em mim pra sempre!

Deco chegou de carro e a gente entrou, partimos pra pista e quando vi a gente já tava pra lá da Dutra.

Deco - É o seguinte, a carga tá com um amigo meu, vai vim intocada dentro do ônibus de turismo e a gente vai escoltar, bagulho simples, as filhas dele vem com a gente pra não levantar suspeita! _ falou enquanto dirigia.

Ali eu já entendi tudo, o cara é laranja dele e com certeza já não deve tá querendo mais participar, aí ele deve ter mandado alguém pra pegar as filhas do cara e fazer ele cooperar, caralho!

Fabinho só me olhou, menor tava escaldado e no fundo eu também, só não tava querendo deixar transparecer por causa dele.

Chegamos na garagem de uma empresa de ônibus de turismo, o cara já tava esperando a gente com a carga e com as filhas dele.

Deco - Grande Gerson! _ bateu nos ombros do cara _ Tá tudo pronto ?

Gerson - Tá sim, teus capachos já vieram esconder tudo e foram embora!

Deco - Ótimo, vou só ver se tá tudo certo, vem comigo Zangado, Fabinho fica aí pra fazer companhia pro meu amigo e as filhas dele! _ passou a mão nos cabelos de uma das garotas.

Esse cara me dá nojo, mas ele é meu chefe, não posso vacilar. Subi no ônibus com o Deco, ele olhou tudo e quando a gente ia descendo eu tomei uma rasteira.

Nunca se pode virar as costas pro seu inimigo e eu falhei justamente nisso!

Eu apanhei, mas bati muito também, nós dois rolando na terra, teti a teti firme, porque aqui é sujeito homem.

Deco - Perdeu moleque, tu achou que ia me ferrar né !? Antes de chorar minha mãe chora a tua primeiro! _ apontou o revólver pra minha cabeça.

O plano com o Dodô era matar o Deco nessa "viajem", me vingar dele da melhor forma e depois a gente via como ia ficar, mas parece que ele sacou antes que eu só tô atolado nessa lama pra poder vingar a minha mulher. 

Fabinho - Quem perdeu foi tu, filho da puta! _ chegou por trás e apontou o revólver na cabeça dele _ SAÍ DA RETA PORRA! _ eu saí debaixo e ele apertou o gatilho.

Porra, já tinha visto gente morta, mas nunca tinha visto uma pessoa matar a outra tão de perto. Nunca me senti tão bem diante da morte de alguém.

Leandro - E o cara com as filhas ?

Fabinho - Tranquei dentro de um quartinho ali! _ apontou e eu suspirei aliviado.

Leandro - Quê que a gente faz com esse merda ? _ chutei o corpo do Deco.

Fabinho - Liga pro Dodô pô, dá o papo reto!

Liguei pro Dodô e justamente naquele momento ele tava com os roncas, tudo estratégia, mas pra quem vê de fora é mera coincidência.

- Fala pô, tá no viva-voz!

- Deco armou pra gente pô, me encurralou aqui no bagulho, queria botar a traição na conta da gente e o Fabinho mandou ele pro inferno! Quê que eu faço com o presunto ?

- Onde vocês tão ?

- Naquele lugar pô...

- Despacha num buraco desse aí e mete o pé, traidor não tem lugar certo.

Fabinho tava estranhão, primeira morte do cara pô, até entendo, mas ele não arregou não, entocou o corpo daquele bosta comigo, botou na mala do carro e foi pro ônibus.

O mano veio dirigindo o ônibus na frente e eu de carro atrás, fiquei mó apreensivo na hora de desovar o corpo do Deco, precisei tirar força do nada, mas consegui.

Desci a serra orando a Deus, o que eu fiz não foi certo, mas Ele é o meu protetor, é o que nunca me abandona na hora que eu mais preciso, só posso confiar Nele.

Chegamos na favela antes do almoço, entreguei a carga junto com o Fabinho e fui correndo pra casa da minha mãe, ver minha filha.

Porra, quando eu abracei a Esther o mundo desabou, subi pra laje da minha mãe e chorei igual criança com a minha filha nos braços, parece que agora a ficha tá caindo.

Agora as coisas vão mudar de figura, vai ser o certo pelo certo, exatamente como tinha que ter sido no início!

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20/08/2021

Ruínas - FinalizadoOnde histórias criam vida. Descubra agora